quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Clima é muito tenso em aldeia Munduruku tomada pela Polícia Federal. Há relatos de abusos e feridos

Região do conflito onde se deu a ação da PF em que morreram os Munduruku (Elaboração: Telma Monteiro)

O conflito instalado pela Polícia Federal na aldeia Munduruku, no rio Teles Pires, no norte do Mato Grosso, permanece envolto na falta de notícias precisas.  Informações preliminares que davam conta da morte de dois indígenas mundurucus não foram confirmadas até o momento.

A Polícia Federal teria tomado a aldeia nesta quarta-feira, 07 de novembro, numa ação que faz parte da chamada “Operação Eldorado” que visa combater a extração ilegal de ouro em terra indígenas.

A explosão de balsas usadas para extração de ouro que se encontravam dentro da aldeia teria desencadeado o conflito.

Uma versão da notícia afirma que dois indígenas, líderes da aldeia, foram atingidos por balas de fuzil e estariam em estado grave e quatro policiais federais acabaram sendo atacados a flechadas e disparos de arma de fogo. Os índios teriam sido encaminhados ao Pronto Socorro do Hospital Regional de Alta Floresta (MT), onde receberam atendimento médico. Um deles tinha grandes possibilidades de que o mesmo tenha um dos braços amputados.

O blog Estado do Tapajós  afirmou que um indígena atingido por disparos que teriam partido dos Policiais Federais, estaria desaparecido nas águas do rio Teles Pires. A publicação atribui a informação ao munduruku Sandro Waro. Ainda na reportagem existe a informação de que a aldeia Teles Pires estaria “sitiada” e os índios que moram na região impedidos de saírem, e sem comunicação por rádio.

Um comunicado da “Comunidade Indígena Teles Pires” afirmou que não mortes no local, mas relata uma grande debandada de indígenas na mata devido as explosões de balsas, equipamentos de pesca indígena e da pista de pouso da aldeia. Devido a isso, haveria crianças desaparecidas no interior da mata.
Os índios negaram que tenham usado armas de fogo, tendo revidado a ação policial apenas com armas artesanais como arco e flecha, confirmando que um policial teria sido atingido no braço por uma flechada.
E por fim, os índios denunciaram também que mulheres e índias da comunidade foram chamadas pelos policiais de vagabundas e prostitutas. “A intervenção remonta aos tempos da ditadura onde pessoas foram constrangidas moral e fisicamente, com idosos sendo empurradas, mulheres indígenas chamadas de vagabundas e prostitutas”, afirma a nota.
Confira o Comunicado na íntegra: 

COMUNIDADE INDIGENA TELES PIRES

Conforme informações repassadas por indígenas do Posto Indígena Teles Pires diretamente para os indígenas parentes, na sede do município de Jacareacanga, ocorreu naquela aldeia (TELES PIRES) intervenção de Agentes da Policia Federal justificado, para dar-se cumprimento a Operação denominada Eldorado, que visa conter e paralisar a atividade garimpeira na região.

Uma equipe composta por dezenas de policiais, chegou à aldeia por volta das oito horas deste dia (07) fortemente armada, conduzida por um grande aparato de transporte que consistia em helicóptero, voadeiras, quando ocorreu o sobrevoo de helicóptero, causou pânico na aldeia com parte da comunidade embrenhando-se na mata, ocasião em que a aldeia ficou quase vazia e ao verem pessoas estranhas invadindo a aldeia, os guerreiros se manifestaram mesmo sem esboçar ameaça em defesa dos seus com simples armas artesanais da cultura indígena servindo de proteção para o grupo tribal, ato seguido o forte aparato policial deflagrou vários tiros em direção aos indígenas, nesse momento ocorrendo reação por parte desses que desferiram flechadas contra os invasores resultando em muitos indígenas feridos com balas de borrachas e seis desses com projeteis real. Pelo lado dos Policiais registra informação de um delegado, não confirmada pelos indígenas, que foram atingidos quatro policiais com flechadas, entretanto não ocorrendo vitimas fatais, os feridos foram deslocados para a cidade de Alta Floresta.

A invasão na aldeia  provocou confusão entre os índios que não sabiam da operação e nunca tinham visto tanto aparato de guerra, com o helicóptero da PF jogando às proximidades da aldeia bombas provavelmente de efeito moral e muitos tiros o que ocasionou pânico entre os indígenas, com muitos velhos desfalecendo na correria ou em fuga, e ainda crianças desesperadas diante da violência que foram alvos.

A informação que morreu um indígena não se confirma, o que se sabe é que um índio ao ser atingido no braço fingiu-se de morto e depois foi socorrido.

A Aldeia está sitiada pela PF, que controla a comunicação via radio não deixando os indígenas se comunicarem. Essas informações foram repassadas por dois indígenas que fugiram do cerco chegando até uma aldeia próxima para se comunicarem com parentes em Jacareacanga.

A aldeia está completamente sitiada pelos agentes que para evitar a fuga dos indígenas colocaram minas em vários pontos da aldeia impedindo de saírem para suas roças ou fugirem do local conflitado.

Mesmo diante da intervenção, os indígenas não sabem a razão desse trabalho, pois ninguém ainda esclareceu para os mesmos a motivação da operação. Ao se falar sobre garimpagem, a aldeia não abriga garimpos bem como nenhuma atividade de garimpagem.

Devido à debandada geral, há crianças desaparecidas na mata, ocorrendo também explosões de equipamentos como maquinários da comunidade entre esses motores de popa que serve unicamente para transporte dos indígenas, voadeiras, rádios, e para espanto geral a pista de pouso foi dinamitada impedindo o uso para retiradas de emergências de indígenas enfermos.

A intervenção remonta aos tempos da ditadura onde pessoas foram constrangidas moral e fisicamente, com idosos sendo empurrados, mulheres indígenas chamadas de vagabundas e prostitutas.

A coordenadora da Sesai DSEI-Tapajós (saúde Indígena) Cleidiane Carvalho, preocupada com o estado de saúde dos indígenas atingidos que encontram-se em Alta Floresta está providenciando uma aeronave para transportar os indígenas feridos para Belém ou Brasília.

Os indígenas que moram em Jacareacanga, foram até a Câmara de Vereadores pedir a composição de uma comissão para ir até o local do conflito avaliar a situação já que uma equipe de lideres indígenas de Jacareacanga que iria até o local de avião foi proibida de pousar, a proibição está estendida a qualquer avião de qualquer instituição. Por isso o apelo dos indígenas em solicitarem aos vereadores que fossem até a aldeia como autoridades constituídas do município.

OBSERVAÇÃO: Apesar do comunicado ter afirmado a inexistência de mortes, a Fundação Nacional do Índio (Funai) confirmou nesta quinta-feira, 08 de novembro, que o corpo de um indígena que tinha desaparecido no confronto fora encontrado com 4 tiros no peito e 1 na cabeça. Saiba mais AQUI.

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