Por Bruno Fonseca, Jessica Mota*
No oeste do Pará, a cidade
de Itaituba concentra obras estratégicas para o governo federal, mas, diante da
infraestrutura precária, seus moradores temem ficar fora da bonança do
desenvolvimento
Uma rua de terra divide as
comunidades Vila Nova e Vila Caçula, sustentadas em cima de palafitas à beira
do rio Tapajós, que banha a orla do município de Itaituba, no oeste do Pará. A
reportagem daPública se aproxima de duas casas para entrevistar seus moradores.
Do alto das escadarias de madeira, eles negam. “A gente dá entrevista e nossa
situação aqui não muda. Não vou falar”, diz um senhor de pele morena, cabelos
brancos e óculos acompanhado da esposa, que também responde com um sonoro
“não”.
O bairro de estrutura
precária não tem água encanada e o esgoto, despejado no rio, corre por baixo
das casas. Mas a situação não é exclusiva de Vila Nova e Vila Caçula. Não
existe rede de tratamento de esgoto na cidade. Nas ruas do centro, as calçadas
desreguladas fazem com que seja mais fácil caminhar pela rua. Ali, são raras as
vezes em que se consegue completar uma ligação de celular. Em busca do prédio
da prefeitura, a equipe de reportagem passou por quatro edifícios até descobrir
que o órgão não possui uma sede.
Itaituba é a maior cidade da
região do médio Tapajós, que deve receber nos próximos anos um conjunto de
obras estratégicas para a economia nacional. Com a construção de estações de
transbordo (que recebem os grãos de soja e milho para enviá-los aos portos em
balsas), uma hidrovia e o asfaltamento de rodovias federais, o oeste do Pará se
tornou um importante foco de atenção da indústria agropecuária. Ali se forma um
dos corredores estratégicos para escoamento de grãos produzidos no Mato Grosso.
A essas obras soma-se o
projeto de um complexo de sete hidrelétricas na região. Três no rio Tapajós,
duas delas ligadas diretamente a Itaituba, e quatro no seu afluente Jamanxim. A
mais avançada delas é São Luiz do Tapajós, com capacidade de 8.040 megawatts,
prevista para ser construída a 65 km de Itaituba. Se os estudos de impacto da
hidrelétrica forem aprovados pelo Ibama, órgão licenciador do projeto, o leilão
da usina deve ocorrer ainda este ano. A previsão é que São Luiz custe R$ 30
bilhões. A segunda usina prevista para o Tapajós, a de Jatobá, também está em
processo de licenciamento ambiental.
Mas enquanto os projetos
avançam, o receio é que os benefícios do desenvolvimento passem à margem da
cidade. Se construída, a hidrelétrica de São Luiz será a terceira maior do
Brasil em potência. E, com pouca infraestrutura, Itaituba corre o risco de
passar pela mesma situação que Altamira, onde está sendo construída a usina
hidrelétrica de Belo Monte. Lá, a cidade vive o impacto das obras com o
crescimento desordenado que provoca especulação imobiliária, problemas no
atendimento à saúde e crescente violência.
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