Pauta inclui ainda envolvimento do Exército em conflitos no campo, anulação de atos referentes a Terras Indígenas, Territórios Quilombolas e desapropriações para a Reforma Agrária e o fim de direitos trabalhistas no campo
Sempre unida e mais
fortalecida com o provável afastamento da presidente Dilma Rousseff, a bancada
ruralista no Congresso Nacional, autodenominada Frente Parlamentar da
Agropecuária, apresentou na semana passada a sua pauta de exigências para o
ainda não empossado presidente Michel Temer.
Denominado “Pauta Positiva - Biênio 2016/2017”, o documento aponta a necessidade de medidas
imediatas para a "garantia da ordem pública e da segurança jurídica”,
conforme trecho do documento que é assinado pelas principais entidades
ruralistas e do agronegócio no país.
Momento antes da reunião da bancada com o
vice-presidente no dia 27 de abril, o deputado Marcos Montes (PSD-MG) declarou
a imprensa que iria sugerir uma
mudança na Constituição para permitir que o Exército atue na repressão a
movimentos sociais do campo, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST). Ao chegar ao anexo do Palácio do Planalto, onde
fica o gabinete do vice-presidente, Montes informou já havia se reunido com o Exército, a fim de “buscar alternativas”
para promoção da “paz no campo”.
“Recebi no meu gabinete integrantes do Exército
brasileiro. Estou buscando entender a função constitucional que o Exército tem
para que ele possa realmente ajudar o setor a ter mais paz no campo. Não são os
fazendeiros e os produtores que vão entrar em luta corporal e armada com esses
elementos desordeiros financiados pelo próprio governo. Essa é uma das medidas
que vamos pedir ao vice-presidente”, acrescentou Montes, conforme matéria da
Agência Brasil.
Outro ponto que teria sido tratado na reunião seria
a revisão de todos os atos administrativos de identificação, delimitação e
homologação de terras indígenas, a publicação de relatórios de territórios
quilombolas e de decretos referentes a imóveis desapropriados para reforma
agrária, especialmente os instrumentos publicados nas últimas semanas.
Segundo divulgou o jornal O Globo, Temer teria demonstrado assombro com a rapidez que o
governo imprimiu ao assunto” nos últimos dias e assegurado à bancada ruralista que revisará
todos os atos de Dilma.
O
que chama também atenção na matéria de O Globo é novamente um suposto
envolvimento das Forças Armadas nos atos administrativos ligados às terras indígenas e quilombolas, especialmente a participação do “comunista”
Aldo Rebelo: “O ministro da Defesa, Aldo Rebelo, foi procurado pelos
peemedebistas esta semana e garantiu que tudo está sendo acompanhado por sua
área", informa a matéria.
“Pauta Positiva”
O
documento da FPA é formado sete eixos: Governança Institucional, Política
Agrícola, Direito de Propriedade e Segurança jurídica, Meio Ambiente,
Infraestrutura e Logística, Defesa Agropecuária e Relações Trabalhistas.
Apesar de
ser uma agenda teoricamente de curto prazo (2016-2017), a “proposta” reúne
todas as pautas que a bancada ruralista já vinha implantando nos últimos anos,
inclusive projetos polêmicos como a PEC 215/2000, que
retira do Executivo e transfere para o Congresso Nacional os processos de
identificação, delimitação, demarcação e homologação de Terras Indígenas, o
reconhecimento de Territórios Quilombolas e a criação de unidades de
conservação.
Neste
ponto, em especial, o documento reivindica a republicação da Portaria AGU n°
303, publicada durante o governo Dilma, que tentou impor as condicionantes do
processo julgado no Supremo Tribunal Federal referentes a Terra Indígena Raposa
Serra do Sol à todas as terras indígenas do país.
Neste
trecho, o documento aponta: “A proposta além de abrir a possibilidade de
participação do Congresso Nacional no processo de demarcação, traz o
entendimento do Supremo Tribunal Federal (marco temporal e condicionantes) para
o texto constitucional, com o objetivo de pacificação dos conflitos no campo,
estancando a insegurança jurídica, pois obrigará a Funai e o MPF a cumprir
essas determinações. Problema: o conflito existe porque a Funai (Governo
Federal) e o Ministério Público Federal (MPF) insistem em discordar do
posicionamento do Supremo Tribunal Federal (marco temporal e condicionantes),
pretendendo demarcar terras indígenas com base no argumento inconstitucional de
que os índios têm o direito originário sobre as terras que ocupam não
respeitando as leis tão pouco se as terras foram invadidas por índios ou não.”
Outra proposta inclui um “menor número de órgãos públicos para tratar
das questões do agronegócio” que se efetivaria com a incorporação de partes das
atividades do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA e a transferência dos programas
sociais do MDA e do extinto Ministério da Pesca para o Ministério do
Desenvolvimento Social. Na prática, a
proposta é a extinção do MDA, ministério criado durante o governo FHC em 1999.
Destino
semelhante teria a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), empresa pública
vinculada ao MAPA, para qual a FPA propõe “a revisão da necessidade de
existência”. Propõe-se ainda a “revisão
das funções do INCRA e do sistema de cadastramento das propriedades rurais”,
não ficando claro para onde iria a autarquia com a extinção do MDA. Secretários Estaduais de Agricultura e intelectuais
ligados ao agronegócio vão mais longe, e estão propondo também a extinção do
INCRA, conforme revela matéria de O Valor.
Na
área de meio ambiente, as propostas vão de “transformar o CONAMA em órgão consultivo,
em vez de deliberativo”; a regulamentação da Lei 13.123 de 2015, sobre recursos
genéticos e do Código Florestal, especialmente o Art. 42, sobre conversão de
multas em serviços ambientais.
Em
relação ao trabalho no campo, as propostas são:
-
Adequar a legislação para as condições da economia familiar;
-
Fazer ajustes e concluir a votação da lei sobre terceirização, PLC 30/2015;
-
Adaptar a legislação trabalhista à realidade do campo;
-
Estabelecer diferenciação entre trabalho escravo, condições degradantes de
trabalho e jornada exaustiva;
-
Estabelecer limitações aos auditores do trabalho [que atuam no combate ao trabalho escravo] e às edições de Normas
Regulamentadoras do Trabalho (NRs).