Terras
indígenas, unidades de conservação ambiental, projetos de assentamento: a sanha
das motosserras não vê fronteiras. Reportagem da Caros Amigos viu de perto como
atuam ilegalmente as madeireiras que assolam o oeste do Pará
Por Sue Branford*
Da florada da andiroba à melhor forma de extrair o óleo de copaíba. Quem
ouve Miguel Padre falar diria que o jovem tem suas raízes em algum beiradão
amazônico, onde aprendeu a conhecer a floresta e seus frutos. Seu conhecimento,
porém, vem de um aprendizado recente, realizado por opção – uma opção coletiva
e arriscada. Miguel Padre faz parte de um grupo de colonos que, em meio à
intensa operação ilegal de madeireiras na Transamazônica, decidiu seguir outro
rumo, fechando seus lotes ao assédio das motosserras e apostando nos recursos
da floresta em pé para a manutenção de suas famílias. “Na minha área, não
mexeram com a madeira, não. Está tudo lá”, garante o colono.
Não é verdade. Mas Miguel Padre ainda não sabe disso. Enquanto se
aplicava ao curso técnico para extrativismo na cidade de Uruará (PA), onde
concedeu a entrevista, seu lote de reforma agrária era trespassado por máquinas
de madeireiros, que saqueavam suas árvores no Projeto de Assentamento Rio
Trairão. Quem lhe dá a notícia, alguns dias mais tarde, é a própria reportagem
de Caros Amigos, que visitara o lote de Miguel após a entrevista e ali
descobrira o rastro do roubo: toras e mais toras abatidas. “Não, no meu lote,
não, não é possível”, lamenta. Denunciar o roubo a alguma instância oficial
sequer é cogitado pelo extrativista, cuja primeira reação é chamar um tio seu
para ajudá-lo a enfrentar os madeireiros.
O que ocorreu no lote de Miguel Padre compõe uma anedota extremamente
emblemática da atuação de madeireiros ilegais na região da Transamazônica.
Convencer – por sedução ou coerção – colonos a venderem a madeira de seus
lotes, ou, quando isso não funciona, passar ao roubo propriamente dito faz
parte do modus operandi, mas este não para por aí. O esgotamento da madeira
nobre a leste e, mais recentemente, em porções do oeste do estado de Pará, tem
levado as madeireiras a avançar sobre áreas de uso comum de projetos de
assentamento, unidades de conservação ambiental e terras indígenas.
As grandes somas envolvidas na atividade resultam em uma rede criminosa
com poder de influência no jogo político da região. Há quem resista, seja
denunciando a ilegalidade como um todo, seja como Miguel Padre, afirmando sua
oposição nos limites de seu próprio lote. A esses, frequentemente desassistidos
em sua denúncia pelos órgãos da administração competentes, restam o terror e a
violência. Durante um mês, a reportagem de Caros Amigos percorreu a rodovia
Transamazônica entre os municípios de Rurópolis e Anapu, onde registrou
flagrantes como os de Miguel Padre e outros.
Leia a reportagem completa na edição
189 da Caros Amigos, nas bancas ou loja virtual