No rastro da greve de servidores federais,
sem-terra, índios e quilombolas pretendem reunir 300 mil
Movimentos
sociais como o dos Sem-Terra (MST), o de agricultores (Contag), de índios e
quilombolas (Conaq) já pensam em reeditar no campo a mobilização feita pelos
servidores federais no últimos três meses.
Insatisfeitos
com a "inoperância" do governo de Dilma Rousseff em relação a
políticas públicas de agricultura familiar e aos dez meses sem resposta às
propostas apresentadas, consideram organizar "uma grande marcha com 300
mil pessoas na rua", disse ontem ao Estado o secretário de Política
Agrária da Contag, Willian Clementino, que também é diretor nacional da Central
Única dos Trabalhadores (CUT) do ramo rural. Sua avaliação é que Lula teve mais
sensibilidade às questões do campo do que Dilma. Para o representante da Via
Campesina, João Pedro Stédile, "a presidente não tem o mesmo carisma de
Lula, não dialoga com a sociedade, está muito difícil".
Clementino
considera que a marcha possa ocorrer ainda este ano porque as lideranças não
suportam mais se sentar com ministros e secretários para discutir questões
pontuais, quando na verdade reivindicam uma política efetiva de reforma
agrária. "Há 200 mil famílias acampadas e se o governo não nos disser em
quanto tempo serão assentadas, podemos sair marchando." Por fim, reiterou
que os trabalhadores resistirão no campo, nas áreas quilombolas e indígenas.
As
declarações foram dadas no Encontro Unitário, realizado em Brasília para afinar
as reivindicações de movimentos sociais rurais contra o que chamam de modelo
agrário de prioridade ao agronegócio. Acampados em barracas no Parque da Cidade
pelos próximos dois dias, essas lideranças estão se articulando também com
centrais sindicais urbanas para definir quais serão as reivindicações. Isso
demonstra que o governo não terá muito tempo de tranquilidade, mesmo se
dissipar a greve dos servidores.
A ideia
de Stédile é convocar a sociedade para levar a Presidência, "que está
parada há dois anos", a tomar consciência da necessidade de reforma
agrária. Para ele, a greve em setores como o Incra "só demonstra a
incompetência do governo, que não tem projetos, enquanto os servidores ficam
reféns de sua inoperância. Só isso explica o fato de o Incra já ter tido 12 mil
trabalhadores e hoje ter apenas 6 mil." Esse movimento, avisa, já cansou
de apresentar propostas. Consideram que "o governo está em dívida" e
vão brigar por respostas.
Fonte: Agência Estado