Índios Juruna dizem que vão resistir à qualquer tentativa de desbloquear a rodovia | Darlan Fredson-Agência de Notícia Cultura Show |
Indígenas dizem que condicionante
socioambiental que garantia acesso ao reservatório e obras de infraestrutura
também estão paralisadas mesmo após início da operação da usina
Por: Letícia Leite*
A
usina de Belo Monte desviou o Rio Xingu e reduziu a vazão de água em cerca de
100 km de extensão na Volta Grande do Xingu (PA). Como condição para a
hidrelétrica operar, os índios Juruna deveriam ter recebido apoio para promover
roças e outras atividades produtivas da Norte Energia, empresa responsável pela
hidrelétrica. O peixe, principal fonte de alimentação e renda das
comunidades, ficou escasso após a o início da operação da barragem, em março.
Na
madruga de segunda (27/6), um grupo de 30 indígenas bloqueou o acesso aos
canteiros para exigir que o programa de apoio a essas atividades volte a
funcionar. O cacique Giliarde Juruna afirma que várias obras de infraestrutura
não foram executadas e as atividades produtivas estão paralisadas nas aldeias
da Terra Indígena Paquiçamba, território originário do Povo Juruna, há quase um
ano. A ampliação da área e garantia de acesso ao lago reservatório da usina
também estão na lista de reivindicações dos índios.
“A gente vê tanto dinheiro sendo gasto
e nada funcionando dentro da aldeia. Nos relatórios está tudo bem. Coisa que,
na prática, não está”, denunciou Giliarde à Rádio Nacional da Amazônia (ouça a entrevista na íntegra).
O
trecho bloqueado fica na BR-230, em Vitória do Xingu, a 27 quilômetros de
Altamira. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, cerca de 28 ônibus que
faziam o transporte dos operários da hidrelétrica foram impedidos de passar.
Ainda segundo a PRF, o protesto é pacífico e não há congestionamento no local.
O escritório para assuntos indígenas da Norte Energia também foi ocupado, mas
liberado no início da tarde, como mostra reportagem da TV Liberal.
Uma
decisão da Justiça Federal de Altamira determinou a liberação da rodovia até às
10h desta quinta (30/6). Os manifestantes dizem que irão resistir.
Caos na Saúde
Construído
em 2015 como parte das condicionantes de Belo Monte para atender a sobrecarga
nos serviços de saúde provocada pela hidrelétrica, o Hospital Municipal de
Altamira nunca chegou a funcionar. O Ministério Público Federal (MPF) convocou
autoridades de Saúde do estado e do município, na tarde de hoje, para a
assinatura de um termo de compromisso para a inauguração do prédio e o início
do serviço.
Em
maio de 2016, após um surto de gripe H1N1 que atingiu as aldeias da região e
matou oito índios, alguns esperando internação na cidade, o MPF recomendou às
autoridades providências imediatas para abertura do novo hospital. Uma vistoria
no prédio mostrou que já há deterioração por causa do abandono da estrutura.
O plano apresentado ao MPF dá prazo de
120 dias para que todas as providências sejam tomadas e o hospital abra as
portas para atender a população, mas vai ter que ser readequado e só depois
disso é que a condicionante poderá ser considerada parcialmente cumprida (confira a matéria completa no site
do MPF).
*Fonte: ISA