quarta-feira, 15 de agosto de 2012

TRF suspende construção da Usina de Belo Monte


Por decisão da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) foi determinado a paralisação imediata das obras da Usina Hidrelétrica de  Belo Monte, no Rio Xingu no Pará. Após quatro horas de discussão, a decisão foi tomada de forma unânime na noite de segunda-feira, 13 de agosto. Os juízes entenderam que a  liberação do empreendimento, considerado prioritário pelo governo,  desrespeitou a Constituição Federal — pelo fato de as comunidades  indígenas locais não terem sido consultadas previamente — e a Convenção  169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que também trata do  tema.
O acórdão prevê multa diária de  R$ 500 mil ao Consórcio Norte Energia, responsável pela construção da  usina, em caso de descumprimento da decisão.
O desembargador Souza Prudente, relator  do processo na 5ª Turma do TRF-1, culpa o Congresso Nacional pelas  irregularidades. Para ele, a aprovação do Decreto 788/2005, que  autorizou a construção de uma usina hidrelétrica na chamada “Volta Grande”  do Rio Xingu, atropelou a legislação. “A Constituição Federal e a  Convenção da OIT falam que o Congresso Nacional deve fazer uma consulta  aos povos tradicionais impactados, antes de autorizar qualquer programa  de exploração de recursos existentes em suas terras. Ao contrário disso,  deputados e senadores aprovaram o decreto que permitiu o início das  obras, prevendo uma consulta póstuma, e não prévia”, diz.
Para o  magistrado, o tribunal reformou uma decisão que teve origem em uma  premissa equivocada. Segundo ele, a então ministra Ellen Gracie, do  Supremo Tribunal Federal, considerou legal o Decreto 788/2005 do  Congresso porque o que estava em análise não era uma ação de  inconstitucionalidade, e sim, um pedido de suspensão de liminar feito em  2007 pela AGU. Em segundo lugar, a ministra não poderia,  sozinha, declarar a constitucionalidade de uma norma qualquer do direito  brasileiro. “Isso é uma reserva de plenário. Só dois terços da  composição plenária do Supremo podem tomar decisões nesse sentido.”
Ele  assinala ainda que o Decreto 788/2005, que levou menos de um mês para  ser aprovado no Congresso, demonstra uma postura “autoritária” do então  presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra da Casa Civil do  governo dele, a atual presidente, Dilma Rousseff. “É um paradoxo  imaginar que duas pessoas que sofreram a perseguição de um regime  ditatorial, que foram classificadas de subversivas por lutar pelos  ideais democráticos, queiram forçar a implantação de uma usina sem  seguir o devido processo legal.” Segundo ele, além de ouvir de forma  adequada 11 comunidades indígenas atingidas pela barragem, segundo  levantamento do Ministério Público Federal (MPF), o governo tem que  garantir a participação dos índios nos lucros da hidrelétrica. “Isso  está na lei, não somos contra o capitalismo ou o crescimento econômico,  estamos aqui para defender a lei.”
Belo Monte, cuja produção de  eletricidade só será menor que a de Itaipu, no Rio Paraná, é alvo de  controvérsias desde os primeiros estudos, iniciados ainda na década de  1980. Ambientalistas, lideranças indígenas e, mais recentemente,  organizações da sociedade civil mantêm uma mobilização forte contra a  instalação da usina. Enquanto o governo defende o investimento para  ampliar a capacidade de geração de energia em 4,5 mil megawatts,  suficientes para atender a 40% do consumo residencial do país,  manifestantes garantem que esse número está superestimado. Também  denunciam que os impactos da obra no ambiente e nas comunidades  tradicionais não foram devidamente estudados e que não há políticas  compensatórias adequadas.
Além do imbróglio jurídico, protestos de  trabalhadores por aumento de salários e melhores condições de trabalho  têm provocado conflitos no canteiro de Belo Monte. No início de abril  deste ano, grevistas chegaram a montar barricadas nas estradas de acesso  à barragem. Em junho, foi a vez de um grupo de mais de 300 índios  ocupar o canteiro, para pedir a suspensão das obras.
 Com informações do Correio Braziliense
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