Foto: Larissa Saud
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Aldeia Sawré Muybu –
Itaituba/PA, 17 de novembro de 2014
Nossos antigos nos contavam que o tamanduá é tranquilo e quieto,
fica no cantinho dele não mexe com ninguém, mas quando se sente ameaçado mata com
um abraço e suas unhas.
Nós somos assim. Quietos, tranquilos, igual o tamanduá. É o
governo que está tirando nosso sossego, é o governo que está mexendo com nossa
mãe terra – nossa esposa.
Hoje, 17 de novembro, faz três meses que reunimos com a FUNAI e
representantes do governo em Brasília-DF exigindo a publicação do relatório da
demarcação da Terra IPI` WUYXI`IBUYXIM`IKUKAM; DAJE KAPAP EYPI – I`ECUG`AP
KARODAYBI. Em setembro de 2013 o relatório delimitando nosso território foi
concluído, mas não foi publicado e escutamos como resposta da então Presidente
da FUNAI, Maria Augusta, dizendo que a nossa terra é uma área de
empreendimentos hidrelétricos, e que por causa do interesse de outros órgãos do
governo o relatório não foi publicado. Após duas semanas da reunião de Brasília
recebemos notícias de que o Ministério Público Federal entrou com ação
obrigando a FUNAI a publicar o relatório, o que a mesma não fez, e semana
passada ficamos sabendo que o desembargador do TRF-1 caçou a referida liminar.
Mas isso não foi novidade para nós Munduruku. Nunca abaixaremos a cabeça e
abriremos a nossa mão, a luta continua! Somos verdadeiros donos da Terra, já
existimos antes da chegada dos portugueses invasores.
Hoje também fez um mês que iniciamos a autodemarcação da nossa
Terra IPI`WUYXI`IBUYXIM`IKUKAM DAJE KAPAP EYPI, por não confiar nas palavras
enganosas do governo e de seus órgãos.
Garantir o nosso território sempre vivo é o que nos dá força e
coragem. Sem a terra não sabemos sobreviver. Ela é a nossa mãe, que respeitamos.
Sabemos que contra nós vem o governo com seus grandes projetos para matar o
nosso Rio, floresta, vida.
Esse território atende às populações do Médio e Alto Tapajós.
Esperamos pelo governo há décadas para demarcar nossa Terra e
ele nunca o fez. Por causa disso que a nossa terra está morrendo, nossa
floresta está chorando, pelas árvores que encontramos deixados por madeireiros
nos ramais para serem vendidos de forma ilegal nas serrarias e isso o IBAMA não
atua em sua fiscalização. Só em um ramal foi derrubado o equivalente a 30
caminhões com toras de madeiras, árvores centenárias como Ipê, áreas imensas de
açaizais são derrubadas para tirar palmitos. Nosso coração está triste.
Nesses 30 dias da autodemarcação já caminhamos cerca de 7 km e
fizemos 2 km e meio de picadas. Encontramos 11 madeireiros, 3 caminhões, 4
motos, 1 trator e inúmeras toras de madeiras de lei as margens dos ramais em
nossas terras, e na manhã do dia 15 fomos surpreendidos em nosso acampamento
por um grupo de 4 madeireiros, grileiros liderado pelo Vilmar que se diz dono
de 6 lotes de terra dentro do nosso território, disse ainda que não irá
permitir perder suas terras para nós e na segunda próxima estaria levando o
caso para a justiça.
Agora decretamos que não vamos esperar mais pelo governo. Agora
decidimos fazer a autodemarcação, nós queremos que o governo respeite o nosso
trabalho, respeite nossos antepassados, respeite nossa cultura, respeite nossa
vida. Só paramos quando concluir o nosso trabalho.
SAWE, SAWE, SAWE.