O
atropelamento de três agricultores nesta segunda feira, 18, na Transamazônica,
às portas das obras de Belo Monte, não foi uma fatalidade; foi uma tragédia
anunciada. Denunciamos que a morte de Leidiane Drosdoski Machado,
de 27 anos, e Daniel da Silva Vila Nova, 41 anos,moradores do Travessão do
27, mais do que culpa do assassino sobre rodas é responsabilidade do governo
federal. As rodas da máquina desenvolvimentista do
governo se impregnaram de sangue, literalmente.
Desde o início
das obras da hidrelétrica de Belo Monte, centenas de famílias de agricultores
foram deixadas à margem de tudo. Das negociações, das certezas, das
indenizações e do futuro. Também os moradores do Travessão do 27 e de
Paquiçamba foram informados que não seriam considerados atingidos por Belo
Monte. De repente, porém, são notificadas pelo Incra que terão de deixar as
terras onde vivem e trabalham. Sem destinação. Sem reassentamento. Porque,
segundo o Incra, “não há terras para colocar vocês”.
O Xingu Vivo
se solidariza e compartilha da profunda dor dos companheiros e familiares de
Leidiane e Daniel, assassinados na Transamazônica, e do garoto de 13 anos
que continua no hospital entre a vida e a morte. Não fosse o governo, não fosse
a Norte Energia, não fosse Belo Monte, não fosse a total e profunda ausência de
garantias de direitos, não fosse o desprezo tão absurdo pela vida humana,
agricultores e agricultoras não teriam que tomar as estradas e gritar seus
desesperos e demandas, para nunca mais voltarem para casa.
Exigimos que o
crime seja apurado e esclarecido, e o assassino ao volante do automóvel, levado
à Justiça. Quanto aos demais responsáveis pelas mortes, nossos votos são que
não sigam indefinidamente impunes.