Com a exploração da intocada Serra Sul da Floresta Nacional
de Carajás, a Vale expande suas atividades na Amazônia e promete dobrar a
produção em quatro anos
Matéria do The New York Time traduzida e reproduzida pelo sítio do jornal O Globo.
Fotografia: Jeremy Bgiwood |
“Você
tem um morro, coberto de floresta, depois um platô – que é onde aflora o
minério de ferro – e, na vertente do platô, um vale, também coberto de floresta.
Para abrir a mina, você vai desmatar esse platô – que parece pelado, mas está
coberto pela canga, a savana metalófila de Carajás –, fazer uma cava, e, da
terra que você tira, desmata esse vale todinho, faz uma pilha. Então, onde era
vale, vira montanha, e onde era platô, vira um buraco”, explica o biólogo
mineiro Frederico Drumond Martins, funcionário do Instituto Chico Mendes
(ICM-Bio) e há cinco anos gestor da Floresta Nacional (Flona) de Carajás.
A paisagem que
serve de exemplo para a rápida lição sobre o impacto da mineração na serra de
Carajás se avista da estrada asfaltada que vai da cidade de Parauapebas à área
das minas da Vale S/A dentro da floresta. Nesses 411.949 hectares de terras
federais – distribuídos entre os municípios de Parauapebas e Canãa dos Carajás
– convivem o maior complexo mineral do mundo, com reservas estimadas em 18
bilhões de toneladas de minério de ferro de alta qualidade, além de jazidas de
manganês, cobre, níquel, ouro e outros minerais, e uma unidade de conservação “de
extrema importância para a conservação da biodiversidade brasileira”, de acordo
com o Mapa de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente.
A riqueza de
espécies reflete a transição entre os biomas da Amazônia e do Cerrado nessa
variedade de relevos e solos cortados por igarapés e cobertos pelas florestas
tropicais úmidas (ombrófilas) da Amazônia – que ali abrigam castanheiras de 50
metros de altura, maçarandubas e outras madeiras de lei e são entremeadas por
florestas secas e palmeirais nas encostas dos morros. Nos platôs, que chegam a
900 metros de altitude, abrem-se as clareiras de savana metalófila (canga
hematítica), uma vegetação que cresce sobre as jazidas de ferro e que, na
região amazônica, só existe ali. Um levantamento recente da fauna da Flona
Carajás, feito pela Vale e o ICM-Bio, encontrou 945 espécies de vertebrados,
sem contar os peixes, e uma das avifaunas mais ricas do país, com 545 espécies,
diversas ameaçadas de extinção.
Leia
tudo em matéria de Marina Amaral para a agência Pública, parte do Especial “Amazônia
Pública/Carajás”: Dentro da Floresta, a Vale tem pressa