Por Auditoria Cidadã da Dívida*
Nos últimos dias, muito se tem
falado sobre o custo da energia. Membros do governo alegam que estão querendo
reduzir a conta de luz em cerca de 16,2% para os consumidores residenciais,
enquanto membros do PSDB alegam que tal redução não seria possível, nos moldes
propostos pelo governo.
Neste debate, qual dos lados
tem razão? Nenhum dos dois. Desde 1995 até 2011, o custo da energia elétrica ao
consumidor final (IPCA -Energia elétrica) subiu nada menos que 455%, bem acima
da inflação, que acumulou 234% no mesmo período. Portanto, ainda que haja tal
redução de 16,2%, o resultado será um grande aumento na energia nos últimos 16
anos.
E porque isto ocorre? Nas
últimas décadas, os sucessivos governos privatizaram o setor – por meio das
chamadas “concessões” ao setor privado – sob a eterna justificativa de que o
governo não teria recursos para investir. Desta forma, as empresas de energia
elétrica alegam que precisam cobrar mais caro do consumidor para que possam ter
recursos para investir em novas usinas e linhas de transmissão.
Porém, é interessante observar
que, em 2011, o governo federal destinou apenas 0,03% do orçamento para
energia, ou seja, 1.319 vezes menos do que gastou com juros e amortizações da
dívida pública. Ou seja: assim como no caso da saúde, da educação, das
estradas, aeroportos, etc, no caso da energia elétrica, a dívida pública também
serve de instrumento da privatização.
Caso esta questionável dívida
não existisse, o governo federal poderia investir efetivamente em projetos
relativos à energia elétrica, inclusive em fontes alternativas, como eólica e
solar. E assim, os consumidores residenciais não precisariam pagar caro, sob a
justificativa de financiar os investimentos de empresas privadas.
É importante ressaltar também
que, apesar de muitas empresas de energia serem “estatais”, seus lucros não
beneficiam o povo, mas sim, investidores privados e o pagamento da própria
dívida pública. Um exemplo: a Eletrobrás lucrou, apenas nos primeiros 9 meses
deste ano, a quantia de R$ 3,62 bilhões, dos quais 50% devem ser distribuídos a
investidores privados e ao governo federal. Segundo a Lei 9.530/1997, os lucros
das estatais distribuídos ao governo federal devem ser destinados ao pagamento
da dívida pública. Considerando todo o setor elétrico, os lucros chegaram a R$
17,5 bilhões em 2011, arrecadados graças às caríssimas contas de luz, pagas
pelo povo.
Outros componentes da conta de
luz também servem para o pagamento da dívida. Grande parte da tarifa de energia
é composta por tributos, principalmente o ICMS, que os governadores alegam não
poder eliminar, sob a alegação de que isto levaria os estados à falência.
Porém, cabe ressaltar que os estados se encontram em delicada situação
financeira exatamente devido à enorme e questionável dívida com a União, e
também devido à concentração de recursos na esfera federal. Em 2011, as
transferências constitucionais que os 27 estados receberam da União foram 9
vezes menores que os gastos com a dívida pública federal.
Em suma: para que a conta de
luz possa cair significativamente, é preciso enfrentar o tema da dívida, com
uma profunda auditoria.
*Publicado originalmente AQUI.