O
governo estuda mexer na legislação que proíbe a venda de terras para
estrangeiros e também deve tratar da demarcação de terras indígenas e de
mudanças no processo de licenciamento ambiental, admitiu nesta terça-feira o
presidente interino, Michel Temer, em almoço com a Frente Parlamentar
Agropecuária.
As
três questões estão no centro da uma carta entregue pela Frente a Temer durante
o almoço. O grupo de parlamentares, todos ligados ao agronegócio, reclamam do
atual modelo de demarcação de terras indígenas, da demora dos projetos de
licenciamento ambiental e também da vedação da venda de terras a estrangeiros,
afirmando que as medidas limitam a capacidade de crescimento do setor.
No
discurso, Temer confirmou que o governo estuda maneiras de autorizar a compra
de terras por estrangeiros. Lembrou que o impedimento não é uma questão de
legislação, mas causado por um parecer da Advocacia-Geral da União.
“Vocês
sabem que estamos estudando isso acentuadamente. Essa questão ficou paralisada
por força de um parecer da AGU. Não há exatamente uma lei expondo sobre isso”,
disse. “Essa matéria está sendo examinada tendo em vista a modernidade
nacional.”
De
acordo com o presidente interino, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) já
preparou um pré-projeto para rever a atual legislação que rege o licenciamento
ambiental. “Eu verifiquei que poderia solucionar, com aperfeiçoamentos, essa
questão antiga do licenciamento ambiental que, muitas e muitas vezes, é
impeditiva do progresso na agricultura e no campo”, disse Temer.
No
final de abril, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou uma
proposta de emenda constitucional que acaba com a exigência do licenciamento,
substituindo-o apenas por um estudo de impacto ambiental. O relator foi o atual
ministro da Agricultura, Blairo Maggi.
A
questão indígena é outro tema que incomoda a FPA. Os parlamentares alegam que
as demarcações vão, muitas vezes, além do necessário para os grupos indígenas,
entre outras reclamações. Temer não prometeu revê-las, como quer parte da base
aliada, mas acelerar os processos.
De
acordo com o presidente interino, o prazo determinado em lei de cinco anos para
demarcações nunca foi cumprido. “Nós vamos tomar conta disso. Vamos tentar
solucionar esse problema e quando eu digo isso não é para agredir a nação
indígena, ao contrário, é mais uma vez para dar estabilidade social para o
país”, garantiu.
Reformas
Temer
defendeu ainda as propostas de reforma da Previdência e de legislação
trabalhista, mesmo reconhecendo que vai haver resistência. Lembrou que o
déficit previdenciário de 2017 ultrapassa 50 bilhões e que a reforma
trabalhista tem a intenção de garantir empregos.
“É
muito provável que haja resistência, principalmente de um movimento político
que não pensa moralmente o país, que diz que ‘olha aqui, querem acabar com
direitos trabalhista”, alegou.
Golpe
Ao
falar com parlamentares, o presidente interino elogiou a relação com o
Congresso, afirmou que tem uma base como nunca antes viu no Parlamento e chegou
a dizer que às vezes se esquece que é interino.
“Estou
em uma situação de interinidade, mas às vezes me esqueço disso e ajo como
efetivo”, disse, ao defender as medidas que o governo vem tomando.
Temer
disse ainda que a tese de “golpe” parlamentar, apregoada pela presidente
afastada Dilma Rousseff, “caiu por terra”.
“No
instante em que, por razões mais variadas, a senhora presidente sofreu um
processo de impedimento, fez com que assumisse por força da Constituição o
vice-presidente”, disse.
“As
pessoas fingem que não sabem o que é golpe. Golpe é romper com a ordem
constituída. Ao contrário, houve uma conformidade com o texto constitucional.
Essa questão do golpe já foi compreendida e caiu por terra”, afirmou.
*Fonte: Reuters
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