Por Pe.
Edilberto Sena*
Quem fala a
verdade não merece castigo. Quem está falando a verdade, o governo federal e seus comandados, ou os povos do rio
Tapajós? Dizem que contra fatos não vencem argumentos, por mais
retóricos que sejam.
Então eis os fatos:
No dia 15 de fevereiro escrevemos uma
matéria via IHU denunciando as falácias do governo federal: “O governo federal
mente quando diz que vai construir sete usinas no rio Tapajós, sem
prejudicar o ambiente e os povos que aqui habitam. Pagam recursos públicos
para pesquisadores e ONG’s chegarem aos ribeirinhos e ao povo
Munduruku dizendo que as barragens virão de um jeito ou de outro e quem
aceitar e se cadastrar será indenizado de seus prejuízos, porém, quem não
aceitar sairá de mãos vazias, ou morrerá afogado nos lagos a serem
formados”.
Na semana de 18 a 22 deste mesmo mês, um grupo de
líderes Munduruku esteve em Brasília conversando com comandados da Presidente
da República, Edson Lobão, Ministro Dutra e o
Secretário da Presidência, Gilberto Carvalho. O Jornal “O Globo” (22.02)
esteve registrando o tal diálogo e publicou o seguinte:
“Os índios vieram trazer uma lista de
reivindicações à presidência e se recusavam a entrar no Palácio. O Globo
testemunhou o diálogo entre Gilberto Carvalho e um integrante da tribo (o
jornal ainda vê o povo Munduruku como tribo, grifo nosso). O debate
aconteceu na divisa entre a entrada do Planalto e o lado de fora:
“Vocês têm duas opções, disse o Secretário
Carvalho: uma delas é inteligente,
é dizer ok, nós vamos acompanhar, vamos exigir nossos direitos, vamos exigir preservação e benefícios para nós. A outra é dizer não. Isso vai
virar, infelizmente uma coisa muito triste e vai prejudicar muito a todos, ao governo, mas também
a vocês. A hidrelétrica a gente
não faz por porque quer, mas porque o país precisa”...
O líder
Munduruku respondeu: “A natureza também o país precisa”.
Continuou o Secretário: “Eu não quero enganar,
nós vamos fazer tudo dentro da lei, vamos fazer as oitivas e as
audiências...”
O índio finalizou dizendo: “Tem que olhar o nosso
lado... nós viemos na casa de vocês, mas nossa área(lá no Tapajós) é
a nossa vida”.
Com o ministro Cardoso da Justiça os Munduruku
foram cobrar apuração do assassinato pela Polícia Federal de um parente
jovem, em Teles Pires. Eis parte de diálogo:
“O ministro da Justiça (José Eduardo Cardozo) veio
falar em diálogo. Vocês (governo federal) são os primeiros a quebrar
o protocolo e agir com violência. Queria ver se tivesse sido um índio
a ter matado um agente da Polícia Federal... queria ver se ele
estaria solto”, declarou Tarabi Kayabi, depois do ministro Cardozo
dizer que espera “um diálogo franco e fraterno” com os indígenas e
que “tudo está sendo apurado com rigor e imparcialidade”.
O grupo Munduruku esteve conversando no mesmo dia
com o Ministro Lobão das Minas e Energia (IUH, 22.02). Na mesa, os projetos das hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e de
Jatobá, dois dos maiores projetos de geração previstos pelo governo. Eis a
afirmação dele: Lobão foi firme. Disse aos índios que o governo
não vai abrir mãos das duas usinas e que eles precisam entender isso.
Valter Cardeal, diretor da Eletrobrás que também participou da
discussão, tentou convencer os índios de que o negócio é viável e de
que eles serão devidamente compensados pelos impactos. Os índios
deixaram a sala.
Diante de tais testemunhos, como é que o Consórcio
“Grupos de Estudos Tapajós", tem a coragem de desmentir os argumentos
de nosso artigo publicado no IHU? Eis o que diz o tal grupo (IUH, 23.02):
1) A Eletrobras e a Eletronorte fazem parte de um
grupo de nove empresas que estão realizando em conjunto os
estudos ambientais e de viabilidade a fim de estabelecer SE a construção
da hidrelétrica São Luiz do Tapajós na região é viável, e se sim, qual
seria a melhor forma de construí-la com o menor impacto
ambiental. O objetivo deste grupo, denominado Grupo de Estudos Tapajós e
composto pelas empresas Camargo Correa, Cemig, Copel, EDF, Endesa Brasil,
GDF SUEZ e Neoenergia, além da Eletrobras e da Eletronorte, é
de realizar os estudos ambientais e de viabilidade técnica e
econômica desta e da usina de Jatobá, também no rio Tapajós. Os estudos
ambientais estão sendo realizados conforme a legislação em vigor e
fiscalizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis.
A ideia é que, caso sejam viáveis, as usinas sejam
construídas dentro do conceito de usina-plataforma, que estabelece a
implantação com menor impacto ambiental e a recomposição total das
áreas que não forem utilizadas pelo empreendimento, bem como a
restrição de formação de comunidades no entorno. Por esse conceito, as usinas ficam
isoladas e atuam como um marco de preservação e conservação da região.
2) A reunião realizada no dia 9 de fevereiro de
2013 em Vila Pimental foi promovida pela Diálogo Tapajós com o objetivo
de apresentar as principais informações sobre os cadastros
socioeconômico e fundiário.
A Diálogo Tapajós não é uma ONG, mas sim uma
empresa contratada pelo Grupo de Estudos Tapajós para tratar da
comunicação com a comunidade da região. O Conselho Comunitário local, composto
por seis lideranças da Vila, e os demais moradores receberam informações
sobre a importância dos cadastros socioeconômico e
fundiário, com início previsto inicialmente para 15 de fevereiro, na Vila Pimental.
3) Não
partiu da Diálogo Tapajós nem da Eletrobras a informação de que "quem não fizer seu cadastro não será indenizado"
e de que a "barragem sairá de qualquer jeito". Os estudos estão
sendo realizados para avaliar se a usina é viável ou não. O Grupo de
Estudos Tapajós é o responsável apenas pela realização dos estudos,
não pela construção da usina."
Agora temos aqui o relatório presencial de quem
esteve na Comunidade Pimental no dia 09 de fevereiro passado na reunião com a empresa Diálogos Tapajós. Eis o resumo do relato de Jesielita Roma
do Movimento Tapajós Vivo de Itaituba:
"O objetivo é defender os direitos da comunidade,
não é o MAB, não é a Diálogos e nem um movimento e sim, a comunidade
por isso que eles estão reunidos para ganhar força e isso só
acontece se a comunidade apoiar o conselho.
O apresentador pediu autorização para tirar fotos
e filmar os moradores, e a comunidade autorizou.
O Gil, explicou quais as etapas e em que etapa se
encontra hoje (2009 a 2010) estudo do EIA, está pela metade, se não
tiver nenhum atraso termina em maio de 2013. Explicou até o final do
plano. A audiência pública está prevista para acontecer no final de
2013, o RIMA fica pronto em setembro e outubro de 2013 (Talvez
quem vem participar do
leilão é um grupo Chinês, o mesmo que vai construir
a ferrovia Mato Grosso-Itaituba, será coincidência?, ou coisa da
minha imaginação?) LI – Licença de Instalação está previsto para 2016.
Depois de muitas conversas o que eles queria era
apresentar a empresa. quem vai entrar na comunidade para fazer os
levantamentos que é o IBOP E CARTA – Cartografia Agrimessura Ltda. (Norte Energia escrito na manga da camisa).
Explicaram que esse cadastro é uma luta dos
movimentos sociais, não é por acaso que esses cadastros estão acontecendo.
Leram o Decreto n° 7.342 de 26 de Outubro de 2010. Portaria
Interministerial n° 840 de Julho de 2012.
No final de tudo, informaram que a data de entrada
do IBOP na comunidade é a partir dia 15 de Fevereiro. O
IBOP vai realizar o Cadastro sócio econômico, não é pros moradores
deixar de da nenhuma informação, RG, CPF, deixar fotografar etc... O
Georeferenciamento quem vai realizar é a CARTA nas pessoas do Jair e do
Neto.
Uma informação que eles deixaram bem claro, quem
paga indenização e a empresa que vai construir a hidroelétrica, não é o
governo."
Como pode agora o Grupo de Estidos Tapajós, que é
um consórcio composto pelas empresas Camargo Correa, Cemig,
Copel, EDF, Endesa Brasil, GDF SUEZ e Neoenergia, além da Eletrobras
e da Eletronorte, explicitado pela matéria contestatória de nosso
artigo em IHU, querer desmentir os fatos comprovados acima?
Quer iludir a quem?
Aos que não acompanham os acontecimentos do
programa criminoso do PAC hidroelétrico na Amazônia?
Lamentavelmente elegemos um governo, na ilusão de
que seria mais democrático do que o candidato do PSDB.
Vemos que não temos mais escolha nas próximas eleições. Se correr o bicho
pega, se parar o bicho come, ou melhor, destrói a Amazônia. Então,
em vez de parar ou correr, temos que nos juntar aos conscientes
Munduruku para enfrentarmos o monstro.
Mas os e as brasileiras que veem as mentiras do
governo e seus hipócritas, Lobão, Gilberto Carvalho e
Ministro Dutra, e são contrários a eles respeitam os direitos dos povos
da Amazônia e do Tapajós em particular, precisam se decidir e
se juntar a nós.
Ficar indiferente é tão criminoso quanto o Grupo de Estudos
Tapajós e os comandados da presidente.
*Membro do Movimento Tapajós Vivo, Santarém, Pará.