segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Para MST, Kátia Abreu não está com Dilma e sim com Serra

Depois de negar participação e até condenar a “invasão” do Instituto Lula por assentados ameaçados de despejo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra parece que resolver aumentar a blindagem ao governo federal.

Na semana passada, enquanto ainda se desenrolava a ocupação do Instituto Lula e do prédio do Incra em São Paulo por assentados e apoiadores do assentamento Milton Santos, o sítio da Ong Repórter Brasil publicava uma interessante matéria que detalhava os interesses da Usina Ester, os também donos da EPTV (afiliada da Rede Globo em Campinas), na expulsão das famílias do assentamento.

A matéria originalmente tem como título Donos da EPTV controlam usina que tenta despejar assentamento Milton Santos e focou-se neste assunto. Ao final, noticiava a ocupação dos prédios do Incra e do Instituto, sem entrar em detalhes sobre a posição do MST para cada caso.


Mas na página do MST, a mesma matéria recebeu outro título: Agronegócio e mídia burguesa, os inimigos do assentamento Milton Santos. O título buscava associar a matéria à nota e às declarações do assessor de comunicação do MST, Igor Felipe, que afirmavam que o movimento era contra a ocupação do Instituto Lula. Na nota, o MST afirma que pressionava o governo federal e acompanhava a movimentação do Incra em relação ao assentamento Milton Santos, mas que o movimento “(...) têm como orientação geral denunciar os verdadeiros inimigos da reforma agrária, como o agronegócio, o latifúndio, o Poder Judiciário e a imprensa burguesa e pressionar os órgãos de Estado para que façam a Reforma Agrária.”

A ocupação do Instituto Lula seria um ato “inócuo” e “ineficaz”, conforme ainda as palavras do porta-voz do MST, Igor Felipe, já que ele Lula não era mais presidente.

Já neste início de semana, a blindagem do governo ganhou tons surreais.

Nesta segunda (28/01), repercutindo um artigo de Dom Tomás Balduíno publicado na Folha de São Paulo (republicado AQUI) - curiosamente publicado no mesmo dia em que o MST condenava a “invasão” do Instituto Lula - o sítio do movimento trouxe uma foto de Kátia Abreu ao lado de José Serra, que em nenhum momento é citado nem no artigo do bispo, nem na própria matéria feita pelo MST. Apesar de Serra não ter sido em nenhum momento envolvido nas denúncias contra Kátia Abreu e sua família, e também não ser (merecidamente) o Presidente da República, sua foto com Kátia Abreu ilustra a matéria e é destaque na página principal do movimento. 


Em seu artigo, o bispo emérito de Goiás retoma as denúncias de como a senadora e sua família e foram beneficiados com um esquema de grilagem e expulsão de camponeses de suas terras no município de Campos Lindos, no Tocantins; Tal denúncia, já havia sido feita pela revista Carta Capital em 2009, quando Kátia Abreu ainda era do DEM e foi reproduzida hoje pelo MST junto com a matéria sobre o artigo de Dom Tomás. Veja AQUI.

O artigo de Dom Tomás, “Apreensão no campo” teve forte repercussão devido à força que a senadora e presidente da Confederação Nacional da Agricultura adquiriu junto ao governo Dilma, ao ponto de, sob ordens da presidente petista, a presidente ruralista passar a negociar diretamente com ministérios pautas que vão da liberação da criação tambaqui na bacia do rio Tocantins, passando pela homologação de terras indígenas, marcos legais para fiscalização da terra, até a aceleração na entrara de lotes de assentamentos de reforma agrária no mercado de terras.

O flerte de Kátia Abreu com o governo é tão grande que a ruralista é cotada para assumir um ministério no governo Dilma, assim que for oficializada a entrada de seu “novo” partido, o PDS, no governo.


Dom Tomás, em seu artigo, conclui: “(...) as lideranças camponesas e indígenas estão muito apreensivas com o estranho poder econômico, político, classista, concentracionista e cruel detido por essa mulher que, segundo dizem, está para ser ministra de Dilma Rousseff. E se perguntam: "Não é isso o Poder do Mal?"

A aproximação de Dilma e Kátia Abreu também pode ser medida pela quantidade de fotografias pela internet em que ambas aparecem juntas. As presidentes (da República e dos ruralistas) constantemente aparecem em audiências e eventos públicos nos últimos meses. Com certeza, não foi a falta de fotografias da petista com a dama do agronegócio que fez com que o MST publicasse em seu sítio uma foto de Kátia Abreu com José Serra e de Dom Tomás Balduíno com Dilma. O MST parece adotar a distorção de uma realidade tão dura, que fez o bispo de Goiás pedir orações para a ruralista.

Indignada por aquilo que considera “(...)um texto rancoroso e eivado de fúria acusatória e caluniosa”, Kátia Abreu respondeu Dom Tomás Balduíno no dia 25 de janeiro, em sua coluna semanal na Folha, com texto intitulado "Não darás falso testemunho”.

“Como católica praticante, jamais imaginei um dia polemizar com um representante da mais alta hierarquia da fé que professo. Mas a fé que professo não parece ser a mesma que a dele. As palavras que me dirigiu não foram de um cristão”, afirma a “religiosa” no artigo em que contesta as acusações do bispo.
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