Kelly Matos*
O que era para ser o discurso do representante da presidente Dilma
Rousseff na abertura da Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente
transformou-se em confusão no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
Assim que teve seu nome anunciado pelo mestre de cerimônia de
eventos, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, foi
muito vaiado por representantes de sindicatos que representam trabalhadores em
greve.
"Traidor, traidor!", gritavam os grevistas em pé. As
manifestações seguiram: "A greve continua. Dilma a culpa é sua!".
Carvalho tentou iniciar o discurso dizendo que o governo sempre
buscou o diálogo. Gritando, afirmou que, em nenhum momento, o Planalto havia
dito que não faria proposta de reajuste aos servidores. Os manifestantes se
retiraram do auditório e seguiram vaiando o ministro. "Pelego!",
diziam.
O ministro condenou a atitude dos sindicalistas e tentou continuar
o discurso ainda aos gritos. "O governo da presidente Dilma não tem medo
da manifestação nem do diálogo, e assim seguiremos até o final do nosso mandato
em 2014".
Nesse momento, o Carvalho recebeu aplausos de participantes do
evento e de outros ministros que estavam junto à mesa de autoridades.
'INCIVILIDADE'
Com muitas vaias até o fim do seu discurso, o ministro encerrou
sua fala dizendo que não poderia aceitar a "indelicadeza" e a
"incivilidade" dos manifestantes. "Esse tipo de manifestação não
é próprio do verdadeiro servidor publico, a quem seguiremos respeitando",
encerrou.
Ainda sob vaias, Carvalho dirigiu-se à mesa reservada às
autoridades do evento. Antes de sentar-se, porém, dirigiu-se ao presidente da
CUT, Vagner Freitas, e cobrou do sindicalista o episódio ocorrido. Vagner
acenou e fez sinal de que 'nada puderia fazer'.
Mais cedo, o presidente da CUT já havia classificado o atual
modelo de gestão dos trabalhadores feito pelo governo federal de
"arcaico" e "falido". "Não existe negociação efetiva
quando a parte patronal, neste casso o governo, não faz contraproposta. Não
existe respeito ao legítimo direito de greve quando o governo edita o decreto
7.777, para substituir os grevistas", afirmou Freitas.
Depois, ao deixar o evento, o ministro Gilberto Carvalho, que
estava rouco, respondeu às acusações de "traidor" por parte dos
grevistas: "Tenho minha consciência, sei por quem eu luto e os servidores
não me consideram traidor. Estou muito tranquilo quanto a isso".
Fonte: Folha
Fotografias: SINDSEP-DF