Na manhã da segunda-feira (11/04) a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) de São Luís, Maranhão, foi ocupada pelos quilombolas, organizados pelo Movimento de Quilombolas do Maranhão (MOQUIBOM). Confira a Nota de Apoio e Solidariedade da Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (ANEL Maranhão):
A ocupação do INCRA foi uma deliberação do último
encontro da entidade que, de acordo com Wagner Silva, da CSP-Conlutas – MA, foi
tomada por entenderem que ao longo dos anos esta instituição vem desempenhando
um papel nefasto do não cumprimento dos acordos que foram estabelecidos.
Ainda afirma que “a ocupação se dá no contexto de
um conflito na comunidade de Cruzeiro, comunidade de Palmeirândia, entre os
quilombolas e fazendeiros (mega grileiros) – Manuel Gentil, mandante do
assassinato de Flaviano Pinto Neto (que era liderança da Comunidade do Charco).
O conflito se dá também num contexto da elaboração do Relatório Técnico de
Identificação e Delimitação (RTID) em que disponibiliza mais da metade do
território para os fazendeiros, e isso gerou uma revolta muito grande dos
quilombolas”.
Os quilombolas estão muito dispostos a lutar.
Palavras dos próprios quilombolas, porque essa questão vem sendo tratada com
muito descaso por sucessivos governos. Houve uma redução do orçamento para
cumprimento dos direitos das comunidades tradicionais de 80%. É impossível
regularizar todos os quilombolas em processos em andamento com 5 milhões. Sem
dúvidas haverá um acirramento dos conflitos no campo.
Essa situação ainda está no contexto da criação do
MATOPIBA, que é uma nova fronteira agrícola que no caso do Maranhão irá
abranger 72% de seu território, para plantar basicamente soja e eucalipto. E
parte desses 72% do território abrangido no Maranhão é território indígena e
quilombola. É o caminho do verdadeiro banho de sangue no campo.
Em entrevista concedida a ANEL, a quilombola Maria*
declara que o motivo de estarem ocupando novamente o INCRA é devido às pautas
que não foram cumpridas até hoje. “O principal ponto da pauta é a situação de
Cruzeiro com o laudo antropológico, que foi feito e foi esfatiado, e na verdade
com isso está dando no que tá acontecendo na comunidade que tá se perdendo
irmãos. A gente está aqui para reivindicar esses pontos de pauta que não foram
atendidos e também para dar uma visibilidade para saberem que nós não estamos
acomodados com essa situação que está acontecendo nos nossos territórios
quilombolas”, afirma Maria.
Para o quilombola João*, a atuação do INCRA em
relação às demandas das comunidades quilombolas é uma das piores possíveis: “é
uma coisa inadmissível o que acontece nessa instituição. Não é uma luta do ano
passado, é uma luta antiga, desde 2010 que vem se acirrando. O Maranhão é o
estado da federação que mais tem comunidades quilombolas e é o estado em que
menos o INCRA titularizou essas comunidades. A gente vê com muita tristeza e
indignação o que está acontecendo”.
Hertz Dias, do Movimento Quilombo Urbano, em
entrevista à ANEL – MA afirma que o MOQUIBOM está mostrando para o conjunto da
classe trabalhadora brasileira, dos negros, e das organizações, qual
alternativa devemos seguir, que é a da mobilização e da luta direta. Para
Hertz, “o governo Dilma tem uma política claramente anti-quilombola,
pró-latifúndio, pró-agronegócio, e isso está levando diversas comunidades
quilombolas a perder suas terras, perder seus direitos e perder suas vidas. O
índice de assassinatos de quilombolas, ribeirinhos, indígenas no país durante o
governo do PT aumentou consideravelmente, não muito diferente do governo do
PSDB, então a alternativa é essa, a luta direta”.
Essa ocupação do INCRA pelo MOQUIBOM, que não é a
primeira ocupação ela expressa algo muito importante que as organizações dos
movimentos resgatem que é construir a unidade campo e cidade, tal como a se
construiu na década de 1990. Nesse sentido, fazemos um convite a outras
organizações para se solidarizarem e somarem à ocupação. O capitalismo
brasileiro unificou campo e cidade em benefício do lucro, por isso precisamos
unificar a luta do campo e da cidade em benefício da classe trabalhadora.
- Pela anulação imediata do Relatório e cumprimento
dos acordos já estabelecidos entre o INCRA e os quilombolas!
- Unificar a luta do campo e da cidade!
Todo apoio e solidariedade aos quilombolas!
Fonte: CPT