Edital do Serviço
Florestal Brasileiro para concessão das Florestas Nacionais Itaituba I e II
esconde a existência de ribeirinhos e indígenas
O Ministério Público
Federal (MPF) em Itaituba deu dez dias de prazo para que o Serviço Florestal
Brasileiro (SFB) responda à recomendação para suspender imediatamente o leilão
das Florestas Nacionais Itaituba I e II, no município de mesmo nome, no
sudoeste do Pará.
O MPF considera que o
edital de licitação é irregular por afirmar a inexistência de população
indígena ou ribeirinha na região, quando está em trâmite na Fundação Nacional
do Índio (Funai) a demarcação do território tradicional dos índios Munduruku na
mesma região e o próprio plano de manejo das duas florestas reconhece a
existência de comunidades ribeirinhas e extrativistas.
Para o MPF, o edital
“ofende a boa-fé objetiva, constituindo violação ao dever de informação com as
empresas concorrentes que não estão sendo esclarecidas adequadamente quanto à
existência de povos indígenas representando iminente lesão aos interesses das
pretensas concorrentes, na medida em que pode haver resistência das comunidades
indígenas e pedido judicial de anulação do certame”.
A recomendação lembra
também que, de acordo com a legislação brasileira, antes de qualquer concessão,
as florestas públicas ocupadas ou utilizadas por comunidades deverão ser
destinadas aos próprios moradores por meio da criação de reservas ou por
concessão de uso.
O edital viola ainda a
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que assegura a consulta
prévia, livre e informada aos povos interessados, sempre que sejam previstas
medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente. O
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também não foi
ouvido pelo SFB, o que deveria ter ocorrido pela existência de vários sítios
arqueológicos no perímetro das duas florestas em licitação.
Além de recomendar a
suspensão do edital, o SFB deve fazer a plotagem de toda a extensão das Flonas,
identificando principalmente as áreas indígenas incidentes e no entorno,
realizar a consulta prévia, livre e informada aos índios e demais povos
tradicionais e elaborar estudo do patrimônio arqueológico. O material deve ser
encaminhado ao MPF.
As áreas de concessão
florestal licitadas pelo SFB ficam na região onde o governo quer instalar a
usina hidrelétrica São Luiz do Tapajós, atingindo as mesmas populações tradicionais
que serão impactadas pela usina.
Fonte: Ministério Público
Federal no Pará - Assessoria de Comunicação
Leia aqui no blog: SFB ignora terra indígena e põe áreas de floresta à leilão
Leia aqui no blog: SFB ignora terra indígena e põe áreas de floresta à leilão