Homens armados em quatro
caminhonetes e um trator atacaram violentamente os indígenas Guarani e Kaiowa
acampados no tekoha Guapoy, na Terra Indígena (TI) Dourados-Amambaipeguá I, na
noite desta segunda, 11, no município de Caarapó (MS), no mesmo local onde foi assassinado o agente de saúde
Clodiodi de Souza no mês passado.
Três pessoas foram atingidas por tiros de
armas de fogo: um adulto de 32 anos e dois jovens, um de 15 e outro de 17 anos.
Um deles está em estado grave, e ainda não foram encaminhados para o hospital.
O ataque ocorreu sob a presença na região da Força Nacional de Segurança.
Além do massacre de 14 de junho, os indígenas de Caarapó ainda
enfrentam uma ordem de reintegração de posse contra a comunidade
acampada no tekoha Kunumi Vera – outro acampamento que compõe a mesma TI – e uma ameaça de prisão de lideranças. Há relatos deperseguição sofrida pelos Kaiowa e Guarani na cidade.
Este não é o primeiro ataque
contra Guapoy. Em 19 de
junho, indígenas relataram ter sido atacados a tiros por homens em
caminhonetes, mas ninguém havia ficado ferido.
O último ataque, contudo,
foi mais violento. Os Kaiowa relatam que, por volta das 9 da noite de segunda,
11, as famílias do Guapoy estavam dançando guaxiré e rezando, quando
visualizaram um trator do tipo pá-carregadeira e quatro caminhonetes rondando a
área do equipamento, além de sons de disparos.
Cerca de uma hora depois, os
veículos se aproximaram do acampamento. “Eles vinham bem devagarzinho. Na
frente, a ‘concha’ [trator] com os faróis acesos. Atrás, as caminhonetes, de
luzesapagadas. Aí eles começaram a gritaram ‘sai daí, seus vagabundos!’, e
vinham na nossa direção”, relata C., um dos sobreviventes.
“Aí desligou as luzes da
‘concha’, e ligou das caminhonetes. Foi aí que dois homens dentro da ‘concha’
apareceram e começaram a atirar, e outros das caminhonetes também saíram
atirando, e a gente saiu tudo correndo”, continua outro indígena, R., também
atingido pelos tiros.
No ataque, três indígenas –
um adulto, O., de 32 anos, e dos menores de idade – C., de 17, e R., de 15 anos
– foram atingidos por tiros. O. levou um tiro que atravessou seu braço, e R.
levou um tiro no joelho. O tiro que atingiu C. atravessou seu braço e também o
tronco – a bala agora está alojada no tórax, e ele corre risco de complicações.
E não se trata de munição de borracha.
As duas afirmações – sobre o
estado de saúde e o tipo de munição que atingiu os indígenas – vem da equipe
médica do posto de saúde da reserva Tey’ikue, onde estão sendo atendidos os
indígenas, na manhã desta terça, 12. Segundo eles, os projéteis que atingiram
os indígenas aparenta ser ao menos de calibre 38. C. apresenta sinais de
atelectasia e precisa ser levado a um hospital com urgência.
Indígenas que sofreram o
ataque afirmam reconhecer ao menos quatro dos homens que os atacaram à noite
como proprietários e funcionários de fazendas da região.