quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Cita/GCI: Nota sobre a candidata da Sra. Iza Tapuia a possível Presidência da Funai

Dentro da atual política do governo federal guiada pelos interesses do agronegócio e das grandes empreiteiras, é evidente que não há nenhum interesse em respeitar os direitos indígenas e desenvolver políticas públicas voltadas para o bem estar destes povos. Exemplos disso são as paralisações das demarcações de Terras Indígenas e o fato de que a FUNAI ficou sem um presidente efetivo por um ano e quatro meses, e a ex-presidente interina Maria Augusta Assirati saiu, com “grande descontentamento e constrangimento”, afirmando que o governo Dilma Rousseff é o maior responsável pela paralisação do trabalhos do órgão indigenista. 
Assim, não faz diferença se o órgão é chefiado por um indígena ou não indígena, por mais competente e sério que este seja. O que falta é o Governo Federal decidir por uma política indigenista que respeito os povos indígenas, e apesar das inúmeras cobranças dos movimentos indígenas, o que vemos é o governo fortalecendo os grupos políticos anti-indígenas.
Como os movimentos indígenas no Brasil já se preparam para mobilizações de enfrentamento a esta situação, nos sentimos na obrigação de alertar os parentes indígenas e nossos aliados no Brasil para a possibilidade de o Governo estar usando de uma estratégia para dividir e enfraquecer as nossas lutas e as nossas reivindicações. 
Falamos do fato de a Sra. Iza Maria Castro dos Santos, mais conhecida como Iza Tapuia, ter lançado seu nome como candidata a presidente da FUNAI, mostrando-se como “a esperança dos Povos Indígenas do Brasil”, e estar solicitando apoio para conseguir este seu objetivo.
Colocar uma indígena à frente da FUNAI pela primeira vez pode até dar a aparência de respeito aos indígenas, quando na verdade é o anúncio certo de que mais um presidente do órgão vai falhar, pois não receberá as mínimas condições de desenvolver uma política indigenista séria. E, desta vez, o ônus do fracasso e da incompetência será imputado aos indígenas. O que os movimentos indígenas têm exigido nos últimos anos é basicamente o respeito aos nossos direitos garantidos na Lei. Colocar um presidente indígena na FUNAI não foi e nem é prioridade dentre as nossas reivindicações que repetidas vezes fizemos chegar à Presidência da República, pois sabemos que o esvaziamento do órgão independe da origem étnica do seu presidente.
Como a Sra. Iza Tapuia é daqui do município de Santarém (PA) pensamos ser necessário esclarecer que a sua auto-indicação não é resultado de nenhuma discussão entre as nossas lideranças e organizações indígenas na região do Baixo rio Tapajós, prática que acreditamos ser fundamental para a organização das bases do Movimento Indígena e ao mesmo tempo em que fortalece o poder de pressão e articulação de nossos povos, junto ao Governo Federal.
O Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns (CITA), que congrega todas as 56 aldeias nesta região, não indica e nem apoia o nome de nenhum indígena à presidência da FUNAI, mas sim vê essa movimentação com muita desconfiança e preocupação. O que não significa uma posição fechada, pelo contrario, queremos o diálogo com os nossos caciques, uma ampla discussão com as nossas bases, assim como manda a nossa tradição.
Não está em discussão a competência pessoal da Sra. Iza Tapuia, até porque a sua convivência com o nosso movimento indígena tem sido pouca e esporádica. A mesma esteve ausente da região na maior parte dos anos de reorganização do movimento indígena, principalmente no contexto da criação e consolidação do CITA, entidade a qual ela afirma ser “fundadora”, tendo se aproximado mais quando atuou como Coordenadora de Educação Escolar Indígena, pela Prefeitura de Santarém entre 2006 e 2007, destacamos que este cargo foi indicado sem consulta às lideranças indígenas da região.
Reafirmamos apenas que não endossamos seu nome para a presidência da FUNAI pois não observamos nenhuma discussão e consenso sobre isso entre nossas bases. O Movimento tem urgência nas pautas sobre a construção de Hidrelétricas no rio Tapajós e Xingu, a Demarcação das Terras dos povos do Baixo Tapajós, as invasões de madeireiras nas terras do Maró, os preconceitos cometidos contra os indígenas pela imprensa santarena e outras variadas formas de violência.
Vamos à luta, pois os povos indígenas temos muitos mais urgências a discutir e direitos a reivindicar e conquistar, do que perder tempo com carreiras e ambições pessoais. Na certeza histórica que as lideranças são construídas nas batalhas cotidianas, são representações das conquistas de seu tempo, e apresentam incidência real no seu povo e no Movimento Indígena.
Santarém, 12 de fevereiro de 2015.
Assinam este documento:
1- João Tapajós Coordenador do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns – CITA.
2- Rosana Tapajós Vice-Coordenadora do Grupo Consciência Indígena.
3- Luana Cardoso Kumaruara Secretaria do Cita.
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