O ex-ministro Antonio Palocci |
O
empresário Otávio Marques Azevedo, presidente afastado da Andrade Gutierrez,
afirmou em sua delação premiada que o ex-ministro Antonio Palocci cobrou R$ 15
milhões referentes a contratos para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte. O dinheiro, segundo a delação, foi repassado ao economista Delfim Netto
– ex-ministro da Fazenda no período da ditadura e um dos principais
conselheiros do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parte dos valores
teria sido direcionado ao PT via doações oficiais nas campanhas de 2010, 2012 e
2014.
“Antonio
Palocci, provavelmente em São Paulo, solicitou ao declarante o pagamento de R$
15 milhões para Delfim Netto dedutível do 1% de propina a ser paga”, afirmou o
presidente afastado da Andrade. “A empresa atendeu essa determinação de
Palocci, porém descontou o valor pago a Delfim do montante total solicitado aos
partidos PMDB e PT, em partes iguais.”
Palocci
foi ministro da Casa Civil do governo de Dilma Rousseff e um dos coordenadores
de campanha da petista em 2010. Ele já havia sido citado em outras delações da
Lava Jato e, à época, afirmou que “jamais solicitou de quem quer que seja
dinheiro ilícito”.
O
leilão para construção e operação de Belo Monte foi realizado entre 2010 e
2011. Um dos consórcios era integrado pela Andrade Gutierrez. A empresa fez um
acordo de leniência. Segundo Andrade, 1% do bilionário contrato das obras de
Belo Monte envolveu propina acertada com PMDB e PT.
O presidente da construtora Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, ao ser preso pela Lava Jato em 2015 |
Doações
“O
pagamento do PT foi feito em doação oficial, ou seja, em doação eleitoral. O
pagamento do PMDB, não sabe informar que foi feito em doação eleitoral, mas,
possivelmente, também pode ter sido pago parte em dinheiro”, afirma o
empreiteiro, segundo o termo de delação premiada.
Azevedo
afirmou que a campanha de 2014 do PT recebeu R$ 4,5 milhões em doações da
Andrade Gutierrez, que seria referente a R$ 10 milhões do acerto de Belo Monte.
“Os valores a título de propina, no caso do PT, foram realizados, em parcelas,
como doação eleitoral, como já dito. Que, no caso do PT, as propinas foram
pagas, no montante de (R$) 10 milhões, da seguinte forma: em 2010, o valor de
2,5 milhões de reais; em 2012, o valor de 1,6 milhão de reais; em 2014, no
valor de 4,5 milhões de reais e, para Delfim Neto, o valor de 1,4 milhão de
reais”, registra a delação.
O
delator apontou os nomes do ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão
(PMDB-MA) e do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto como responsáveis pela
indicação de como seriam feitos os repasses, relacionados à contribuição
partidária.
Ex-ministro
Os
pagamentos a Delfim teriam relação com a formação do consórcio vencedor do
leilão de obras – negócio de R$ 13 bilhões – com o pecuarista José Carlos
Bumlai, amigo de Lula.
“O
grupo concorrente era formado por empresas de pequeno porte, sem experiência no
setor e sem necessário conhecimento do projeto Belo Monte, e que, soube mais
tarde, ter sido estrutura com a ajuda de Delfim Neto e José Carlos Bumlai, de
forma que era absolutamente previsível que não conseguiriam prepara um estudo
adequado para participar do leilão”, explicou o presidente afastado da Andrade
Gutierrez.
Defesas
O
ex-ministro Antonio Palocci nega ter participado de qualquer negociação
envolvendo a montagem do consórcio das obras da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte e afirma ser “totalmente mentirosa” qualquer insinuação de que teria
solicitado contrapartida financeira para beneficiar partidos políticos,
conforme afirma o presidente afastado da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de
Azevedo, em sua delação premiada.
Em
sua defesa, o petista afirma que em 2010 exercia mandato de deputado federal e
não tinha nenhuma participação nas decisões governamentais sobre o setor
elétrico. Palocci ressalta ainda a absoluta incongruência de se falar em
contribuição para a campanha presidencial de 2010 vinculada a uma obra cujo
contrato só ocorreu em 2011.
Palocci
foi ministro da Fazenda no governo Luiz Inácio Lula da Silva até 2006 e, após a
eleição de Dilma Rousseff, em 2010, assumiu a Casa Civil.
Procurada
ontem, a defesa do ex-ministro Delfim Netto informou que só vai se manifestar
depois que tiver acesso à denúncia contra o ex-ministro. Ao ter o nome citado
na operação anteriormente, Delfim disse que havia feito uma “assessoria” para o
processo de concorrência da usina.
“Antes
do leilão (de Belo Monte) só existia um concorrente. Ajudei a montar o segundo
grupo para competir com o primeiro. Prestei uma assessoria. O segundo grupo era
formado por empresas menores que não estavam no grupo anterior. Era uma
montagem (do segundo grupo) para que houvesse concorrência. Depois ficou
visível que isso não ia acontecer. A Eletrobrás tomou conta do processo. Isso
aconteceu entre 2011 e 2012. Então eu me retirei normalmente. Terminou, não ia
ter concorrência. Ia ter uma escolha direta”, afirmou.
Em
março, quando o jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que seu nome havia sido
citado na delação da Andrade Gutierrez, Delfim afirmou: “Eu não recebi nada. O
que eu recebi foi por essa assessoria. Nunca recebi nada por conta de Belo
Monte. Foi uma vida muito efêmera. Eu nunca recebi absolutamente nada.”
Com
as obras em andamento no rio Xingu, próximo do município de Altamira (PA), Belo
Monte será a 3.ª maior hidrelétrica do mundo. A conclusão da obra é prevista
para janeiro de 2019. O investimento total é estimado em R$ 28,9 bilhões.
Também
citados na delação do presidente afastado da Andrade, o senador Edison Lobão
(PMDB-MA) e as defesas do pecuarista José Carlos Bumlai e do ex-tesoureiro do
PT João Vaccari Neto não foram localizados para comentar o caso. As informações
são do jornal “O Estado de S. Paulo”.
Fonte: UOL Notícias