Os irmãos Nivaldo Batista Cordeiro e Jesser Batista Cordeiro, membros do Acampamento 10 de Maio, de Alto Paraíso do Oeste, Rondônia, desapareceram no dia 24 de abril. Dois dias depois eles foram encontrados mortos no Rio Candeias.
Depois
de ter localizado a moto deles nas proximidades do rio, no Km 25 da Linha C-50,
os dois corpos foram encontrados com diversos disparos. O local faz parte do
município de Buritis, Rondônia, que forma parte do chamado Vale do Jamari, uma
das regiões que desde 2015 concentra o maior número de casos de violência por
conflitos em disputas de terras públicas de todo o Brasil.
No
dia 28 de abril a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
(LCP) divulgou Nota em que denuncia o assassinato dos dois irmãos, Nivaldo e
Jesser, que, segundo a Liga, eram camponeses do Acampamento 10 de Maio. Nivaldo
deixou a esposa e quatro filhos pequenos.
Conforme
a Liga dos Camponeses, os irmãos foram covardemente assassinados no dia 24 de
abril, e já haviam recebido ameaças de morte do fazendeiro Caubi Moreira Quito.
O fazendeiro, que tinha posse da Fazenda Formosa, disputa com o Acampamento 10
de Maio, vinculado à LCP, o controle da área, que é terra pública grilada
dentro da Gleba 06 de Julho/São Sebastião. No local, no início deste ano, a
Justiça Federal suspendeu uma reintegração de posse contra os acampados
(14/03/16) a pedido do Ministério Público Federal (MPF), pois a área ocupada
pela fazenda é terra pública que já havia sido desapropriada pelo INCRA para
reforma agrária.
Há
alguns anos o local é palco de uma acirrada e violenta disputa. Após uma
reintegração de posse da Justiça Estadual, sofrida pelos acampados em setembro
de 2013, o fazendeiro denunciou ter sido atacado em seu carro. Mais tarde, um
peão da fazenda teria sido atingido por disparos e a sede da fazenda, em
outubro, foi totalmente destruída.
Em
25 de janeiro de 2015, após os acampados resistirem e conseguirem suspender uma
nova reintegração de posse da Justiça Estadual, José Dória dos Santos, antigo
integrante do acampamento, foi assassinado com vários disparos. Já em 11 de
maio de 2015, duas pessoas mortas foram encontradas nas imediações do
acampamento. Em abril deste ano, foi encontrada uma ossada humana (ainda não
identificada) na mesma fazenda, que pode ser de Valdecy Padilha, camponês do
Acampamento 10 de Maio desaparecido desde a manhã do dia 11 de novembro de
2015.
Por
outro lado, a LCP acusa o fazendeiro de ter afirmado em várias ocasiões “que
iria matar todos os sem terra antigos do Acampamento”. Ainda segundo a Liga,
policiais militares de Buritis fizeram diversas tentativas de reintegração de
posse na área do 10 de Maio sem ordem judicial. E consta, segundo a Liga, em
depoimento do próprio Caubi Moreira Quito, realizado na Polícia Civil de
Ariquemes em 29 de dezembro de 2014, que ele mesmo havia contratado 10
policiais militares para fazerem a segurança privada de sua fazenda em troca de
terras.
Em
relação à morte dos dois irmãos do Acampamento 10 de Maio, a Liga dos
Camponeses Pobres (LCP), na Nota do dia 28 de abril, levanta pesadas acusações
contra a Polícia Militar de Ji-Paraná, que estaria realizando patrulhas de
carro nas estradas e de helicóptero na área do acampamento. “Esse crime tem
todas as características dos crimes praticados por policiais. Os camponeses
saíram de casa no domingo cedo, à luz do dia, em uma estrada muito movimentada.
Foram assassinados em um lugar e seus corpos encontrados em outro. Pistoleiros
não teriam como fazer tal operação sem chamar a atenção”, denuncia a Nota da
LCP.
Fonte: CPT de Rondônia