A Câmara aprovou, na noite
de ontem (9/2), o substitutivo do Projeto de Lei (PL) 7.735/2014 do deputado
ruralista Alceu Moreira (PMDB-RS), que pretende facilitar o acesso de
pesquisadores e indústrias aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais
associados à biodiversidade e à agrobiodiversidade. O projeto trancava a pauta
do plenário há mais de sete meses.
Um
acordo costurado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), permitiu a
votação do texto principal, deixando a análise dos destaques para a tarde de
hoje. A perspectiva de alteração substancial da proposta nessa nova votação é
pequena. Depois disso, o PL segue para o Senado.
A proposta traz uma série de retrocessos para povos
indígenas e tradicionais. Por exemplo, não prevê que essas populações possam
negar o acesso a seus conhecimentos e restringe seu direito à repartição dos
benefícios oriundos da exploração econômica desses conhecimentos.
Segundo o texto aprovado ontem, essas comunidades só
terão direito a alguma compensação se o conhecimento tradicional for “elemento
principal de agregação de valor” do produto desenvolvido a partir dele e se
este produto for incluído numa lista que será elaborada por alguns ministérios.
Além disso, produtos desenvolvidos com base em acesso a conhecimentos
tradicionais realizado antes de junho de 2000 também estarão isentos de
repartir benefícios com essas populações (leia análise do ISA sobre
o projeto).
Ruralistas comemoram
Os
ruralistas comemoraram a aprovação do substitutivo, que prevê isentar
produtores rurais do pagamento de royalties pelo uso de sementes de espécies
exóticas de commodities introduzidas no País, como soja, milho
e arroz.
“Tudo o que foi possível ser colocado para preservar os
interesses das comunidades tradicionais foi colocado”, defendeu Moreira, que
rejeitou as mais de 170 emendas apresentadas ao PL até então (mais 50 foram
apresentadas no plenário ainda ontem). “Em toda a construção do texto o governo
participou de cada detalhe”, informou.
Apenas PT, PSOL, PCdoB e PV votaram contra o
substitutivo. O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), liberou a
base aliada para a votação do texto, finalizado, no final do ano passado, por
representantes de ministérios, ruralistas e empresários, sem participação de
povos indígenas e tradicionais e organizações da sociedade civil.
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério
do Meio Ambiente, Roberto Cavalcanti, disse que estava otimista com a aprovação
do substitutivo. “O assunto vinha sendo discutido há muito tempo e é importante
que se avance”, comentou.
Deputados como Ivan Valente (PSOL-SP), Chico Alencar
(PSOL-RJ), Sarney Filho (PV-MA) e Alessandro Molon (PT-RJ) voltaram a denunciar
que representantes de povos indígenas e tradicionais não foram ouvidos na
elaboração do projeto (leia carta dos movimentos
sociais).
Alceu Moreira alegou que a Fundação Nacional do Índio
(Funai) foi ouvida e representa os índios e que integrantes de populações
tradicionais também foram consultados. “Que tipo de discussão queriam? Que eu
fosse fazer uma assembleia geral no meio de uma tribo? E o que tiraria dali?
Nós imaginamos que o grau de representação naquela mesa [de negociação] era
suficiente e responsável para representar quem devia estar lá?”, afirmou.
O que são os recursos genéticos?
Os recursos genéticos da biodiversidade são encontrados em animais, vegetais ou micro-organismos, por exemplo, em óleos, resinas e tecidos, encontrados em florestas e outros ambientes naturais. Já os recursos genéticos da agrobiodiversidade estão contidos em espécies agrícolas e pastoris. Comunidades de indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares, entre outros, desenvolvem e conservam, por décadas e até séculos, informações e práticas sobre o uso desses recursos.
Tanto o patrimônio genético quanto esses conhecimentos servem de base para pesquisas e produtos da indústria de remédios, sementes, gêneros alimentícios, cosméticos e produtos de higiene. Por isso, podem valer milhões em investimentos. O Brasil é a nação com maior biodiversidade do mundo e milhares de comunidades indígenas e tradicionais, por isso é alvo histórico de ações ilegais de biopirataria, crime que o PL 7.735 também pretende coibir e punir.
Fonte: Instituto Socioambiental
Tanto o patrimônio genético quanto esses conhecimentos servem de base para pesquisas e produtos da indústria de remédios, sementes, gêneros alimentícios, cosméticos e produtos de higiene. Por isso, podem valer milhões em investimentos. O Brasil é a nação com maior biodiversidade do mundo e milhares de comunidades indígenas e tradicionais, por isso é alvo histórico de ações ilegais de biopirataria, crime que o PL 7.735 também pretende coibir e punir.
Fonte: Instituto Socioambiental