sábado, 6 de setembro de 2014

Amazônia, Reforma Agrária, quilombolas, indígenas e meio ambiente no programa eleitoral de Marina Silva (PSB)


Foi verificada no documento  “Programa de Governo – Plano de Ação para Mudar o Brasil”  (241 páginas) da candidata Marina Silva (PSB) a ocorrência das seguintes temáticas:

Amazônia: as palavras Amazônia e região amazônica são citadas ao todo 27 (vinte e sete vezes) no documento, entre diagnósticos e propostas.  Algumas vezes a palavra aparece ligada a temáticas como meio ambiente, reforma agrária e indígenas, sendo aqui tratadas nestes temas.

No Plano de Marina, no Eixo 1 (“Estado e Democracia”) é criticado o fato de o Brasil ter perdido o protagonismo internacional nos debates sobre desenvolvimento sustentável. Em contrapartida, o plano defende um Pacto Amazônico entre os países da Pan-Amazônia destinado à proteção dos biomas em comum e ao desenvolvimento regional.

A Amazônia é citada no documento também no Eixo 2: “Economia para o desenvolvimento sustentável", onde se diz:

“A agropecuária brasileira teve importantes ganhos de produtividade nas últimas décadas. A produção cresce mais rápido do que a área cultivada/ pastoreada, mas há importantes desafios a enfrentar para torná-la adequada do ponto de vista socioambiental. Isso porque, apesar de o desmatamento para conversão de áreas florestais para uso agropecuário na Amazônia ter caído de forma expressiva na última década, a expansão ainda avança sobre áreas de florestas e outras formações de vegetação natural em todos os biomas brasileiros, especialmente no Cerrado.”

“(...) será garantir os aportes necessários para o atendimento dos objetivos do Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que deverão ser financiados pelo poder público ou por meio de linhas de crédito. Os recursos serão destinados a estimular o manejo e a recuperação de pastagens, especialmente na Amazônia Legal.”

No mesmo Eixo 2, mas agora capítulo “Conservação e uso sustentável da biodiversidade” é dito:

“Apesar desse enorme potencial, que eleva o Brasil à condição de ‘potência ambiental’, os processos de degradação evoluem em ritmo extremamente acelerado no país. Segundo os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável publicados pelo IBGE em 2012, o país já eliminou 88% da Mata Atlântica, 54% da Caatinga, 49% do Cerrado, 54% do Pampa, 20% da Amazônia e 15% do Pantanal.” 

Sobre a questão do desmatamento na região amazônica, é dito também:

“Tivemos avanços nos últimos 20 anos, como a redução expressiva do desmatamento na Amazônia, historicamente nossa principal fonte de emissões de GEE; a aprovação da Política Nacional de Mudanças Climáticas, com metas de redução de emissões; a criação do Fundo Amazônia; e a implementação do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemadem). Porém, os avanços estagnaram nos últimos três anos e, de fato, já há indícios de regressão nessas conquistas.”

“Esses fatos, que por si só já justificariam uma ação enérgica do governo, são agravados pela constatação de que grande parte do desmatamento é ilegal, realizado sem autorização dos órgãos públicos ou autorizado de forma fraudulenta ou com base em informações imprecisas e insuficientemente analisadas. Para reverter essa situação, a bem-sucedida experiência do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm) – que integrou a ação de 13 ministérios e órgãos do governo federal a partir de 2004, reduzindo o desmatamento na região em mais de 80% − será estendida aos demais biomas terrestres brasileiros (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas).”

A Amazônia é lembrada ainda em várias propostas ligadas ao Eixo de “Educação, Cultura e Ciência, Tecnologia e Inovação”.

Reforma Agrária: Aparece como um capítulo de 4 páginas dentro eixo programático “Economia para o desenvolvimento sustentável”. É citada em outros trechos do documento como nas áreas de direitos humanos, agricultura e movimentos sociais.  A expressão aparece 20 (vinte) vezes ao longo do programa.

É dito no programa que num governo Marina Silva seria adotada uma política onde a pequena propriedade seria uma atividade econômica complementar ao agronegócio de escala global. Como se daria isso? Não é especificado.

É afirmado que será adotada uma reforma agrária para além da “questão social” (resolução de conflitos, distribuição de terras e redução do êxodo rural). É criticada a queda no número de famílias assentadas, a concentração na criação de assentamentos em regiões mais isoladas, como a Amazônia, a redução no orçamento dos órgãos agrários e os baixos resultados no número de famílias assentadas durante o governo Dilma Rousseff.

Destaca a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a malha fundiária brasileira, e defende a unificação do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais do Incra, com o Cadastro de Imóveis Rurais (Cafir), da Receita Federal e o Cadastro Ambiental Rural (CAR), do Ministério do Meio Ambiente. A proposta de unificação dos cadastros aparece também entre as propostas ligadas a agriculta, incluindo ainda o cadastro de florestas do Serviço Florestal Brasileiro. O novo cadastro de terras seria chamado Cadastro Federal Integrado de Terras Públicas e Privadas.

Para a reforma agrária, há ainda as propostas que destaco:

Lançar uma força tarefa para solucionar os conflitos fundiários, assentando as 85 mil famílias hoje à espera de lotes, segundo estimativas dos movimentos sociais;
Incorporar à economia cerca de 1 milhão de famílias que vivem em minifúndios de agricultura de subsistência oferecendo-lhes assessoria técnica e crédito público subsidiado. A partir daí, elas poderão ter renda, gerando efeito multiplicador na comunidade local;
Priorizar, ao fazer novos assentamentos, a proximidade com as cidades médias do interior, que podem ser a base tanto para polos regionais como para oferta de serviços vinculados à atividade rural;
Atualizar os indicadores de produtividade agrícola e acelerar o diagnóstico da função social da propriedade rural nos aspectos produtivo, ambiental e trabalhista, permitindo a rápida desapropriação nos casos previstos em lei ou premiando aqueles que fazem uso correto da terra, por meio da criação de um Selo da Função Social;
Profissionalizar a gestão da política agrária, não permitindo o aparelhamento político de seus órgãos (Incra, MDA etc.).
Reorganizar o Incra e dotá-lo de recursos e competências que lhe permitam atuar no apoio aos assentamentos rurais e desenvolver programas de assistência aos assentados.

Também há um capítulo inteiro (2 páginas) dedicado à agricultura familiar em que a reforma agrária também é citada.  Para este segmento são 11 (onze) propostas, entre as quais está destinar 10% dos recursos orçamentários da Embrapa em pesquisas relacionadas à agricultura familiar, melhorar o acesso ao Programa de Aquisição de Alimentos e destinar mais recursos ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf).

No Eixo 6: “Cidadania e identidades”, no item  “Em defesa dos direitos humanos”, o programa da candidata propõe regulamentar uma bandeira histórica de movimentos de luta pela terra e de direitos humanos:

“Regulamentar o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico encontrado nas propriedades que sejam flagradas utilizando trabalho escravo e verificar a possibilidade de usar imóvel na reforma agrária ou em programas sociais.”

Dos três candidatos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é citado apenas no programa de Marina. Isso ocorre no Eixo 6, no capítulo “A Sociedade como Protagonista”. O MST é caracterizado como um movimento legítimo, com quem o seu governo manterá interlocução:

“Dentre os movimentos populares com maior força e peso político, podemos destacar, atualmente, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). O MST lançou bases entre 20 e 22 de janeiro de 1984, no 1º Encontro Nacional dos Sem Terra, em Cascavel, no Paraná. A reunião visava a organizar as ocupações de terra que estavam ocorrendo em 12 estados. O encontro definiu que a ocupação era um dos instrumentos legítimos de trabalhadores e trabalhadoras rurais para a democratizar a terra. Embora os ruralistas tenham imposto emendas à Constituição de 1988, que significaram retrocesso em relação ao Estatuto da Terra, os movimentos sociais tiveram importantes conquistas nessa arena. Os artigos 184 e 186 fazem referência à função social da terra e determinam que, se for violada, a área seja desapropriada para fins de reforma agrária.”

O documento propõe um “diálogo permanente” com os movimentos sociais, por meio de “canais de comunicação mais ágeis e acessíveis” e “implantar efetiva Política Nacional de Participação Social”. É afirmado que um governo Marina se compromete a combater a repressão e a criminalização de movimentos sociais e populares e que seriam adotadas políticas de proteção aos direitos de manifestações pacíficas dos movimentos populares para evitar repressão e criminalização pelos órgãos do Estado.

Quilombos/ quilombolas: Os dois termos aparecem ao todo 41 (quarenta e uma) vezes ao longo do programa, também contando com um subcapítulo específico dentro do Capítulo “Povos e comunidades tradicionais”, no Eixo “Cidadania e identidades”. Neste capítulo, é destacado a importância destes povos para a riqueza humana e cultura do Brasil, suas contribuições a sociobiodiversidade e a importância na proteção dos ecossistemas.

“Povos indígenas e quilombolas deveriam ter seu território garantido, como prevê a Constituição Federal, o que ainda não acontece totalmente. Outros vivem em territórios cuja situação legal é precária, que são diretamente atingidos por uma colonização agressiva e um pseudodesenvolvimento não planejado, resultando em graves danos ambientais, culturais e sociais.”, afirma trecho deste capítulo que diz ainda:

“Índios e quilombolas são o exemplo mais visível de problemas de acesso à saúde e garantia de territórios, dos quais depende seu modo de vida.”

Há dentro deste capítulo, trechos didáticos sobre o número de comunidades quilombolas pelo país, seu processo de formação, o histórico de conquistas sociais e jurídicas e o que é o critério de autodefinição, além de trazer logo a seguir várias questões associadas a estes povos como políticas de igualdade racial, políticas de cotas, combate ao racismo, etc. Neste trecho, destaco:

“O debate sobre racismo ganhou espaço a partir do governo Lula, mas diminuiu no governo Dilma. O mesmo pode-se dizer sobre as políticas de ação afirmativa. O Estatuto da Igualdade Racial, instituído no governo Lula, foi negligenciado pela sucessora. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) foi criada na gestão de Lula, mas o orçamento se tornou incipiente no atual governo. Houve reconhecimento e titulação de Terras Quilombolas nas gestões de Lula, mas na de Dilma, os avanços foram tímidos. Houve também, no governo Dilma, a cooptação dos líderes dos movimentos negros organizados. Realizaram-se encontros com lideranças, sem a presença de setores organizados dos movimentos. Essa postura da secretaria se deu em comum acordo com a Presidência da República e resultou no afastamento das entidades que deveriam representar o anseio da população negra menos favorecida.”

O programa afirma que vai assegurar e garantir os direitos dos povos e comunidades tradicionais. Especificamente para os quilombolas, é proposto:

“Acelerar os processos de reconhecimento e titulação de Terras Quilombolas”
“Criar programa de fomento à criação de cooperativas de artistas indígenas e quilombolas, como forma de aliar a valorização da tradição à geração de renda.”
“Oferecer mais espaço para o ensino sobre os povos indígenas, quilombolas e sobre os povos e comunidades tradicionais no sistema nacional de educação.”

Como parte do Plano de Reforma Agrária da candidata, é apontada a paralisia na regularização de território quilombolas e se propõe “qualificar” os processos de titulação destas áreas:

“Em outra frente, o governo vem perdendo as possibilidades de regularizar os territórios quilombolas. Em 2012, havia 193 comunidades quilombolas tituladas, e outras 1.167 aguardavam titulação de terras no Incra. De 2003 a 2010, expediram-se 75 títulos, em 66 territórios, para 99 comunidades. Entre 2011 e 2012, foram expedidos outros 19 títulos, em 17 territórios, para 18 comunidades quilombolas.”

E é proposto:
 “Priorizar e qualificar os processos de regularização fundiária, especialmente na Amazônia, no Nordeste, na faixa de fronteira e nos territórios quilombolas.”

No eixo de Educação, o programa ressalta as desigualdades étnicas e cita o crescimento no número de matrículas de estudantes em “aldeias e quilombos”, mas ressalta a “grande perda de alunos quando se compara o total de estudantes nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental”.

No Eixo 4, que trata de “Inclusão Social”, é dito:
“As comunidades quilombolas, por exemplo, cujas trajetórias são marcadas pelo racismo e pela negação da sua diferença cultural, não podem ser classificadas simplesmente como “pobres” e atendidas por meio de políticas genéricas de Estado”. A frase aparece no contexto da necessidade de políticas específicas para públicos específicos.

No Eixo 1 (“Estado e democracia”), os quilombolas são lembrados também como um setor excluído e não representado no atual sistema político, caracterizado pela candidata como em crise:

“O show eleitoral de grandes partidos é um empreendimento milionário. Isso se reflete na composição atual do Parlamento: segundo registros do Tribunal Superior Eleitoral, em 2010, das 513 campanhas mais caras, para uma vaga na Câmara dos Deputados, 390 garantiram sucesso nas eleições. Com isso, a representação não se dá de forma equilibrada, excluindo grupos inteiros de cidadãos, como indígenas, negros, quilombolas e mulheres.”


Índios/ indígenas: As duas palavras aparecem ao todo 48 (quarenta e oito vezes) ao longo do programa. Assim como no caso dos quilombolas, onde a palavra aparece associadas várias vezes, há um subcapítulo exclusivo para tratar da questão indígenas dentro do Eixo 6: “Cidadania e Identidades” e várias outras citações em outros eixos do programa.

Neste Eixo 6,  é feito uma caracterização geral dos 241 povos indígenas existentes no país, sua diversidade cultural e sua importância para o país. A atual política indigenista do governo federal é caracterizada da seguinte forma:

“No governo Lula, discutiu-se amplamente uma Política Nacional de Gestão Ambiental das Terras Indígenas (PNGATI). A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, assinou o decreto que institui a PNGATI, mas até agora não houve investimento significativo na implementação. Há alguns planos de gestão de terras específicas ainda em elaboração, mas quase nada está efetivamente sendo executado. Na região amazônica, onde a demarcação avançou significativamente, ainda não há solução consistente para gerir os extensos territórios demarcados. Ocorrem conflitos pela posse de recursos naturais, motivados quer pela pressão de frentes garimpeiras e madeireiras, quer pela execução de obras públicas sem planejamento nem consulta aos povos afetados. Em outras regiões, como o Mato Grosso do Sul, a paralisação do processo demarcatório e a ocupação de território por não-índios fazem agravar as disputas por terra.

Os maiores conflitos envolvem terras de ocupação indígena tradicional que foram tituladas em favor de terceiros em diferentes ocasiões, seja pela União, seja pelos estados. No caso de demarcações tardias, a Constituição previa que se concluíssem até cinco anos após a promulgação; havendo incidência de títulos legítimos, os portadores deveriam ser indenizados para reconstruir nos mesmos padrões a vida em outros lugares, sobretudo quando há demanda por ampliação de terras antes demarcadas em extensão insuficiente. Os cinco anos, no entanto, não foram cumpridos pelo governo federal: a demarcação não foi feita.”

O documento critica também a gestão da saúde indígena e ausência de um sistema federal específico de educação indígena. É afirmado que a Funai “está enfraquecida e a CNPI é inconstante, convocada apenas em momentos de crise, conforme a conveniência do governo.”

No eixo “Cidadania e identidade”, é dito:
“O processo de expropriação de povos e comunidades tradicionais acabou agravado por mudanças em marcos legais, como o Código da Mineração, o Código Florestal e o Projeto de Lei Mineração em Área Indígena, entre outros. Em nome do crescimento econômico, tais modificações flexibilizaram os direitos territoriais dos povos tradicionais e a mercantilização dos recursos naturais.”

 Dentre as propostas apresentadas, destacam-se:

Estabelecer mecanismos de gestão de conflitos para finalizar a demarcação das Terras Indígenas, como previsto na Constituição Federal.
Reconhecer os povos e comunidades tradicionais do Brasil como sujeitos de direito perante a OIT, no que se refere ao direito de consulta normatizado pela Convenção 169.
Regulamentar o processo de consulta prévia e informada aos povos indígenas – prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – sobre obras públicas e projetos de desenvolvimento regional que afetem as suas terras.
Completar a demarcação das terras indígenas, com indenização aos atuais proprietários, quando cabível, como alternativa para reduzir conflitos.
Fortalecer técnica e politicamente a Funai, a fim de que possa mediar os atuais conflitos e cumprir sua parte na gestão das terras demarcadas.
Reestruturar o Ministério da Justiça para que atue com rigor ao decidir sobre os limites das terras a demarcar, provendo justiça, tutelando os direitos coletivos dos índios e articulando os ministérios envolvidos na política indigenista.
Dar maior atenção à formação de profissionais de saúde indígena e adotar metas para melhorar os indicadores de saúde dos índios.
Transformar a Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI) em Conselho, com poderes deliberativos e força de lei, prevendo recursos para que representantes indígenas exerçam sua função.
Criar um fundo de regularização fundiária para indenizar povos que ocupam terras originalmente indígenas por erro do Estado que os assentou nessas localidades, reduzindo conflitos e reparando injustiças bem como acelerando as demais demarcações de terras”

No Eixo 3 (“Educação, Cultura e Ciência, Tecnologia e Inovação”),  é dito da necessidade de preservar conhecimentos e memórias (patrimônio imaterial), e é dado como exemplo de patrimônio salvaguardado arte kusiwa– técnica de pintura e arte gráfica dos índios wajãpi, do Amapá. Neste mesmo eixo, o documento critica a apropriação de conhecimentos de grupos tradicionais por grupos econômicos, sem qualquer benefício para as comunidades:
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Sobre isso, é proposto, entre outros pontos:
“• Propor legislação específica para o reconhecimento e proteção de conhecimentos tradicionais, tema que leis atuais de propriedade intelectual não podem abranger”.

Meio ambiente: Dos cinco temas aqui tratados, é o único que aparece em todos os eixos do programa de Marina. Também, dos cinco temas aqui escolhidos, é aquele em que a candidata Marina Silva apresenta as maiores contradições.

No Eixo 1: “Estado e democracia”, fala-se em uma gestão “socioambiental”  da administração pública e práticas sustentáveis em todos os níveis de governo, o que na prática se materializaria na adoção obrigatória da  “Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P)”, cursos de educação ambiental para gestores,  obrigatoriedade de os órgãos públicos elaborarem inventário de emissões de gases de efeito estufa e de definirem meta para reduzi-las, mudanças legislativas  e administrativas, “compras verdes” de produtos ambientalmente corretos, entre outros.

O “meio ambiente saudável” é tratado como um dos “objetivos indissociáveis da “nova estratégia federativa”. Também é abordado com  parte de uma “agenda socioambiental e cultural” de integração econômica na América do Sul, via fortalecimento da Unasul, ao mesmo tempo em que se fala em “abrir as portas para o Pacífico” para a economia.  O documento defende  “a inclusão da questão ambiental na agenda do G-20”. Ainda em relação a política externa, é dito sobre os BRICS:

“Não podemos, todavia, desconsiderar as diferenças nas agendas econômica, política, cultural e ambiental dos Brics, assim como na pauta de direitos humanos e liberdades civis de cada um dos países do bloco. A fim de que o diálogo no grupo seja construtivo e realista, é preciso reconhecer essas diferenças.”

Ainda no Eixo 1, no capítulo sobre Forças Armadas, é afirmado:  

“Em sua missão de defender a pátria, as Forças Armadas devem incorporar a missão de proteção do meio ambiente – particularmente da biodiversidade contra a biopirataria (...).”

No Eixo 2 (“Economia para o desenvolvimento sustentável”) fala-se de uma reforma tributária “do ponto de vista socioambiental”.

A matriz energética brasileira é caracterizada como “otimizada do ponto de vista socioambiental, de forma segura, competitiva e sustentável”. É dito sobre a energia proveniente de hidrelétricas:

“A geração, contudo, se baseia em fontes hídricas, o que representa um desafio à segurança energética e impõe desafios socioambientais importantes, que precisam ser superados.”

Sobre os biocombustíveis:

“A política de apoio à revitalização dos biocombustíveis será associada ao estímulo à implementação de programas de certificação socioambiental a fim de garantir que sua produção se dê de forma social e ambientalmente sustentável, respeitando os diretos trabalhistas.”

As unidades de conservação aparecem como item do Eixo 2, ou seja, são vistas como estratégicas para a implantação de uma “Economia para o Desenvolvimento Sustentável”. Enquanto por um lado o programa de Maria fala em priorizar a criação de unidades de conservação de forma que pelos menos 10% de cada um dos biomas nacionais devam estar protegidos, por outro, propõe, por meio de parcerias públicas privadas, entregar a gestão de parques nacionais para grupos empresariais.

 “O plano deverá especificar as unidades prioritárias a partir de sua viabilidade econômica, priorizando, inicialmente, as que já atraem grande número de visitantes e considerando estratégias de atração de investimentos como o modelo de parceria público-privada (PPP). É preciso também implementar esses modelos de gestão nos parques da Amazônia, transformando o turismo sustentável em importante fonte de renda para a região.”

O item “Economia Global Florestal”, expressa novamente o viés neoliberal (capitalismo verde) de concessão de florestas públicas para exploração madeireira:

Cerca de 60% da exploração florestal na Amazônia ainda ocorre de forma ilegal e concorre de forma desleal com a produção oriunda de planos de manejo sustentável. Tal descontrole fez do setor uma fonte de degradação e um catalisador do desmatamento. Por outro lado, as concessões florestais lentamente estão se tornando a principal fonte de manejo florestal em bases sustentáveis na região e devem atingir 1 milhão de hectares em 2014. Um avanço tímido diante do potencial de 13 milhões de hectares estimado pelo Serviço Florestal Brasileiro.”

Diante deste diagnóstico é proposto:
Zerar a perda de cobertura florestal no Brasil.
Ampliar para 5% a participação do Brasil no comércio mundial de produtos florestais.
Aumentar em 40% a área de florestas plantadas.
Duplicar a área sob Manejo Florestal Sustentável (Amazônia e Caatinga).
Atingir 8 milhões de hectares de concessão florestal, incluindo as concessões para reflorestamento e recuperação florestal.
Dobrar a área de florestas públicas destinadas ao uso sustentável.
Implementar amplo programa de tecnologia de refinamento de biomassa florestal visando à produção de combustíveis, polímeros, fertilizantes, fármacos, essências e outros produtos.

As reservas extrativistas (resex), modalidade de unidade de conservação para comunidades tradicionais, recebem um correto destaque dentro do Eixo 6: “Identidade e Cidadania” e não de “Economia para o desenvolvimento sustentável”, onde outras unidades de conservação são citadas. Neste eixo 6, aparece a seguinte proposta:

“Retomar os processos de criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável – especialmente Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentáveis.”

No Eixo 3: “Educação, Cultura e Ciência, Tecnologia e Inovação”  aborda-se a ideia de uma nova abordagem de educação ambiental, como tema transversal de todos os currículos.  O meio ambiente também aparece como parte integrante da política de proteção (não seria mercantilização?) do patrimônio imaterial:

“Propor lei de compensação antropológica, científica e arqueológica, similar à lei de compensação ambiental, que traga recursos para ações em comunidades tradicionais e sítios arqueológicos afetados por obras.”

No Eixo 5: “Novo urbanismo”, a questão ambiental aparece vinculada também à qualidade de vida nas cidades e ao saneamento básico.

Leia ainda as propostas para as 5 temáticas dos candidatos Dilma Rousseff  e Aécio Neves
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