Pode chegar a 80 o número de
indígenas da etnia ianomâmi assassinados por garimpeiros na região fronteiriça
entre o Brasil e a Venezuela. As primeiras informações foram obtidas por
indígenas sobreviventes que se encontram dos dois lados da fronteira e relatam
que garimpeiros brasileiros invadiram e tentaram estuprar mulheres da aldeia
Irothatheri. Diante da resistência dos indígenas, os garimpeiros teriam
iniciado o extermínio do grupo.
O caso está sendo
investigado pela Promotoria da Venezuela e pela Fundação Nacional do Índio
(Funai) do Brasil que está levantando informações via rádio. As principais
informações até agora divulgadas são de Organizações Não Governamentais que
atuam na região, que é de difícil acesso.
O ataque contra os indígenas
teria ocorrido em julho, mas os detalhes do massacre só começam a vir à tona
agora com o encontro de sobreviventes.
De acordo com a Survival
International, vários corpos carbonizados foram encontrados por outros
indígenas que visitavam a aldeia. No caminho de retorno eles teriam encontrado
um grupo de três sobreviventes ainda no lado venezuelano.
”Testemunhas que conversaram
com os três sobreviventes do ataque contaram que a comunidade Irotatheri foi
atacada e que ali vivem aproximadamente 80 pessoas. Esse é o número de mortos
com o qual estamos trabalhando, mas esse dado ainda não foi confirmado”, disse
à BBC Mundo Luis Shatiwë, secretário-executivo da organização ianomâmi
Horonami.
”Os três sobreviventes
disseram que não podiam abandonar a aldeia, já que tinham ali os corpos sem
vida de seus entes queridos. E pediram aos visitantes que transmitissem a
informação ao exterior e pedissem ajuda. Assim começou o itinerário de volta,
que culminou nesta semana, com a apresentação da denúncia formal do massacre
perante as autoridades de Puerto Ayacucho (na Venezuela)”, contou Shatiwë.
Especialistas que conhecem a
região e a realidade das comunidades pediram cautela e advertiram sobre a
dificuldade em verificar-se a precisão das denúncias, em parte pelo fato de que
é complicado o acesso à zona conhecida como Alto Orinoco.
Nesta quinta-feira (30),
outros ianomâmi que dizem ter escapado da chacina foram encontrados no Brasil,
segundo informações do Instituto Socioambiental (ISA). Até então, os
sobreviventes haviam sido achados somente na Venezuela. Os indígenas chegaram
feridos à aldeia Onkiola, segundo o instituto. A vila fica na região de Auaris,
no extremo noroeste de Roraima, distante 450 km da capital, Boa Vista.
Os garimpeiros teriam usado
armas de fogo e explosivos contra a aldeia, segundo relatos dados pelos
sobreviventes às ONGs.
Histórico
Os ianomâmi são uma das
maiores tribos relativamente isoladas da América do Sul. Vivem em florestas
tropicais e em montanhas no norte do Brasil e no sul da Venezuela. No Brasil,
seu território tem o dobro do tamanho da Suíça. Na Venezuela, os índios
ianomâmis vivem em uma região de 8,2 milhões de hectares no Alto Orinoco.
Juntas, as duas regiões formam o maior território indígena florestal em todo o
mundo.
Em março deste ano, o líder
ianomâmi Davi Kopenawa havia alertado a ONU, em Genebra, sobre os perigos
trazidos pela mineração ilegal, colocando a vida de indígenas em risco,
principalmente em tribos isoladas, e contribuindo para a destruição da floresta
e a poluição de rios.
Em 1993, uma incursão de
garimpeiros da comunidade Haximú, em território venezuelano, levou à morte de
16 ianomâmis.