Sete homens encapuzados e
armados abriram fogo contra auditores após denúncia de agressão e maus tratos
contra trabalhadores de uma fazenda
Sete homens encapuzados e armados abriraram fogo
na último dia 18, contra agentes federais que estavam dentro de uma caminhonete
numa estrada de São Félix do Xingu, no sul do Pará. A Polícia Federal investiga o caso, divulgado
na quinta-feira, 19.
O grupo foi localizado por fiscais e auditores
do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), que combate o trabalho escravo,
após denúncia de agressão e maus tratos contra trabalhadores de uma fazenda.
Escoltados por policiais rodoviários federais, os agentes federais reagiram e
trocaram tiros com os criminosos, que abandonaram o automóvel que ocupavam e
fugiram pela mata. Eles deixaram no veículo documentos, armamento, munição,
GPS, rádio e uma elevada quantidade de dinheiro. Nenhum dos fiscais, auditores
ou policiais ficou ferido.
Segundo a vice-presidente da Associação Nacional
dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Ana Cláudia Bandeira Monteiro, isso foi
“um ataque absurdo à própria ação do estado brasileiro na proteção aos direitos
de trabalhadores”. Para ela, a redução do trabalho dos fiscais, na
intensificação do combate ao trabalho escravo, principalmente em regiões de
difícil acesso, como no caso do Pará, por alegada escassez de recursos do
governo federal, representa um “lamentável retrocesso”.
A procuradora disse ao Estado reconhecer que o
quadro nacional é de crise econômica, mas enfatiza que a fiscalização pelo
Grupo Móvel nas fazendas onde há denúncias de trabalho escravo “deve ser uma
prioridade”, pois significa a “promoção da cidadania e a reafirmação do estado
democrático”.
“O país não pode crescer com a precarização das
condições de trabalho e nem com o barateamento da mão-de-obra, como ocorre no
trabalho escravo”, resumiu a procuradora, observando que o atentado ocorrido na
quarta-feira no Pará terá de ser esclarecido com o indiciamento e punição dos
responsáveis.
Para o presidente do Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Carlos Silva, “atos truculentos como
este atentam contra o estado democrático de direito e têm por objetivo impedir
a atuação dos auditores-fiscais.”
Por ordem da Secretaria de Inspeção do Trabalho
(SIT), do Ministério do Trabalho, a operação em São Félix do Xingu está
suspensa até que a ocorrência seja investigada pela polícia e o grupo possa
voltar a trabalhar em segurança. Silva disse que a segurança dos auditores é um
tema constante na pauta do Sinait e afirmou que ameaças e agressões são
relatadas com frequência.
Unaí. Caso semelhante acabou com a morte de três
fiscais do trabalho e um motorista em Unaí, no interior de Minas gerais em 28
de janeiro de 2004. Ele foram assassinados a tiros por pistoleiros. Em novembro
do ano passado, um dos mandantes do crime, o ex-prefeito de Unaí, Antério
Mânica, foi condenado a 100 anos de prisão.
Fonte: O Estado de São Paulo - 24 de maio de
2016