Para captar investidores em países ricos, fundos anunciam que o produto, de tão rentável, traria mais dinheiro que aplicações em ouro
Jamil Chade, de Genebra*
Investir em madeira brasileira pode render mais
que uma aplicação em ouro e ser mais interessante que os papéis do Tesouro
americano. O anúncio parece exagerado. Mas é a mensagem que dezenas de fundos
de investimento estão lançando em países ricos, em busca de pessoas
interessadas em aplicar seu dinheiro. Com o setor imobiliário implodido nos
países ricos e dúvidas em relação a aplicações tradicionais, empresas
apresentam segmentos alternativos, caso da madeira brasileira, como opção.
Uma dessas empresas é a Greenwood, que criou o que
chama de "Projeto Acácia". A companhia estrangeira comprou cinco áreas
em um total de 2,3 mil hectares para plantar de forma sustentável as árvores.
Uma dessas áreas fica no Estado da Bahia.
O interessado aplica seu dinheiro, compra
simbolicamente áreas nessas terras da empresa e será a venda dessa madeira para
o mercado doméstico brasileiro e eventual exportação que garantirá o retorno do
investimento. Os dividendos, segundo a empresa, começarão a aparecer dentro de
três anos. Por meio hectare adquirido, o investidor paga 6,2 mil euros. Os
pacotes podem chegar a 505 mil euros.
"O fato é que esse é o melhor momento para
que as pessoas se envolvam nesse investimento, já que ele está fora da zona do
euro, em crise", escreveu ao Estado Liam Fleming, um dos administradores
do projeto. "O Brasil é um mercado em expansão e que só pode ficar melhor
com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos", indicou. "Nesse momento,
muitos investidores estão saindo da Europa e indo ao Brasil na preparação
desses eventos e o governo está gastando bilhões em infraestrutura", disse
Fleming. "Adoramos a notícia, já que significa que a demanda por madeira
vai aumentar", completou.
Outro fator que está
impulsionando esses fundos é a decisão do governo de lançar a construção de
casas populares, que também exigiriam o fornecimento de madeira.
De fato, segundo a Wood Resource Quarterly,
empresa que mantém um monitoramento dos preços de madeira pelo mundo, o custo
do produto no Brasil bateu um recorde em 2011, diante da demanda aquecida. De
acordo com o levantamento, o recorde não se refere apenas aos preços no Brasil
nos últimos anos, mas também em comparação com regiões como Europa, Austrália,
Chile e Rússia. A demanda externa também ajudou a elevar os preços, algo
positivo para os investidores. Em 2011, as exportações aumentaram 6%, principalmente
para China, México, Marrocos e Arábia Saudita.
A indefinição sobre o Código Florestal no Brasil e
obstáculos legais chegaram a causar uma fuga de investimentos no setor, com
cálculos que apontam que até US$ 6 bilhões teriam deixado de ser investidos no
País nos últimos anos.
Ainda assim, diante das perspectivas, empresas
estrangeiras da Suécia, EUA e vários outros países prometem a seus clientes no
exterior um retorno de 5% a 14% para quem investir em eucalipto, acácia ou
outras madeiras no Brasil, sempre com a promessa de que a gestão do produto
será feita de acordo com as leis ambientais locais.
Em Londres, a Global Forestry Investments atrai
seus clientes apontando simplesmente que, entre os anos 1987 e 2006, a madeira
rendeu mais às aplicações que a bolsa de Nova York, o mercado imobiliário
inglês ou emissões do Tesouro americano.
Já a Big Lands Brazil, com escritórios no País e
no exterior, aponta que já tem 83 propriedades pelo Brasil, onde investe em
madeira em mais de 1,6 milhão de hectares. Uma de suas funções em 2011 foi a de
dar consultoria para um fundo de investidores interessados em madeira e com
base em Guernsey - um paraíso fiscal localizado no Canal da Mancha.
Não é apenas a extensão do território brasileiro
que é vendida aos investidores como algo atrativo. A consultoria australiana
New Forest ainda aponta para as inovações genéticas e de manejo florestal no
Brasil, permitindo taxas de crescimento das árvores acima da média. "O
Brasil tem desenvolvido regimes de manejo que permitem que espécies de
eucalipto possam crescer a taxas de quase 50 metros cúbicos por hectare por
ano", indicou.