quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Irmãos do ministro da Agricultura são alvos de operação da PF contra fraude

Operação Terra Prometida deve prender 52 pessoas por fraude em MT, SC, PR e RS (Foto: Reprodução/TVCA)
PF foi até as casas dos irmãos de Neri Geller para cumprir mandados. Ministério da Agricultura informou que Neri não está entre os investigados.

Dois irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller, são alvos da operação Terra Prometida, deflagrada pela Polícia Federal, nesta quinta-feira (27). A ação é contra fraudes na concessão de áreas da União destinadas à reforma agrária a produtores rurais e empresários, por meio de títulos emitidos de forma irregular.

Policiais federais foram até a casa de Odair Geller, em Lucas do Rio Verde, a 360 km de Cuiabá, e apreenderam documentos. Ele não estava na residência no momento. Os agentes também estiveram na residência de Milton Geller, em Nova Mutum, a 269 km da capital, para prendê-lo. Nenhum dos dois irmãos do ministro foi preso, como o G1 apurou. Milton é ex-prefeito de Tapurah, a 414 km de Cuiabá, onde também estão sendo cumpridos mandados. A princípio, a informação era de que apenas Odair estivesse supostamente envolvido no esquema. Ambos são produtores rurais.

Como a operação ainda está em andamento e nem todos os 52 mandados de prisão preventiva e os 146 de busca e apreensão haviam sido cumpridos, a PF não pôde informar se os policiais foram até a casa do irmão de Neri Geller para prendê-lo ou para fazer busca e apreensão. O G1 tentou, mas não conseguiu localizar o advogado de Odair e de Milton Geller até o fechamento desta matéria.

A assessoria do Ministério da Agricultura informou que o titular da pasta, Neri Geller, não é alvo das investigações da Polícia Federal. Alegou ainda que o ministro está nos Emirados Árabes Unidos e ainda não tomou conhecimento da operação policial. 

Na operação, a PF prendeu o ex-prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino Franz. Ele foi levado para a delegacia da Polícia Federal do município. A advogada do ex-prefeito, que o acompanhava no momento da prisão, também não quis se manifestar sobre o assunto.

Estão sendo cumpridos, simultaneamente, mandados de prisão e de busca e apreensão em Cuiabá, Várzea Grande, Nova Mutum, Diamantino, Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Ipiranga do Norte, Sorriso, Tapurah e Campo Verde. Na capital, foi confirmada a prisão de um servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, um dos suspeitos de regularizar lotes para beneficiar produtores rurais e empresários.

Em Itanhangá, três pessoas foram presas, entre eles o vice-prefeito da cidade. Ainda em Lucas do Rio Verde, a PF prendeu Edu Pascoski, membro da diretoria do Luverdense.

As investigações começaram em 2010 e identificaram irregularidades na concessão e manutenção de lotes destinados à reforma agrária. Entre os integrantes da organização criminosa estão oito servidores públicos, conforme a PF. A fraude está avaliada em R$ 1 bilhão.

 A estimativa da PF é de que 80 fazendeiros tenham ocupado cerca de mil lotes da União. Um deles teria obtido 55 lotes e regularizado essas áreas com o apoio de servidores do Incra.

Segundo a PF, a organização atua fortemente nas regiões de Lucas do Rio Verde e Itanhangá, a 360 e 447 km da capital, em crimes de invasão de terras da União e contra o meio ambiente. Fazendeiros, empresários e grupos ligados ao agronegócio usam da influência e poder econômico para aliciar, coagir e ameaçar outros pessoas para obter lotes.

Usavam da força física para invadir terras ou comprar a preço baixo e depois, com o auxílio de servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e de servidores das câmeras de vereadores e das prefeituras desses municípios buscavam regularizar a situação do lote. 

Para a manutenção do comércio ilegal de terras da reforma agrária, a quadrilha teria usado documentos falsos, feito vistorias simuladas, fraudado termos de desistência e até mesmo inserido dados falsos no sistema de informações de Projetos de Reforma Agrária do Incra, permitindo que latifundiários, grupos de agronegócio e até empresas multinacionais ocupassem ilicitamente terras da União destinadas à reforma agrária.

Confome a PF,  o esquema era operado, basicamente, por pessoas ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhangá e ao serviço social da prefeitura municipal daquele município, que elaboravam listas com nomes de 'laranjas' que, em nome de fazendeiros, falsificavam 'cartas de desistência' e declaração de aptidão ao Incra.

Depois disso, servidores do Incra faziam  uma vistoria fictícia para comprovar a posse dos 'laranjas', que após cadastrados no sistema do órgão, eram homologados e emitidos na posse. Entretanto, quando o documento do Incra era emitido, o fazendeiro já estava ocupando e produzindo nas parcelas reconcentradas.

Fonte: G1
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