Da Diretoria e
Coordenação Executiva Nacional da CPT
A
Diretoria e Coordenação Executiva Nacional da CPT, profundamente chocadas com a
notícia do massacre de seis pessoas de uma mesma família, na área rural de
Conceição do Araguaia, Pará, vêm a público para externar sua indignação diante
de tão brutal crime e para exigir medidas que ponham um fim a situações que
propiciem a ocorrência de tão execráveis atos.
Eram
passados somente cinco dias da recordação dos 10 anos da morte de Irmã Dorothy
Stang, quando o massacre ocorreu. Neste intervalo, vozes do governo haviam
afirmado que, devido às medidas adotadas após o triste episódio do assassinato
da missionária, os conflitos e a violência no campo no estado do Pará haviam
diminuído drasticamente.
O
massacre de Conceição do Araguaia, porém, veio desmontar a fala das
autoridades. Se de um lado é certo que houve diminuição nos números das
violências e dos conflitos, continuam sempre muito presentes as condições que
levam, a qualquer momento, a situações como a do massacre que hoje deploramos.
Permanecem
inalterados:
-
a morosidade dos processos burocráticos que se estendem por anos, enquanto as
famílias aguardam o assentamento em acampamentos ou ocupações mais que
precários;
-
os julgamentos que erigem a direito maior o “direito à propriedade”, em
detrimento das exigências do cumprimento da função social da propriedade.
A
isso se soma o esfacelamento dos órgãos responsáveis pela reforma agrária,
acompanhados de cortes no seu orçamento.
Tudo
isso é um triste sinal, uma trágica parábola de como está sendo deixada à
barbaridade selvagem, a questão agrária.
Neste
caso de Conceição do Araguaia, como sempre em casos de repercussão nacional,
ouvimos que dentro de 90 dias, a situação da área onde houve o massacre será
resolvida.
A
Coordenação da CPT, porém, não acredita em soluções que simplesmente resolvem
uma situação concreta, mas nada muda do que as sustenta. São necessárias ações
que facilitem o acesso à terra, para os que dela necessitam. O Congresso
Nacional, ao invés de propor emendas constitucionais e projetos de lei que limitam
os direitos dos povos e comunidades aos territórios dos quais foram esbulhados,
deveria aprovar projetos de lei que abram caminhos para o rápido assentamento
das famílias sem terra, como propõe a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, CNBB, na sua 52ª Assembleia, em 2014:
“aprovação
do projeto de lei, em tramitação na Câmara dos Deputados, que determina a
imissão imediata do INCRA na posse dos imóveis desapropriados para fins de
Reforma Agrária, uma vez comprovado o cumprimento dos requisitos legais para
expedição do mandado, resolvendo-se em ações separadas as impugnações relativas
à improdutividade da terra e ao valor do imóvel.” (A Igreja e a Questão Agrária
Brasileira no Início do Século XXI, nº 197).
E
o poder Judiciário deveria tomar medidas para que os juízes não emitam
“sentenças liminares nos conflitos possessórios sem que sejam ouvidas todas as
partes, seja verificada a função social da propriedade e seja analisada a
consistência das matrículas e dos registros cartoriais dos imóveis em disputa.”
(Nª 205)
Só
com ações profundamente saneadoras poderão se evitar massacres como o do último
dia 17.
Goiânia,
23 de fevereiro de 2015.
Fonte: CPT