Por Tiago
Botelho*
O
dia de hoje [07 de julho] foi o mais truculento que já presenciei pela tal (in)Justiça
brasileira. Às 5:30, recebo um telefonema do indígena Kunumin, filho da cacica
Damiana de que sua terra indígena Apyka’i em Dourados – MS, tinha sido tomada
por policiais e que um despejo insano daria início.
Nos
meus piores pesadelos, jamais imaginei ver cenas de uma guerra civil com o
objetivo de despejar apenas nove seres humanos indígenas desarmados de sua
terra sagrada. Mesmo antes da FUNAI chegar, ato totalmente desmedido para
despejo, aproximadamente 60 homens, fortemente armados, encapuzados, tomados
pelo semblante do ódio quebraram as cercas e pedindo “paz”, coagiram moralmente
com suas armas bem visíveis, toda a comunidade a deixar a Terra da Vida.
Sozinho
e sem poder fazer muita coisa, via tudo aquilo perplexo, minha vontade era de
gritar, parar de alguma forma tudo aquilo, clamar à algum ser supremo que não
deixasse aqueles seres humanos tratarem com tanta indignidade seus iguais. Mas,
a racionalidade humana, passou a quebrar os barracos, jogar os pertences em um
caminhão, o altar sagrado foi destruído, queimaram e com uma patrola soterraram
a comunidade.
Fui
colocado para fora por homens armados. Às margens da BR, encontrei amigos que
foram barrados de entrar e resolvi chorar um pouco de dor. Quando vi o indigena
Sandriel (10 anos) e Dona Damiana que cantava, ele abraçou-me e chorou lágrimas
de terra e injustiça. Era uma criança e uma senhora que jamais poderiam viver
tamanho desrespeito. Minhas lágrimas se misturaram com as de Sandriel e por
minutos, abraçados, choramos!
Eu
não tinha nada para falar àquele ser tão lindo e inofensivo. Para piorar a
desgraça da manhã, começou a chover e não tínhamos para onde ir. Coloquei as
crianças num carro do SAMU e passamos a construir barracos.
Após
a chuva, volta o lindo Sandriel e me diz: – Tiago, tinha feito todas as tarefas
que você passou, mas eles queimaram. Novas lágrimas! Mas, por estar sorrindo,
respondi: – Sandriel, compraremos tudo novamente e vamos aprender a escrever.
Tudo ficará bem! Sua nova morada é às margens da BR, sem acesso ao rio-água e
ao local sagrado em que estão enterrados seus antepassados.
A
partir de agora, na terra Apyka’i, estão jagunços pago pelo proprietário com
armas para impedirem com que nove indígenas entrem em suas terras. Que Nhanderú
proteja esses seres humanos que lutam pelo simples direito de Viver.
*Tiago
Botelho é professor, doutorando em Direito Público pela Universidade de Coimbra
e professor da UFGD. Publicado originalmente no Campo Grande News.