Operação Terra Prometida deve prender 52 pessoas por fraude em MT, SC, PR e RS (Foto: Reprodução/TVCA) |
Dois irmãos do
ministro da Agricultura, Neri Geller, são alvos da operação Terra Prometida,
deflagrada pela Polícia Federal, nesta quinta-feira (27). A ação é contra
fraudes na concessão de áreas da União destinadas à reforma agrária a
produtores rurais e empresários, por meio de títulos emitidos de forma
irregular.
Policiais federais
foram até a casa de Odair Geller, em Lucas do Rio Verde,
a 360 km de Cuiabá, e apreenderam documentos. Ele não estava na residência no
momento. Os agentes também estiveram na residência de Milton Geller, em Nova Mutum,
a 269 km da capital, para prendê-lo. Nenhum dos dois irmãos do ministro foi
preso, como o G1 apurou. Milton é ex-prefeito de Tapurah, a 414 km de Cuiabá, onde
também estão sendo cumpridos mandados. A princípio, a informação era de que
apenas Odair estivesse supostamente envolvido no esquema. Ambos são produtores
rurais.
Como a operação ainda está em andamento e nem todos os 52 mandados de
prisão preventiva e os 146 de busca e apreensão haviam sido cumpridos, a PF não
pôde informar se os policiais foram até a casa do irmão de Neri Geller para
prendê-lo ou para fazer busca e apreensão. O G1 tentou, mas não conseguiu
localizar o advogado de Odair e de Milton Geller até o fechamento desta matéria.
A assessoria do Ministério da Agricultura informou que o titular da
pasta, Neri Geller, não é alvo das investigações da Polícia Federal. Alegou
ainda que o ministro está nos Emirados Árabes Unidos e ainda não tomou
conhecimento da operação policial.
Na operação, a PF prendeu o ex-prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino
Franz. Ele foi levado para a delegacia da Polícia Federal do município. A
advogada do ex-prefeito, que o acompanhava no momento da prisão, também não
quis se manifestar sobre o assunto.
Estão sendo cumpridos, simultaneamente, mandados de prisão e de busca e
apreensão em Cuiabá, Várzea Grande,
Nova Mutum, Diamantino, Lucas do Rio Verde, Itanhangá,
Ipiranga do Norte, Sorriso, Tapurah e Campo Verde.
Na capital, foi confirmada a prisão de um servidor do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão ligado ao Ministério do
Desenvolvimento Agrário, um dos suspeitos de regularizar lotes para beneficiar
produtores rurais e empresários.
Em Itanhangá, três pessoas foram presas, entre eles o vice-prefeito da
cidade. Ainda em Lucas do Rio Verde, a PF prendeu Edu Pascoski, membro da
diretoria do Luverdense.
As investigações
começaram em 2010 e identificaram irregularidades na concessão e manutenção de
lotes destinados à reforma agrária. Entre os integrantes da organização
criminosa estão oito servidores públicos, conforme a PF. A fraude está avaliada
em R$ 1 bilhão.
A estimativa da PF é de que 80 fazendeiros tenham ocupado cerca
de mil lotes da União. Um deles teria obtido 55 lotes e regularizado essas
áreas com o apoio de servidores do Incra.
Segundo a PF, a organização atua fortemente nas regiões de Lucas do Rio
Verde e Itanhangá, a 360 e 447 km da capital, em crimes de invasão de terras da
União e contra o meio ambiente. Fazendeiros, empresários e grupos ligados ao
agronegócio usam da influência e poder econômico para aliciar, coagir e ameaçar
outros pessoas para obter lotes.
Usavam da força física para invadir terras ou comprar a preço baixo e
depois, com o auxílio de servidores do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) e de servidores das câmeras de vereadores e das
prefeituras desses municípios buscavam regularizar a situação do lote.
Para a manutenção do comércio ilegal de terras da reforma agrária, a
quadrilha teria usado documentos falsos, feito vistorias simuladas, fraudado
termos de desistência e até mesmo inserido dados falsos no sistema de
informações de Projetos de Reforma Agrária do Incra, permitindo que
latifundiários, grupos de agronegócio e até empresas multinacionais ocupassem
ilicitamente terras da União destinadas à reforma agrária.
Confome a PF, o esquema era operado, basicamente, por pessoas
ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhangá e ao serviço social
da prefeitura municipal daquele município, que elaboravam listas com nomes de
'laranjas' que, em nome de fazendeiros, falsificavam 'cartas de desistência' e
declaração de aptidão ao Incra.
Depois disso, servidores do Incra faziam uma vistoria fictícia
para comprovar a posse dos 'laranjas', que após cadastrados no sistema do
órgão, eram homologados e emitidos na posse. Entretanto, quando o documento do
Incra era emitido, o fazendeiro já estava ocupando e produzindo nas parcelas
reconcentradas.
Fonte: G1