Se o “queimão” de cargos no Executivo atingiu em cheio o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária nos dias que antecederam a votação do prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara de Deputados, a semana seguinte foi de exonerações dos ex-fieis-aliados.
Embora o sugestivo feriado
de Tiradentes (21 de abril) tenha encurtado os dias úteis da semana, o Diário
Oficial da União esteve recheado de exonerações de indicações políticas de
pretensos aliados do governo, mas que mudaram de voto na última hora.
No dia 19 de abril, foram
publicadas as exonerações dos cargos de Superintendentes Regionais os titulares
do INCRA no Maranhão, em Rondônia e em Santarém (Oeste do Pará),
respectivamente por meio das Portarias INCRA n° 167, 168 e 169,
todas assinadas no dia 18 de abril, portanto poucas horas após a sessão na Câmara.
No Maranhão, a exoneração de
Dayvson Franklin de Souza teria sido
motivada pelo voto favorável ao impeachment
do Deputado Federal Cléber Verde (PRB), de quem seria aliado. Franklin
tinha sido Secretário de Pesca e Aquicultura do governo Roseana Sarney,
também por indicação de Cléber Verde. A família Sarney baixou em peso em Brasília nos dias que antecederam a votação para amarrar votos favoráveis ao afastamento de Dilma.
Em Rondônia, Luís Flávio
Carvalho Ribeiro também foi exonerado do cargo de Superintendente do INCRA. Embora seja um servidor de carreira, a dispensa é creditada à ligação do agora ex-superintendente com o PMDB,
visto que a indicação era considerada da cota do senador Valdir Raupp. Durante a votação na Câmara, a esposa de
Raupp, Marinha, fez uma declaração de voto surpreendente. Primeiro agradeceu a
presidente Dilma por ter, segundo ela, “tirado a
população de Rondônia do sofrimento”. Logo em seguida, Marinha Raupp disse “sim ao
impeachment”.
Mas, a piada da semana foi a exoneração
de Adaias Cardoso Gonçalves da Superintendência Regional do INCRA de Santarém,
vinte dias após ser nomeado em troca da promessa de voto favorável ao governo
do deputado federal Francisco Chapadinha (PTN). Mas, ao contrário do esperado
roteiro de conto de fadas, Chapadinha abandonou o #NãoVaiTerGolpe e não só votou favorável ao afastamento de
Dilma, como dançava e comemorava o resultado da votação.
Entre e sai
Para os próximos dias são
esperadas as exonerações de outros dois recém-nomeados: do Superintendente
Regional do INCRA em Mato Grosso, o ex-prefeito Valdir Mendes Barranco, e do
Diretor de Obtenção de Terras, o advogado Luiz Antônio Possas de Carvalho, ambos
indicados pelo Dep. Federal Carlos Bezerra (PMDB/MT), que também mudou de posição e votou favorável ao impeachment
no dia 17 de abril.
Valdir Barranco pode sair do
cargo pela segunda vez. No final de 2014,
ele foi exonerado do cargo depois de ter sido citado em investigações da
operação "Terra Prometida", desencadeada pela Polícia Federal para
combater um esquema de invasão e exploração ilegal de terras da União
destinadas à reforma agrária e que resultou em 34 prisões, entre elas, de dois
irmãos Odair e Milton Geller, irmãos do então ministro
da Agricultura Neri Geller (PMDB).
Mas, quem
sabe, se a exoneração ocorrer, Barranco pode até novamente voltar junto Luiz
Antônio Possas de Carvalho. Aliás, o ainda diretor está cotadíssimo para
assumir a Presidência do INCRA, nas negociatas já em curso para a montagem de um futuro
governo Michel Temer.
Conforme noticiou a Folha,
Possas de Carvalho contaria com apoio não só do deputado Carlos Bezerra, como
do deputado Paulinho da Força (SD) e até de José Rainha Júnior, ex-MST e hoje à frente da FNL (Frente Nacional de Luta).