Vídeo: Terra de Direitos
Na maior naturalidade e sem nenhum constrangimento,
o assessor Gustavo Souto Noronha da Presidente do Incra, Maria Lúcia Falcón,
assumiu publicamente que a mandatária do órgão não tem qualquer gerência nas
nomeações de cargos a ela subordinados e que a Superintendência Regional do
Incra de Santarém foi negociada pelo Palácio do Planalto com o deputado federal Chapadinha (PTN-PA), em
troca de votos contrários ao processo de
impeachment da Presidente da República, Dilma Rousseff.
Souto Noronha foi enviado no dia 05 de abril pela Presidência do
Incra para supostamente dialogar com movimentos sociais que ocupavam a sede da
Superintendência desde o anúncio da exoneração do ex-Superintendente Regional,
Claudinei Chalito e a nomeação de Adaías Cardoso Gonçalves, ligado ao deputado
federal Chapadinha.
Leia em Presidência do Incra envia para Santarém um representante para dialogar com movimentos sociais que ocupam sede da Superintendência
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Mas, para surpresa de todos, além de dizer que
não tinha autonomia para negociar nada e que estava ali apenas “como um trabalhador”,
Souto Noronha espantou a todos pela sua “sinceridade”. Sem meias palavras,
discursou no acampamento montado em frente à Superintendência, assumindo sem
nenhum constrangimento o que só era ventilado pela imprensa: “O governo, na negociação
contra a votação do impeachment, negociou com o deputado Chapadinha.”
Em outros trechos de
sua fala, o assessor da presidente que não preside, diz que “a questão da
exoneração do Chalito não foi uma decisão da Presidência do Incra e sequer uma
decisão do MDA, essa foi uma decisão do Palácio do Planalto”. Após comentar
sobre o “menor orçamento da história do Incra em 45 anos de Incra”, Souto
Noronha foi indago por uma trabalhadora rural “se esse governo não era pra nós?”
obtendo como resposta que o movimento fosse negociar com o Deputado Chapadinha
para indicar outro nome.
Enquanto o assessor elaborava
suas teses sobre a pouca efetividade daquele movimento diante da “atual
conjuntura”, quase vinte agentes da Polícia Federal adentravam ao prédio do
Incra. Em diligência, os agentes disseram que estavam atrás das “lideranças dos
servidores do Incra” e que queriam fazer uma vistoria no local. Contudo, após
entrarem no prédio do Incra, os agentes demoraram menos de um minuto e foram embora. Alguns jornais locais, chegaram a divulgar anteriormente a falsa notícia que servidores haviam promovido o trancamento de salas internas do órgão antes da ocupação do prédio pelos movimentos sociais para evitar a posse do superintedente nomeado pelo deputado.
Questionado se como
representante da direção da presidência do Incra ele não queria conversar com
os polícias sobre a situação de tranquilidade no local, Souto Noronha disse que
“não precisava, pois eles [policiais] já estão conversando com outras pessoas”.
Noronha não promoveu reunião com os servidores do Incra enquanto esteve na cidade, no que pese os servidores terem manifestado publicamente repúdio a este processo em curso no Incra de Santarém por
meio de uma carta onde exigem que a direção nacional da instituição cumpra o Decreto Presidencial n° 3.135/1999, que determina o caráter técnico para o
cargo de Superintendente Regional do Incra.
Nesta
quarta-feira, 06 de abril, os movimentos sociais que ocupavam a sede do Incra
resolveram “dar um passo atrás” para garantirem o voto do deputado Chapadinha
contra o impeachment de Dilma.
O
novo Superintendente Regional, Adaias Cardoso
Gonçalves, compareceu ao que restava do acampamento por volta das 16 horas desta quarta-feira. Numa fala de dez minutos, disse que era “natural” que “alguém” o
tivesse indicado, prometeu continuar as ações em curso e rezou um Pai Nosso com
os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém
e daFederação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará.
Após a divulgação do vídeo da Terra de
Direitos, a direção nacional do Incra fez publicar no sítio da autarquia uma nota em que afirma “(...) que a nomeação do superintendente de sua
regional no Oeste do Pará tem caráter estritamente administrativo e está
mantida” .