O jornal Folha de São
Paulo deste domingo, 06 de janeiro, trouxe uma matéria que mostra que o governo
Dilma é o que menos desapropriou imóveis rurais para reforma agrária nos últimos 20 anos. Dos governos da chamada “Nova República”
(pós-regime militar), Dilma só desapropriou mais do que Fernando Collor.
Leia em: Dilma é a que menos desapropria desde Collor
A
desapropriação por interesse social deveria ser o principal instrumento de desconcentração
fundiária, de sanção para imóveis que não cumprem a função social e de reforma
agrária, conforme a Constituição de 1988.
Contudo, conforme
levantamento feito pela Folha usando informações do Diário Oficial da União e
da Câmara dos Deputados, apenas 86 imóveis rurais tinham sido desapropriados
pelo governo federal nos anos de 2011 e 2012.
O número
de imóveis desapropriados só não é mais baixo devido a um conjunto de imóveis
declarados de interesse social em agosto e que possivelmente foram convertidas
em áreas desapropriadas após pressão de movimentos sociais, conforme divulguei aqui
no blog em agosto.
Leia em: Com movimentos do campo pressionando, Incra inventa desapropriações e comemora promessa de assentamento de mil famílias até dezembro
Leia em: Com movimentos do campo pressionando, Incra inventa desapropriações e comemora promessa de assentamento de mil famílias até dezembro
Ainda
segundo a Folha, o governo cita cortes no Orçamento (feito
pelo próprio governo) e greve de servidores como razões para os baixos números
em 2012. Neste ano, além de um corte orçamentário de 400 milhões
de reais, o Incra passou por substituição de sua direção, em meio a briga
interna do PT pelo comando do órgão, e uma greve de servidores de quase cem
dias.
Contudo, ainda em 2011, dezenas de imóveis vistoriados pelo
Incra, classificados pela autarquia como não cumpridores do função social da
propriedade e aptos para a criação de projetos de assentamentos, tiveram seus decretos de interesse social
barrados pela Presidência da República e consequentemente os assentamentos não
criados.
Leia em: Reforma agrária trava no 1º ano de Dilma
Leia em: Reforma agrária trava no 1º ano de Dilma
A queda no número de áreas desapropriadas vem acompanhada também na
queda no número de famílias consideradas assentadas, mesmo contabilizando
famílias reconhecidas como beneficiárias aquelas que estão em terras públicas
da União, unidades de conservação, assentamentos estaduais, áreas de
reassentamento de atingidos por barragens e lote de projetos de assentamentos
antigos, com reassentamento de outras famílias. Ou seja, mesmo contabilizando
as famílias de áreas não desapropriadas pelo governo federal, o número de
famílias tidas como “assentadas” em 2012 não deve chegar a 20 mil, praticamente
o mesmo número de 2011.
Além de reduzir o ritmo de desapropriações e assentamentos de famílias,
a Presidência do Incra anuncia para 2013 a retirada de diversas atribuições do
órgão, repassando-os para outros ministérios e prefeituras onde se localizam os
assentamentos. A medida, tida como “modernização administrativa”, mereceu aplausos em Editorial do jornal “O
Estado de São Paulo” deste sábado, 05 de janeiro.
“A modernização administrativa do Incra, aliada a uma
alteração paulatina do perfil da reforma agrária no País, vem em muito boa
hora, pois indica a opção pela integração dos pequenos agricultores ao
agronegócio, algo que será benéfico para todos - menos, claro, para aqueles que
lucram politicamente com a proliferação de sem-terra.”, afirma o jornal
em trecho do Editorial.
Leia em: Um novo Incra
Também no sábado, o jornal O Globo trouxe matéria sobre o mesmo assunto,
em que se afirma que “o governo Dilma
Rousseff marca forte descenso no programa de reforma agrária”
Leia em: Com Dilma, reforma agrária cai em 2011 e tem a pior marca desde FH
A paralisação do programa de Reforma Agrária nas páginas dos principais jornalões do país trouxe consigo “análises” e “meias análises”, como o fim da necessidade de desconcentração fundiária, a dependência dos assentados do programa Bolsa Família e o crescimento econômico como fator de mobilidade social e descenso das ocupações de terra.
A paralisação do programa de Reforma Agrária nas páginas dos principais jornalões do país trouxe consigo “análises” e “meias análises”, como o fim da necessidade de desconcentração fundiária, a dependência dos assentados do programa Bolsa Família e o crescimento econômico como fator de mobilidade social e descenso das ocupações de terra.
Para o
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Dilma é “refém” do “agronegócio, que é o latifúndio modernizado, que se aliou com as empresas
transnacionais”.
Se depender das análises heterodoxas da direção do MST, Dilma
continuará com a paralisação da política de criação de assentamentos. “O
governo Lula e Dilma não são governos do PT nem de esquerda. São governos de
uma frente politica de classes que reúne um amplo leque de classes sociais
brasileiras. Desde a grande burguesia, o agronegócio, a classe média, a classe
trabalhadora, os camponeses e os mais pobres. Essa natureza de composição dá
estabilidade política ao governo e amplas margens de apoio na opinião pública,
mas impede reformas estruturais, que afetariam os interesses das classes
privilegiadas", avalia um dirigente da organização em entrevista que
repercute a matéria da Folha.