Para desfazer a
fama de desmatador da floresta amazônica, Carlos Guedes promete atuar permanentemente sobre dois mil assentamentos na
região, num total de 190 mil famílias
Pedro Rafael*
Alvo
preferencial de críticas que vão desde os ruralistas, meios de comunicação,
assentados e até setores do próprio governo, cada qual com objetivos bem
distintos, o Incra necessita enfrentar os pontos fracos e readquirir prestígio.
Esta é a avaliação de Carlos Guedes, à frente da autarquia há pouco mais de
seis meses.
“Existem três
ideias gerais sobre o funcionamento do Incra. São críticas que se consolidaram
historicamente na sociedade: a de que cria assentamentos que viram favelas
rurais, a de que é o responsável pelo desmatamento na Amazônia e a de que
presta um serviço de baixa qualidade. Assumi com o compromisso de enfrentar
essas situações, mas mantendo o papel central do órgão”, explicita.
Para desfazer a
fama de desmatador da floresta amazônica, o Incra promete atuar permanentemente
sobre dois mil assentamentos na região, num total de 190 mil famílias.
Desde dezembro,
um boletim trimestral vai divulgar as ações que estão sendo executadas, com
dados Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), via Programa de
Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes) e o Sistema de Detecção do
Desmatamento em Tempo Real na Amazônia (Deter). Segundo Guedes, essas famílias
estão sendo incluídas em programas do governo para blindar o desmatamento.
Na parte de
serviços, a ênfase será a modernização dos instrumentos para certificação de
imóveis rurais, medida que atende pequenos, médios e grandes proprietários de
terra. Para os assentados, a meta é ampliar a liberação da Declaração de
Aptidão ao Pronaf (DAP), documento que habilita os agricultores para obter
financiamento federal. Ainda é grande o número de assentados que não dispõe
desse certificado.
Desenvolvimento
Guedes
contabiliza 50 mil famílias assentadas em situação de extrema pobreza em
áreas de reforma agrária. Não é muito, se comparado ao total de um milhão de
famílias que receberam terra do governo pelo programa. “Não podemos ter
ninguém nessa condição, por isso vamos identificar e priorizar as políticas
públicas em favor dessas famílias”, garante.
“Quando se vai a
um assentamento, qual a reclamação principal? Falta de estrutura. Precisamos
acelerar o processo de implantação dos assentamentos, que antes demoravam
mais de 10 anos”, completa, ao justificar as mudanças. Para o deputado Marcon
(PT-RS), no entanto, a descentralização das atividades é prejudicial.
“O Incra perde
poder. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, é quem vai definir quantas
famílias assentadas, por
ano, vão receber casa. Acharam uma válvula de escape. Nada contra as outras
políticas do governo, mas quem vai propor não é mais o Incra. Não será o Incra
a conduzir o processo, mas outros ministérios. Essa mudança desfavorece o
processo de reforma agrária no Brasil”, afirma. Para o deputado Valmir Assunção
(PT-BA), a descentralização do Incra remonta ao período do governo Fernando
Henrique Cardoso. “O que estão fazendo é aquilo que o Jungmann [Raul Jungmann,
ex-ministro da reforma agrária no governo do PSDB] quis fazer e não
conseguiu”, cutuca.
Carlos Guedes
tenta rebater os argumentos. “Não tem sentido afirmar que há riscos da extinção do Incra e deixar de aproveitar programas que são melhores do que os seus.
O programa Luz para Todos demonstrou isso e implantou eletricidade com muito
mais velocidade do que o Incra faria sozinho”, exemplifica.
Fonte: Brasil de
Fato