por Ana Aranha, Jessica Mota
As usinas hidrelétricas do
rio Tapajós devem desalojar mais de 2500 ribeirinhos e matar os peixes dos
quais sobrevivem, mas o governo se recusa a consultá-los
O ribeirinho Rosinaldo
Pereira dos Santos, mais conhecido como Tatá, está prestes a trilhar o caminho
inverso daquele pretendido pela política social dos governos Lula e Dilma.
Morador da beira do rio Tapajós, no oeste do Pará, ele sempre viveu em fartura alimentar.
A prova está pendurada na sala de sua casa: fotos de bagres maiores que o
próprio pescador. Mas, agora, Tatá pode se tornar mais um a engrossar o
rol de brasileiros que precisam de ajuda financeira para se alimentar. O
governo federal começou a executar na região um conjunto de obras que, em nome
do desenvolvimento, vai tirar o peixe de pescadores que sabem pescar.
Hoje a vida de Tatá é assim:
basta ele pousar os olhos sobre o rio durante o dia para dar início ao cálculo
mental de qual melhor espécie vai dar pesca, onde, a que horas e com qual isca.
É esse conhecimento também que lhe guia entre corredeiras, cachoeiras, pedrais
e redemoinhos que brotam da correnteza. Com a renda da pesca ele construiu duas
casas, onde tem uma roça com mandioca, banana e murici, cria galinhas e cultiva
um pomar com dez tipos de frutas amazônicas. O que a família não come, ele
vende. Assim sustentou dois filhos, hoje cria dois netos e, aos 52 anos,
planejava adotar mais dois.
Mas os planos estão
suspensos desde que chegaram notícias sobre as sete usinas hidrelétricas que o
governo planeja erguer na bacia do Tapajós. A maior delas, São Luiz do Tapajós,
foi traçada bem no local onde ele mora e pesca: a centenária Pimental, bucólica
vila de pescadores cercada por corredeiras e floresta amazônica preservada.
Seus habitantes vivem da pesca artesanal, como Tatá, ou da ornamental: peixes
pequenos e coloridos encontrados nos trechos onde o rio é raso e transparente.
Parte da renda local também vem do garimpo artesanal. Se a usina for
licenciada, os 700 moradores serão retirados da beira do rio e levados para a
beira da estrada federal BR 230, a Transamazônica, em local próximo ao lago da
usina. Como eles, mais de 2.500 ribeirinhos terão suas casas e comunidades
alagadas na região do Tapajós, segundo estimativa da Avaliação Ambiental
Integrada das sete usinas. Os estudos ambientais não calculam, porém, os outros
milhares de pescadores que perderão sua fonte de renda devido as mudanças que
as barragens provocam nos rios.