Depois de negar
participação e até condenar a “invasão” do Instituto Lula por assentados
ameaçados de despejo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra parece que
resolver aumentar a blindagem ao governo federal.
Na semana
passada, enquanto ainda se desenrolava a ocupação do Instituto Lula e do prédio
do Incra em São Paulo por assentados e apoiadores do assentamento Milton
Santos, o sítio da Ong Repórter Brasil publicava uma interessante matéria que
detalhava os interesses da Usina Ester, os também donos da EPTV (afiliada da Rede Globo
em Campinas), na expulsão das famílias do assentamento.
A matéria
originalmente tem como título Donos da EPTV controlam usina que tenta despejar assentamento
Milton Santos e focou-se neste assunto. Ao final, noticiava a ocupação dos prédios do Incra e do
Instituto, sem entrar em detalhes sobre a posição do MST para cada caso.
Mas na página do
MST, a mesma matéria recebeu outro título: “Agronegócio e mídia burguesa, os inimigos do assentamento
Milton Santos”. O título buscava associar a matéria à nota e às declarações do assessor de
comunicação do MST, Igor Felipe, que afirmavam que o movimento era contra a
ocupação do Instituto Lula. Na nota, o MST afirma que pressionava o governo federal e acompanhava a movimentação do Incra em relação ao
assentamento Milton Santos, mas que o movimento “(...) têm como orientação geral denunciar
os verdadeiros inimigos da reforma agrária, como o agronegócio, o latifúndio, o
Poder Judiciário e a imprensa burguesa e pressionar os órgãos de Estado para
que façam a Reforma Agrária.”
A ocupação do
Instituto Lula seria um ato “inócuo” e “ineficaz”, conforme ainda as palavras
do porta-voz do MST, Igor Felipe, já que ele Lula não era mais presidente.
Já neste início
de semana, a blindagem do governo ganhou tons surreais.
Nesta segunda
(28/01), repercutindo um artigo de Dom Tomás Balduíno publicado na Folha de São
Paulo (republicado AQUI) - curiosamente publicado no mesmo dia em que o MST condenava a “invasão” do Instituto
Lula - o sítio do movimento trouxe uma foto de Kátia Abreu ao lado de José
Serra, que em nenhum momento é citado nem no artigo do bispo, nem na própria matéria
feita pelo MST. Apesar de Serra não ter sido em nenhum momento envolvido nas denúncias contra Kátia Abreu e sua família, e também não ser (merecidamente) o Presidente da República, sua foto com Kátia Abreu ilustra a matéria e é destaque na página principal do movimento.
Em seu artigo, o
bispo emérito de Goiás retoma as denúncias de como a senadora e sua família e
foram beneficiados com um esquema de grilagem e expulsão de camponeses de suas
terras no município de Campos Lindos, no Tocantins; Tal denúncia, já havia sido
feita pela revista Carta Capital em 2009, quando Kátia Abreu ainda era do DEM e
foi reproduzida hoje pelo MST junto com a matéria sobre o artigo de Dom Tomás.
Veja AQUI.
O artigo de Dom
Tomás, “Apreensão no campo” teve forte repercussão devido à força
que a senadora e presidente da Confederação Nacional da Agricultura adquiriu
junto ao governo Dilma, ao ponto de, sob ordens da presidente petista, a presidente ruralista passar a negociar
diretamente com ministérios pautas que vão da liberação da criação tambaqui na bacia do rio Tocantins,
passando pela homologação de terras indígenas,
marcos legais para fiscalização da terra, até a aceleração
na entrara de lotes de assentamentos de reforma agrária no mercado de terras.
O flerte de
Kátia Abreu com o governo é tão grande que a ruralista é cotada para assumir um
ministério no governo Dilma, assim que for oficializada a entrada de seu “novo”
partido, o PDS, no governo.
Dom Tomás, em
seu artigo, conclui: “(...) as lideranças camponesas e indígenas estão muito
apreensivas com o estranho poder econômico, político, classista,
concentracionista e cruel detido por essa mulher que, segundo dizem, está para
ser ministra de Dilma Rousseff. E se perguntam: "Não é isso o Poder do
Mal?"
A aproximação de
Dilma e Kátia Abreu também pode ser medida pela quantidade de fotografias pela internet em
que ambas aparecem juntas. As presidentes (da República e dos
ruralistas) constantemente aparecem em audiências e eventos públicos nos últimos meses. Com certeza, não foi a falta de fotografias da petista com a dama
do agronegócio que fez com que o MST publicasse em seu sítio uma foto de Kátia
Abreu com José Serra e de Dom Tomás Balduíno com Dilma. O MST parece adotar a distorção de uma realidade tão dura, que fez o bispo de Goiás pedir orações para a ruralista.
Indignada por
aquilo que considera “(...)um texto rancoroso e eivado de fúria acusatória e
caluniosa”, Kátia Abreu respondeu Dom Tomás Balduíno no dia 25 de janeiro, em
sua coluna semanal na Folha, com texto intitulado "Não darás falso testemunho”.
“Como católica praticante,
jamais imaginei um dia polemizar com um representante da mais alta hierarquia
da fé que professo. Mas a fé que professo não parece ser a mesma que a dele. As
palavras que me dirigiu não foram de um cristão”, afirma a “religiosa” no
artigo em que contesta as acusações do bispo.