sábado, 22 de dezembro de 2012

Brasil: Devastação e resistência na Transamazônica


Terras indígenas, unidades de conservação ambiental, projetos de assentamento: a sanha das motosserras não vê fronteiras. Reportagem da Caros Amigos viu de perto como atuam ilegalmente as madeireiras que assolam o oeste do Pará
Por Sue Branford*
Da florada da andiroba à melhor forma de extrair o óleo de copaíba. Quem ouve Miguel Padre falar diria que o jovem tem suas raízes em algum beiradão amazônico, onde aprendeu a conhecer a floresta e seus frutos. Seu conhecimento, porém, vem de um aprendizado recente, realizado por opção – uma opção coletiva e arriscada. Miguel Padre faz parte de um grupo de colonos que, em meio à intensa operação ilegal de madeireiras na Transamazônica, decidiu seguir outro rumo, fechando seus lotes ao assédio das motosserras e apostando nos recursos da floresta em pé para a manutenção de suas famílias. “Na minha área, não mexeram com a madeira, não. Está tudo lá”, garante o colono.
Não é verdade. Mas Miguel Padre ainda não sabe disso. Enquanto se aplicava ao curso técnico para extrativismo na cidade de Uruará (PA), onde concedeu a entrevista, seu lote de reforma agrária era trespassado por máquinas de madeireiros, que saqueavam suas árvores no Projeto de Assentamento Rio Trairão. Quem lhe dá a notícia, alguns dias mais tarde, é a própria reportagem de Caros Amigos, que visitara o lote de Miguel após a entrevista e ali descobrira o rastro do roubo: toras e mais toras abatidas. “Não, no meu lote, não, não é possível”, lamenta. Denunciar o roubo a alguma instância oficial sequer é cogitado pelo extrativista, cuja primeira reação é chamar um tio seu para ajudá-lo a enfrentar os madeireiros.
O que ocorreu no lote de Miguel Padre compõe uma anedota extremamente emblemática da atuação de madeireiros ilegais na região da Transamazônica. Convencer – por sedução ou coerção – colonos a venderem a madeira de seus lotes, ou, quando isso não funciona, passar ao roubo propriamente dito faz parte do modus operandi, mas este não para por aí. O esgotamento da madeira nobre a leste e, mais recentemente, em porções do oeste do estado de Pará, tem levado as madeireiras a avançar sobre áreas de uso comum de projetos de assentamento, unidades de conservação ambiental e terras indígenas.
As grandes somas envolvidas na atividade resultam em uma rede criminosa com poder de influência no jogo político da região. Há quem resista, seja denunciando a ilegalidade como um todo, seja como Miguel Padre, afirmando sua oposição nos limites de seu próprio lote. A esses, frequentemente desassistidos em sua denúncia pelos órgãos da administração competentes, restam o terror e a violência. Durante um mês, a reportagem de Caros Amigos percorreu a rodovia Transamazônica entre os municípios de Rurópolis e Anapu, onde registrou flagrantes como os de Miguel Padre e outros.
Leia a reportagem completa na edição 189 da Caros Amigos, nas bancas ou loja virtual
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