sexta-feira, 22 de abril de 2016

Abril de violências contra camponeses e indígenas


No dia 08 de abril a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou uma nota pública nominada “Quem vai deter a violência contra as comunidades camponesas?”

O documento narrava como em dois dias três pessoas foram mortas, inúmeras ficaram feridas, lideranças foram presas, mandantes de crimes absolvidos e diversas comunidades a mercê de despejos e violências do Estado, do latifúndio e da Justiça.”

No mês de abril ocorrem as já tradicionais mobilizações de organizações camponesas em referência ao 17 de abril, data em que se lembra o massacre de Eldorado dos Carajás e se tem, inclusive aprovado em lei, o Dia de Luta pela Reforma Agrária. Também em função do chamado “Dia do Índio” (19 de abril), costumam ocorrer diversas mobilizações dos povos indígenas.

Contudo, a nota da CPT destaca que até aquela primeira semana, antes destas datas, a violência contra povos indígenas e camponeses se intensificava em várias partes do país:

“Prenderam Cacique Babau e seu irmão na Bahia, executaram dois companheiros sem terra e deixaram muitos feridos no Paraná, no dia 07 de abril. Uma liderança de assentamento e do PT na Paraíba foi executada dentro de casa, ao lado da filha de um ano, no dia 06. No dia 31 de março, na comunidade quilombola Cruzeiro, município de Palmeirândia, MA, foi encontrado morto por disparo de arma de fogo o quilombola, conhecido como Zé Sapo. Em Rondônia mortes violentas, desaparecimentos e crimes rondam as comunidades camponesas. Em Mato Grosso e no Pará despejos violentos são constantes, e fazendeiros mandantes de crimes contra lavradores são absolvidos. No Mato Grosso do Sul as comunidades indígenas vivem ameaçadas e violentadas em suas próprias terras ancestrais.

Em 2015, o sangue de 50 trabalhadores e trabalhadoras assassinados no campo e o sangue de Vitor, criança Kaingang degolada no colo da mãe na rodoviária de Imbituba, em Santa Catarina, continuam a escorrer na vala da impunidade. Ao sangue deles se soma o de outros 13 lutadores e lutadoras tombados neste ano de 2016.

É competência do Governo Federal demarcar terras indígenas e fazer a Reforma Agrária. Se coisas como essa acontecem é porque há milhares de camponeses debaixo da lona preta à espera da tão prometida – e hoje abandonada – reforma agrária, e ainda milhares de indígenas e quilombolas tentando retomar os territórios dos quais foram esbulhados.”

A nota de alerta da CPT, entidade que acompanha e sistematiza conflitos agrários há 40 anos,  parece não ter surtido efeito.  

Na madrugada do dia 11 de abril, Genésio Guajajara, de 30 anos, residente na aldeia Formosa, Terra Indígena Araribóia, Município de Amarante do Maranhão (MA), região Sul do estado, foi assassinado com pauladas e um tiro no tórax. Genésio estava na cidade para receber cesta básica, que estava sendo distribuída pela Fundação Nacional do Índio (Funai), quando foi assassinado. Um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia de polícia do Município, mas até o momento não há informações quanto à autoria do crime e muito menos a motivação, informa o Cimi.

O Cimi também noticiou  no dia 16 de abril o atentado contra o indígena Ailson dos Santos Truká (foto). A liderança está internada em estado estável no Hospital Regional de Caruaru, município do agreste de Pernambuco, depois de ser atingido por três disparos a bala. O atentado aconteceu em frente de uma casa mantida por estudantes indígenas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que costumam passar semanas longe das aldeias por conta da atividade acadêmica. Com outros indígenas Truká, incluindo um de seus filhos, Yssô arrumava bagagens no veículo que os levaria de volta para a aldeia, localizada no município de Cabrobó, quando dois pistoleiros em uma moto abordaram a liderança indígena efetuando os disparos.

Dois dias depois, 18 de abril, foi a vez da Comissão Pastoral da Terra, Centro Norte, Diocese de Bonfim-BA,  lançar nova nota denunciandoo bárbaro assassinato de João Pereira de Oliveira, conhecido como João Bigode, 56 anos, casado, pai de 2 filhos e 1 filha, ocorrido às 19h do dia 15 de abril, na frente de sua casa na comunidade de Santana, município de Antônio Gonçalves. Trata-se de uma comunidade quilombola, do território de Tijuaçu-BA, que há anos luta pela regularização.

No mesmo dia, nova nota da CPT, desta vez de Rondônia, denuncia "um novo cenário de perseguição e de violência que se abate nestas últimas semanas na cidade de Cujubim contra as testemunhas dos homicídios cometidos contra dois jovens sem terra do Acampamento Nossa Terra, na Fazenda Tucumã, no município de Cujubim, em Rondônia." A nota explica em detalhes perseguições contra sobreviventes e testemunhas de um conflito ocorrido em janeiro:

Agora parece ter desencadeado uma caçada às testemunhas e quatro pessoas têm sofrido graves atentados:

- Um dos três camponeses sem terra, sobrevivente do ataque, Raimundo Nonato da Silva, o “Neguim”, de 35 anos, considerado uma das principais testemunhas de acusação do crime, foi gravemente baleado na cidade de Cujubim (RO), no passado dia 04 de abril de 2016, por um suposto capanga da fazenda e corre grave risco de morte.

- Dois jornalistas da cidade: O jornalista Ivan Pereira Costa, de 52 anos, dono do site local www.vejanoticias.com.br, que havia acompanhado todo o caso, foi atingido por dois tiros no braço e na pélvis na mesma noite de 04 de abril de 2016 em frente à casa dele, na cidade de Cujubim. Também o jornalista Lucas Bueno, de 21 anos, do site de notícias local www.rondoniareal.com.br, no dia 11 de abril de 2016, também em Cujubim, teve a casa arrombada na madrugada e atiraram três vezes contra ele, conseguindo fugir sem ser atingido pelos disparos. Os dois relacionaram os atentados ao conflito.

- Uma morte atribuída à queima de arquivo: Vanderlei Soares de Arruda, 53 anos, o “Bigode Moto Taxi“, tido como capanga da Fazenda Tucumã, foi executado a tiros no dia 28 de fevereiro de 2016 em Cujubim, segundo informantes porque “teria falado além da conta”.

- Familiares têm fugido da cidade. Na última semana, familiares das vítimas também têm sido obrigados a abandonar Cujubim em meio a um clima de medo e hostilidade
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