domingo, 7 de julho de 2013

#protestobr - Análises

Ao invés de notícias sobre os protestos no país, publico hoje vários artigos de intelectuais brasileiros de vários matizes de esquerda que refletem o atual momento político. São visões sobre aspectos e momentos distintos dessa luta, ora complementares, ora opostos, que ajudam a dar um panorama de como pensam as organizações ou grupos as quais esses intelectuais se vinculam ou militam. Por questão de espaço, há apenas um pequeno trecho de cada artigo e o link do local onde o documento está originalmente publicado e pode ser lido na íntegra.

Manifestações massivas no Brasil têm origem na esquerda
Para não incorrer no erro criticado, busco examinar inicialmente os sujeitos que realizaram a convocatória do que pode ser considerado o estopim das manifestações: o abusivo preço das passagens de ônibus, cujo Grito (nos termos de J. Holloway (1)) foi difundido pelo Movimento do Passe Livre (MPL), colocando brevemente em relevo as formas de organização, suas alianças, suas formas de luta, suas consignas e o modo como suas reivindicações são recepcionadas pelos governos. Pretendo, a seguir, esboçar proposições para tornar pensáveis o acolhimento das convocatórias por parte de um imenso contingente que, até o momento, ainda não havia protagonizado um movimento de massas.

O estudo, ainda preliminar, é uma má notícia para os “intelectuais” a soldo dos jornalões e das televisões. O exame das lutas no período 2004-2012 registradas no Observatório Social da América Latina (OSAL (2)), infelizmente encerrado em 2013, permite concluir que o movimento que vinha empunhando a luta contra as tarifas extorsivas que serviu de deflagrador das grandes manifestações em curso no país possui origem na esquerda e, mais do que isso, as manifestações não existiriam sem a esquerda. O MPL, embora autônomo frente aos partidos, é de esquerda e interage com os partidos de esquerda (3). Ao longo da década de 2000, empreendeu lutas com sindicatos e movimentos sociais e tem objetivos afins aos que empreendem lutas no mundo do trabalho.

Leia o artigo de Roberto Leher publicado no sítio do Correio da Cidadania.



X-Tudo: uma rebelião contra o vazio
O título acima poderia ser uma expressão depreciativa para se referir à pluralidade das reivindicações que emanam das manifestações de rua das últimas semanas. Numa concepção política clássica, o foco seria fundamental para potencializar o efeito político da mensagem e as suas chances de influenciar decisões ou mudar o rumo das coisas.

Mas não se trata de depreciação, ao contrário, pois o “tudo” é o “X” da questão, pela simples e boa razão de se contrapor claramente ao nada. É uma forma potencialmente unitária de questionar o vazio político monumental gerado pela diluição de toda e qualquer referência programática ou doutrinária e pela adesão e cooptação das principais forças políticas do pós-ditadura ao modo de ser corrupto do sistema.

As pessoas que têm ido às ruas não querem a naturalização dos sofridos avanços políticos e sociais conquistados nesse período como se fosse “o possível”, numa lógica maniqueísta do tipo “é isto ou andar para trás”. Como se o misto-quente do bolsa-família com empreiteiras de obras públicas fosse uma espécie de fim da história.

Leia o artigo de Márcio Santilli no sítio do Instituto Socioambiental



Contra as tramóias da direita: sustentar a Dilma Roussef
Então, se devemos criticar a nossa classe política por ser corrupta e o Estado por ser ainda, em grande parte, refém da macro-economia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e senso de medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se aproveita desta crítica, não para melhorar a sociedade em benefício do povo que grita na rua, mas para resgatar seu antigo poder político especialmente, aquele ligado ao poder de Estado a partir do qual garantia seu enriquecimento fácil. Especialmente a mídia privada e familiar, cujos nomes não precisam ser citados, está empenhada fevorosamente neste empreitada de volta ao velho status quo.

Por isso, as demonstrações devem continuar na rua contra as tramóias da direita. Precisam estar atentas a esta infiltração que visa a mudar o rumo das manifestações. Elas invocam a segurança pública e a ordem a ser estabelecida. Quem sabe, até sonham com a volta do braço armado para limpar as ruas.

Dai, repetimos, cabe reforçar o governo de Dilma, cobrar-lhe, sim, reformas políticas profundas, evitar a histórica conciliação entre as forças em tensão e o oposição para juntas novamente esvaziar o clamor das ruas e manterem um status quo que prolonga benefíciois compartilhados.

Leia o artigo de Leonardo Boff em seu blog. 


Nas Jornadas de Junho a juventude votou com os pés
Um dos traços fundamentais da nova situação aberta neste “inverno do nosso descontentamento” brasileiro, para lembrar o fascinante romance de John Steinbeck sobre a situação nos Estados Unidos nos anos de depressão após a crise de 1929, é que a mobilização das massas está em relativo descompasso com a consciência. A ação é mais avançada que a consciência. Muito mais avançada, na verdade.

As massas juvenis nas ruas sabem muito melhor o que não querem do que aquilo que querem. Todas as experiências históricas confirmam que a primeira onda de uma revolta começa na forma do Não! Basta! Chega! Mas esse momento é só o começo. São as mobilizações populares que abrem a possibildade de mudar as sociedades. A evolução da consciência dependerá da luta política. Por isso as responsabilidades da esquerda aumentam.

Na semi-insurreição na Argentina em 2001, a forma da revolta popularizou o Que se vayan todos(ou Fora Todos) para expressar a indignação, repúdio e desprezo por todos os partidos eleitorais do regime que se alternavam no poder, mas mantinham a mesma política. O que ajuda a entender o descompasso entre o ódio às formas que assume a dominação, seja o regime político uma ditadura, como no norte da África e Médio Oriente a partir de 2011, ou democracias eleitorais, como na Grécia, Espanha ou Portugal em 2012, é que a raiva amadurece mais rápido que o apoio a uma alternativa política anticapitalista.

Leio o artigo de Valério Arcary no Blog Convergência


Brasil: crises, combates e perspectivas

A tentativa da esquerda de participar com colunas próprias (“vermelhas”) nas manifestações na Av. Paulista foi literalmente repelida a pauladas. Os manifestantes não apreciaram a tentativa de diferenciação da esquerda de se fazer guia do movimento. A esquerda replicou exigindo o direito de participar das manifestações com as suas próprias bandeiras. Mas tudo isso é pura distração, porque a esquerda não se fez conhecer através de uma pauta própria, e isso é dizer que se distanciou do movimento. Não disseram nem um pio sobre a constituinte, quando a burguesia a rechaça com o enfoque de que as constituintes são convocadas apenas quando se rompe um regime político e se pauta a criação de um novo. Alguns da “esquerda progressista” (intelectuais sem partido, aliados do PT de todo tipo) chegaram a denunciar todas as manifestações como armações da CIA contra o governo do PT, em um artigo amplamente traduzido e difundido por sites e redes chavistas e “progressistas” do continente (“O Protesto Brasileiro da última semana”, por Tamia Jamardo Faillace, Alai-Amlatina). No último fim de semana, Lula saiu de seu mutismo para dizer que é preciso estar nas ruas para “empurrar o governo para a esquerda”.

A mobilização das ruas é cada vez mais generalizada; a greve geral nacional do dia 11 de julho, convocada por todas as centrais sindicais, é uma tentativa clara de recuperar as ruas para as agendas populares do governo, que se encarregariam logo de desmobilizar a rebelião. Um boicote ao plebiscito poderia reacender o movimento e provocar a queda do governo e as eleições antecipadas. Pode até dar uma plataforma nacional e um novo escalão político ao movimento das ruas. O Egito também ajuda.


Leia o artigo de Oswaldo Coggiola no Correio da Cidadania 


A presidente está nua
As manifestações apresentaram fortes lições para as organizações que se reivindicam da esquerda revolucionária. Naufragam espetacularmente as alimentadas ilusões da autoproclamada vanguarda de conquistar, apoiada em consignas e programas iluminados, a direção das massas em marcha. As populações apoiam-se nas lideranças, organização e consciência que possuem, ao iniciarem sua marcha. Quem não conquistar representação substantiva do movimento social, antes de ele pôr-se em movimento, será mantido à sua margem ou arrasado por seu impulso.
Acima de tudo, milhões e milhões de brasileiros foram atraídos para a política, mesmo quando a desqualificavam, ao participarem direta e indiretamente nas mobilizações de junho. Rompeu-se poderosamente o comodismo, a descrença, o individualismo, a despolitização, a alienação, cultivados carinhosamente pelas classes dominantes através de seus administradores, parlamentares, partidos, universidades e grandes meios de divulgação. Não estamos na véspera ou antevéspera da revolução social. Mas abre-se diante de nós um campo fertilíssimo para o cultivo do futuro.

Leia o artigo de Mário Maestri no Correio da Cidadania

Reforma política por assembleia constituinte já!
Os protestos recentes que tomaram as ruas de várias cidades do país, podem ser caracterizados como uma combinação de espontaneísmo com movimento organizado. O espontaneísmo tem se manifestado por meio de pautas difusas que questionam a malversação das verbas públicas, a corrupção no sistema político, a legitimidade dos partidos políticos, entre outros pontos. Trata-se de pautas com conteúdo progressista, mas facilmente apropriadas pelas forças conservadoras, justamente por se fixarem no plano das denúncias, sem apresentarem medidas concretas para solucionar as mazelas apontadas. Já o movimento organizado tem se valido da reivindicação de pautas concretas, frutos, na maioria das vezes, da experiência de lutas travadas por diversos grupos políticos e movimentos sociais ao longo das últimas décadas. Queremos ressaltar, com isso, que as lutas pelo passe livre, por mais verbas para a educação e para a saúde, pela tributação das grandes fortunas, pela redução da jornada de trabalho, pela democratização da mídia, não surgiram em junho de 2013, mas são resultantes de muitos debates e embates realizados nas ruas e nos mais variados espaços sociais. São exatamente as pautas concretas, construídas nas lutas que têm sido até agora vitoriosas, o que nos leva a salientar a importância da mobilização e da organização na luta por direitos e pela ampliação de conquistas democráticas.

Leia o artigo de Danilo Enrico Martuscelli no Blog Personal Escritor


Dilma nas redes sociais: o fim da bipolaridade política e o desejo de radicalizar mudanças
Toda rede ligada a algum político possui um certo padrão:a bipolaridade. Mas a grande novidade dessa rede acima é a mancha verde do grafo. Compostos com grandes centralidades tais como @iavelar, @helenapalm, @teclologoexisto, @semfimlucrativo, @matheusrg, @personalescrito, @tsavkko, @cadulorena. Essa é uma rede que narra fatos que nenhuma das duas outras gostam muito de discutir: a relação entre gastos públicos e Copa, a questão indígena, a crítica do que é esquerda e direita (são inúmeros temas). Ela tem perfil mais independente. E ganha relevância na conversação na rede. Possui alta conexão com as redes que circundam o centro do grafo. Isso significa que são perfis muito conectados com as ruas.

A rede vermelha é o tradicional grupo que blinda a Dilma na rede e constrói pontos de vista alternativos. Um grupo que a própria Dilma passou a se manter com certa distância (em função da aproximação da presidenta com os grupos tradicionais de mídia). O grupo é formado por perfis tais como @zedeabreu, @stanleyburburin, @ptnacional, @blogdilmabr, @emirsader, @rogeriocorrea. É hoje uma rede política consolidada. E é quem está segurando o rojão da presidenta na rede. Veja: o que acontece com a jornalista Mônica Bergamo é o mesmo que ocorre com o Noblat. Bergamo é uma jornalista cuja perspectiva acaba sendo atraída pela rede de temas dilmistas.


Leia o artigo de Fábio Malini no sítio do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura
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