Cheia atingiu mais de 600 pessoas em
Ferreira Gomes, no Amapá. Hidrelétrica afirma ter comunicado empresas sobre
abertura de ensecadeira.
Casas foram inundadas por causa de vazão em hidrelétricas, no Amapá (Foto: Abinoan Santiago/G1) |
Por Abinoan Santiago*
A
Ferreira Gomes Energia, responsável pela hidrelétrica de mesmo nome no rio
Araguari, disse na noite de quinta-feira (7), que a enchente que atingiu parte
da cidade de Ferreira Gomes foi provocada pela Cachoeira Caldeirão,
hidrelétrica que está sendo construída pela EDP na região. Segundo a empresa,
um volume de água do rio foi liberado pela Cachoeira Caldeirão sem que houvesse
comunicação às demais hidrelétricas instaladas no Araguari: a Ferreira Gomes
Energia e a Coaracy Nunes. A EDP disse que comunicou a abertura de uma
ensecadeira às empresas. De acordo com a prefeitura, mais de 600 pessoas foram
atingidas pela cheia. A cidade está em situação de emergência.
“Digo
que não fomos comunicados do excesso de vazão que estaria descendo o rio. A
informação que tivemos foi um alerta da Coaracy Nunes, momentos antes, para que
a gente se precavesse com a abertura das nossas comportas. Se tivéssemos sido
informados, não aconteceria essa inundação. Estávamos com a vazão normal e,
nesta quinta-feira, o nível da água subiu porque houve essa liberação de volume
de água enorme”, disse Fernando Herzog, gerente de operações da Ferreira Gomes
Energia.
Ele
frisou que a falta de comunicação entre as empresas poderia ter causado um dano
maior por deixar em risco a estrutura da barragem da hidrelétrica, que fica a
pouco mais de um quilômetro da sede da cidade.
De
acordo com Nelson Kano, representante da Cachoeira Caldeirão, o nível do rio
Araguari subiu nesta quinta-feira e obrigou a hidrelétrica a liberar parte da
água represada pela ensecadeira da obra, tipo de proteção destinada para
facilitar projetos de construção em áreas submersas. O volume de água, segundo
Kano, era para ser absorvido pelos outros dois empreendimentos ao longo do rio,
as hidrelétricas Ferreira Gomes Energia e Coaracy Nunes.
“Houve
um volume muito grande de chuva e ela poderia provocar algum risco a essa
estrutura. Então antecipamos a abertura de uma brecha dessa ensecadeira para
que não ocorressem danos maiores. Foi comunicado às empresas que haveria essa
questão. Mas como isso era considerado pelos nossos estudos algo sem gravidade,
essas empresas que deveriam ter absorvido a água. Não sabemos se a população
foi avisada porque também ficamos surpresos e acreditaríamos que esse volume
deveria chegar em 7 horas à cidade”, falou Kano.
A
cheia inundou a orla atingindo a parte baixa e o Centro da cidade nesta
quinta-feira. A energia elétrica chegou a ser interrompida na região, mas foi
reestabelecida. Uma casa construída em uma ilha foi levada pelo rio e uma balsa
ficou à deriva.
Famílias
que perderam tudo ou parte das casas estão sendo encaminhadas para as escolas
Jaci Torquato e Maria Iraci Tavares. Equipes da Defesa Civil estão atuando na
retirada das pessoas. A Polícia Militar e Polícia Técnico-Científica do Amapá
(Politec) disseram que não há informações sobre mortos.
O
prefeito de Ferreira Gomes, Elcias Borges (PMDB), decretou situação de
emergência no início da noite desta quinta-feira. O último levantamento da
prefeitura calculou 117 famílias atingidas, correspondendo a 603 pessoas.
A
decretação de situação de emergência aconteceu após reunião entre a prefeitura
de Ferreira Gomes, governo do Amapá, Corpo de Bombeiros e Ministério Público
(MP). Um gabinete de crise chegou a ser montado no encontro, realizado na sede
da prefeitura. O grupo de trabalho é coordenado pela Defesa Civil.
*Fonte: G1