Estudo mostra que projeções do ONS são otimistas; informações defasadas prejudicam planejamento do setor. Renovação das garantias físicas, que deveria ser feita em 2014, tem novo prazo até o final deste ano.
Informações defasadas sobre a capacidade de geração de energia
prejudicam o planejamento do funcionamento do sistema elétrico, segundo .especialistas.
A origem do problema está
na renovação das garantias físicas das usinas hidrelétricas --que deveria ter
sido feita no ano passado, mas acabou ficando longe das prioridades do governo
diante da crise no setor.
A garantia física
corresponde à quantidade de energia que determinada usina é capaz de gerar. Com
base nela, define-se quanto aquela usina poderá se comprometer a entregar nos
contratos de venda de energia. Caso a garantia física esteja superestimada, a hidrelétrica
não será capaz de entregar o que se comprometeu.
Para especialistas, isso
pode estar acontecendo no Brasil. Estudo da Thymos Energia (consultoria
especializada no setor elétrico), feito para o instituto Acende Brasil em 2013,
já mostrava que há um comportamento distinto entre as simulações de geração de
energia, feitas pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), e a operação
efetiva do sistema.
O estudo, que avaliou os
anos de 2011 e 2012, concluiu que as estimativas do ONS, feitas a partir de um
modelo matemático que tenta representar o sistema elétrico, sempre são mais
otimistas do que a realidade.
"A projeção do ONS
para o nível dos reservatórios sempre foi superior ao nível verificado de fato
no estudo", diz Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.
"A nossa grande
suspeita é que os dados usados na simulação não estejam mais fidedignos com a
realidade", diz João Carlos Mello, presidente da Thymos.
Segundo o especialista,
essa diferença entre as simulações para a operação do sistema e o que de fato
ocorre deve ser capturada na revisão das garantias físicas.
Essa discrepância preocupa
porque é com base nessas projeções que o ONS define o acionamento das usinas,
térmicas ou hidrelétricas. As garantias físicas, por sua vez, são usadas como
parâmetros em novos leilões e contratos.
Novo prazo
O tema está no radar do
Tribunal de Contas da União (TCU). Em maio de 2014, uma auditoria do tribunal
apontou indícios de que a atual capacidade de geração seria estruturalmente
ineficiente para garantir a segurança energética por vários fatores, entre eles
a superavaliação da capacidade das hidrelétricas.
O TCU, então, pediu que o
Ministério de Minas e Energia elaborasse um plano para a renovação das
garantias. Em dezembro, a pasta determinou a formação de um grupo de trabalho
para analisar a metodologia.
O assunto é sensível para
as geradoras de energia elétrica, que podem ter seus contratos revistos com a
redução da garantia física, levando-as a perdas de receita.
Fonte: Folha de São Paulo