Maioria das terras de proprietários
com nomes na ‘lista suja’ do trabalho escravo embargadas pelo Ibama estão na
Amazônia e servem à pecuária
Por Stefano Wrobleski*
Por Stefano Wrobleski*
Exploração
de trabalho escravo e devastação do meio ambiente continuam caminhando juntas
no Brasil. A relação foi reforçada pela última atualização da “lista
suja” do trabalho escravo, como é conhecida a relação oficial de empregadores
flagrados explorando escravos mantida pelo Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
(SDH/PR). Das 142 empresas e empregadores incluídos na última
sexta-feira, dia 28, 18 também estão no cadastro de proprietários de terras
embargadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama). Com a atualização semestral, a “lista suja” atingiu o
número recorde de 504 nomes, dos quais 58 também cometeram crimes ambientais,
conforme levantamento feito pela Repórter Brasil a partir do cruzamento com
dados do Ibama. Praticamente um em cada dez integrantes do cadastro da
escravidão é também um infrator ambiental, quase a mesma proporção da última
atualização, em dezembro de 2012.
Confira
no mapa abaixo onde estão as 19 áreas embargadas dos 18 proprietários com
infrações ambientais recém-incluídos na “lista suja” do trabalho escravo:
O
nome de uma pessoa física ou jurídica é incluído na relação depois de concluído
o processo administrativo referente à fiscalização dos auditores do governo
federal e lá permanece por, pelo menos, dois anos. Durante esse período,
o empregador deve garantir que regularizou os problemas e quitou suas
pendências com o governo e os trabalhadores. Caso contrário, permanece na
lista.
Amazônia
Dentre
as 19 terras embargadas de 18 empregadores, 14 estão dentro da Amazônia Legal.
Entre elas está a Fazenda Três Rios, do pecuarista Aldo Pedreschi,
vice-presidente da Associação Rural de Ribeirão Preto (ARRP). Ele foi
reinserido na “lista suja” do trabalho escravo por decisão da Justiça, que
cassou a liminar que o mantinha fora do cadastro desde 2005, quando foi
incluído por uma operação que libertou oito trabalhadores de sua propriedade
dois anos antes. A terra, que fica no município mato-grossense de
Canarana, foi embargada em 2009 pelo desmatamento ilegal de 414 hectares, uma
área equivalente a 580 campos de futebol.
O
crime colocou Aldo entre os 75 maiores desmatadores e madeireiros da região de
Cuiabá (MT) e o Ibama multou-o em R$ 2,6 milhões (valores corrigidos).
Procurado para comentar o caso, um funcionário da ARRP informou que Aldo
estava viajando e não poderia atender a reportagem. De acordo com o
portal “Às Claras”, o pecuarista fez doações em 2002, 2008 e 2010 a Welson
Gasparini, ex-prefeito de Ribeirão Preto e deputado estadual em São Paulo pelo
PSDB desde 2011, quando foi empossado depois que Bruno Covas, seu titular, foi
nomeado secretário de Estado do Meio Ambiente. Somadas, as doações chegam
a R$29 mil reais em valores corrigidos.
Outro
pecuarista notável é o deputado Urzeni Rocha (PSDB-RR), que ocupa o cargo desde
2012, quando a titular Teresa Surita (PMDB) deixou o mandato para assumir a
prefeitura da capital Boa Vista (RR). Em 2003, a Fazenda J.K., propriedade sua
que fica no município de Mucajaí, a 60 quilômetros a capital de Roraima, foi
multada pelo Ibama em R$ 44 mil por infrações da flora, em valores atuais. Já
em 2010, 26 pessoas, incluindo adolescentes, foram libertadas da Fazenda
Paraíso, uma propriedade sua no município de Cantá, que fica a 30 quilômetros
da capital de Roraima.
Nela,
a única fonte de água para os trabalhadores beberem, tomarem banho e cozinhar
era a de um córrego em que animais faziam suas necessidades. Além disso, a
comida fornecida era descontada dos salários dos empregados, que se endividavam
mês após mês sem conseguir ir embora, já que não havia qualquer meio de
transporte e a cidade mais próxima ficava a seis a oito horas de caminhada
dentro da floresta. Procurado, um assessor do deputado informou à Repórter
Brasil que o parlamentar não falaria sobre o caso. Além de Urzeni, outros sete
políticos também fazem parte da “lista suja” do trabalho escravo.
Principal
atividade na “lista suja“, envolvendo 66 das 142 novas inclusões, a pecuária
tem presença ainda maior entre os nomes também incluídos na lista de embargos
do Ibama: dentre as 19 terras onde foram cometidos crimes ambientais, 13 (76%)
eram destinadas à atividade. Três dessas terras estão nos municípios de
Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, e Nova Maringá, no Mato Grosso, e fazem
parte da lista de municípios da Amazônia considerados prioritários pelo
Ministério do Meio Ambiente, uma relação mantida desde 2007 com os locais em
que a taxa de desmatamento aumentou em ao menos três dos últimos cinco anos.
Outro local que também está na relação é Moju (PA), que marcou a entrada
do dendê na “lista suja”, com o vice-prefeito do município envolvido com a
escravização de dez pessoas. O dendê é a maior aposta do programa
nacional de biodiesel na Amazônia.
*Fonte: Repórter Brasil