Por Alex Rodrigues*
A Polícia Federal (PF) investiga a suposta participação de cinco servidores públicos na extração ilegal de ouro e outros minerais preciosos na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Dois deles trabalhavam na Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye´kuana, da Fundação Nacional do Índio (Funai), mas já haviam sido afastados dos cargos antes de a PF deflagrar a Operação Warari Koxi.
A Polícia Federal (PF) investiga a suposta participação de cinco servidores públicos na extração ilegal de ouro e outros minerais preciosos na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Dois deles trabalhavam na Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye´kuana, da Fundação Nacional do Índio (Funai), mas já haviam sido afastados dos cargos antes de a PF deflagrar a Operação Warari Koxi.
Os
nomes dos cinco suspeitos não foram revelados. Segundo o chefe da Delegacia
Regional de Combate ao Crime Organizado da PF, Alan Robson Alexandrino, todos
os cinco já prestaram depoimentos e foram liberados em seguida.
De
acordo com o delegado, um deles ocupava o cargo de gestor da Frente de Proteção
Etnoambiental. “Há fortes indícios do seu envolvimento nas práticas criminosas
que deveria combater. Ele recebe para proteger a cultura, o patrimônio e o
território indígena, mas estava atuando na criminalidade”, disse o delegado
durante entrevista coletiva.
Segundo
a delegada federal Denisse Dias Rosas Ribeiro, responsável pelo inquérito
policial, foram necessários seis meses de investigações para que a PF
conseguisse mapear como o esquema funcionava e identificar os principais
envolvidos. Os investigadores concluíram que entre os principais beneficiários
do esquema estão algumas distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários
(DTVMs), responsáveis por regularizar todo o ouro e minério precioso ilícito e
colocá-lo no mercado.
As
distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários são instituições financeiras
autorizadas pelo Banco Central (BC) a operar no mercado acionário. Entre outras
ações, compram, vendem e distribuem títulos e valores mobiliários, inclusive
ouro. Cento e cinco distribuidoras têm o aval do BC para atuar no país, mas,
segundo a delegada, não mais que oito cumprem as exigências necessárias para
negociar ouro. “Nem todo o ouro que essas DTVMs negociam tem origem ilícita,
mas nem todo ouro é também legal”, comentou a delegada.
A
suposta organização criminosa contava ainda com a participação de pequenos
comerciantes de ouro, donos de garimpos, joalheiros e pilotos de aviões. Além
de identificar que os suspeitos movimentaram cerca de R$ 1 bilhão, a PF calcula
que o prejuízo ao Erário com o não recebimento de tributos pode chegar a R$ 17
milhões. O garimpo ilegal causa danos ambientais à reserva indígena. Nessas
terras, que pertencem à União, a exploração e o aproveitamento dos recursos
hídricos e das riquezas minerais só podem ser feitos com a autorização do
Estado brasileiro.
Cerca
de 150 policiais federais participam da Operação Warari Koxi, que conta também
com a colaboração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama). A Justiça expediu 313 mandados de busca e
apreensão, de condução coercitiva (quando o suspeito é conduzido a prestar
depoimento e liberado em seguida) e um de prisão, para o dono de uma draga, que
já foi detido. Além de Roraima, os mandados estão sendo cumpridos no Amazonas,
no Pará, em Rondônia e em São Paulo. Documentos e computadores foram apreendidos
e vão ser periciados.
É
na Terra Indígena Yanomami que, desde a última sexta-feira (1), índios impedem
a saída de um grupo de servidores da Secretaria Especial de Saúde Indígena
(Sesai) que visitava a área para prestar atendimento médico básico. Ontem, ao
comentar o assunto, o coordenador de Políticas Públicas da Hutukara Associação
Yanomami, Dário Vitório Kopenawa, foi enfático ao associar o aumento do número
de casos de malária, diarreia e até de câncer entre os índios à presença ilegal
de garimpeiros.
“Há
muitos problemas em todas as áreas indígenas. Na reserva Yanomami, um problema
é a presença do garimpo. Onde há porta de entrada a invasores e garimpeiros que
poluem nossos rios com mercúrio há malária, diarreia e outras doenças”,
observou Dário.
*Fonte: Agência Brasil – EBC - Edição: Maria Claudia