O
presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, referendou acordo
entre os líderes de bancadas, com apoio do líder do governo, para aprovar, no
plenário, requerimento de urgência para votar o Projeto de Lei Complementar
(PLP) 227/2012.
O PLP, de autoria do
deputado Homero Pereira(PSD/MT), que também é vice-presidente da Confederação NAcional
da Agricultura (CNA), permite que, dentro de Terras Indígenas, sejam feitos
assentamentos de reforma agrária, distribuição de terras a fazendeiros e
mantidos aqueles posseiros “de boa fé”.
Em abril deste ano, Henrique
Alves havia decidido instalar uma comissão especial para emendar a Constituição
e submeter ao Congresso as demarcações, e com isso elas ficariam virtualmente
paralisadas. Representantes indígenas que se encontravam em Brasília para
participar das atividades da Semana do Índio, ocuparam o plenário da Câmara
para protestar. Henrique Alves comprometeu-se, então, a constituir uma comissão
de negociação e a não colocar em votação a proposta atentatória aos direitos
constitucionais indígenas.
Agora, sem qualquer aviso prévio ao público ou à própria comissão de negociação por ele mesmo criada, apoiou, respaldado pelo governo, a votação de urgência para outra proposição, muito mais grave que a PEC 215, pois afeta inclusive terras já demarcadas. Nos bastidores do Congresso Nacional, consta que o apoio da bancada do governo à proposição decorre do trabalho liderado pelo Advogado Geral da União, Luis Inácio Adams, e pela Ministra da Casa Civil, Gleisi Hofmann. Com hipocrisia inédita, o governo Dilma chama os índios para conversar e, ao mesmo tempo, dá uma facada em suas costas.
A manobra urdida entre
ruralistas, membros do governo e o presidente da Câmara provocou forte
indignação de representantes indígenas que foram trazidos a Brasília para um
encontro com a presidente Dilma Rousseff. A audiência havia sido marcada com a
intenção de atenuar o descontentamento dos índios, no contexto de várias outras
conversas que a presidente vem mantendo com outros segmentos da sociedade em
consequência dos protestos que tomaram as ruas das cidades brasileiras nas
últimas semanas.
Porém, como a manobra se deu
com a cumplicidade das lideranças do governo, promete azedar a conversa da
presidente com os índios e poderá suscitar reações futuras contra o Congresso
Nacional.
Fonte: ISA – Fotografia: Agência
Brasil