O
presidente da Associação Vladimir Lênin, Paulo Justino Pereira, de 51 anos, foi
assassinado nesta última sexta-feira (1º). Um dia antes de ser morto, Paulo
havia participado de reunião com representantes de órgãos agrários para
denunciar os conflitos sofridos pelas famílias do Acampamento Rio Pardo.
Paulo
Justino Pereira, de 51 anos, presidente da Associação Vladimir Lênin, no
Distrito de Rio Pardo, município de Buritis, em Rondônia, foi assassinado na
noite de sexta-feira (1º). A associação representa camponeses e camponesas da
região. De acordo com informações da Liga Operária em Rondônia, a liderança foi
atingida com vários tiros na cabeça.
“Paulo
Justino nasceu em Pernambuco, morou no Rio de Janeiro e veio para
Rondônia para ajudar a luta camponesa, causa tão perigosa, mas
tão urgente e justa. Ele deixou três filhos e três netos, e será enterrado
em Maceió (AL), na manhã do dia 6 de maio”, informou Nota da Liga dos
Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LCP).
A
região onde Paulo atuava é marcada por inúmeros conflitos por terra. Por conta
disso, entre os dias 28 e 30 de abril aconteceu uma série de reuniões, na sede
do INCRA de Porto velho, com o ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino
José da Silva, representantes da Defensoria Pública do Estado (DPE-RO), João
Verde e lcemara Sesquim Lopes, e camponeses de áreas em conflito.
Com
uma pauta extensa, no dia 29 de abril uma reunião discutiu a destinação da
fazenda Guerin, situada no município de Buritis, cuja área é reivindicada pelos
trabalhadores rurais do Acampamento Rio Pardo. Paulo Justino participou dessa
reunião, onde, conforme a Liga Operária, houve “discussões acirradas sobre a
situação conflituosa em Rio Pardo”.
Conforme
a LCP, durante a reunião, que se estendeu até o dia 30, Paulo denunciou a
situação das famílias de Rio Pardo. Abaixo um trecho da denúncia no boletim da
Associação:
“Já
fazem dois anos da desocupação violenta da Flona pelas forças armadas da
presidente Dilma e do Governador Confúcio Moura. Durante esse período, nenhum
tipo de assistência foi dado às famílias residentes no Rio Pardo. Das trezentas
que foram desalojadas, apenas 34 foram assentadas, e de forma equivocada, em
outras terras conflitosas, de propriedade do fazendeiro ‘Zoinho’. Com a
morosidade do Governo Estadual em resolver o problema, as famílias já se
preparam para o retorno à reserva, ‘dessa vez para ficar’”.
Na
reunião, segundo a Liga Operária, o presidente da associação falou que as
famílias do Acampamento Rio Pardo estavam preparadas para retomar as suas
terras. E o ouvidor agrário então retrucou: “O senhor quer dizer que as
famílias irão descumprir uma ordem?”. Paulo respondeu: “As famílias estão esperando
a resposta de vocês, que nunca chega”. Então a reunião terminou sem acordo.
Reuniões
Apesar
das várias reuniões já realizadas, a Liga Operária destaca que casos como o de
Paulo Justino tem se repetido em Rondônia, pois os trabalhadores e
trabalhadoras se reúnem com representantes do Estado, denunciam os crimes e os
conflitos que tem sofrido, porém não há resolução dos casos. “Repete-se o já
mil vezes denunciado “ROTEIRO DA MORTE”, em que os camponeses vão aos
representantes do Estado – entre os quais está quase que invariavelmente
presente o desembargador Gercino José da Silva Filho – denunciam as ameaças,
cobram a regularização de suas posses, e depois são assassinados vítimas de
tocaias”.
O
movimento informa ainda que nesse caso de Rio Pardo, por exemplo, “os
camponeses da região já haviam denunciado as ameaças que vinham sofrendo por
parte do latifundiário João Neuto Saul (proprietário da fazenda reivindicada)”.
Região de conflitos
A
região onde Paulo Justino foi assassinado é marcada por conflitos agrários, com
mortes, ameaças, ações de pistolagem, e outros. A LCP lembra que a liderança
camponesa Renato Nathan Gonçalves Pereira, 28 anos, foi assassinada após levar
três tiros na cabeça, no Distrito de Jacinópolis, município de Nova Mamoré, em
abril de 2012. Renato era professor e também realizava serviços de topografia
em sítios da região.
Já
Luís Carlos da Silva, de 38 anos, morador do Acampamento Élcio Machado,
localizado na BR-421, no município de Monte Negro, está desaparecido desde
novembro do ano passado. Ele saiu de casa pela manhã para serrar algumas tábuas
para colocar em sua casa, mas desde então não foi mais visto. O local onde o
acampado foi procurar as tábuas fica próximo de algumas fazendas, envolvidas em
conflitos por terra com os acampados. As buscas por Luís foram encerradas pelo
Exército em dezembro do ano passado.
Esse
ano, no dia 27 de janeiro, foi assassinado José Antônio dos Santos,
ex-morador do Acampamento 10 de Maio, também na região. O crime ainda está
sendo investigado.
*Fonte:
CPT. Com informações da Liga
Operária e LCP.