Número de famílias atendidas até o terceiro trimestre já é o mais baixo dos últimos dez anos; governo da presidente Dilma Rousseff, que diz dar prioridade à requalificação de assentamentos antigos, já havia registrado recorde negativo no ano passado
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Roldão
Arruda*
A
reforma agrária está patinando no governo da presidente Dilma Rousseff. O sinal
mais evidente está nos números acumulados pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra). Segundo o último dado sobre assentamentos
disponível no órgão, com data de 16 de novembro, o governo assentou 10.815
famílias neste ano. É a taxa mais baixa registrada neste mesmo período em dez
anos e representa apenas 36% da meta estabelecida para 2012, de 30 mil
famílias.
A
menos que haja uma dramática alteração no ritmo de assentamentos nos próximos
dias, a marca de assentamentos deste ano corre o risco de ficar atrás da
registrada em 2011 - a pior dos últimos 16 anos, com 21.933 famílias
beneficiadas pela reforma agrária.
Nos
dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a quem o PT
acusava de menosprezar a reforma agrária, a marca mais baixa foi de 42.912
assentamentos - foi em 1995, primeiro ano de governo.
Neste
ano, o Incra parece ter engatado a marcha lenta. Do total de R$ 3 bilhões
destinados neste ano àquela instituição no Orçamento da União, só 50% foram
liquidados até agora, segundo informações do Siga Brasil - sistema de
acompanhamento de execução orçamentária do Senado. No caso específico da verba
para aquisição de terras para a reforma agrária, o resultado é mais
desalentador: até a semana passada haviam sido autorizados gastos de 41% do
total de R$ 426,6 milhões desta rubrica.
Reação no PT.
O problema preocupa o PT, o partido da presidente. Na semana passada, o deputado Valmir Assunção (BA), coordenador do Núcleo Agrário do PT na Câmara, ocupou a tribuna daquela Casa para fazer um alerta, como ele definiu: “Alertamos ao governo e à sociedade brasileira da paralisação da reforma agrária no Brasil, com a diminuição, cada vez mais visível, da obtenção de terras para novos assentamentos”. O deputado chegou a propor a formação de uma força tarefa nacional, para evitar um resultado igual ou pior do que o de 2011. “Ou fazemos isso ou, mais uma vez, amarguraremos um pior índice de reforma agrária”, afirmou.
O problema preocupa o PT, o partido da presidente. Na semana passada, o deputado Valmir Assunção (BA), coordenador do Núcleo Agrário do PT na Câmara, ocupou a tribuna daquela Casa para fazer um alerta, como ele definiu: “Alertamos ao governo e à sociedade brasileira da paralisação da reforma agrária no Brasil, com a diminuição, cada vez mais visível, da obtenção de terras para novos assentamentos”. O deputado chegou a propor a formação de uma força tarefa nacional, para evitar um resultado igual ou pior do que o de 2011. “Ou fazemos isso ou, mais uma vez, amarguraremos um pior índice de reforma agrária”, afirmou.
No
Movimento dos Sem Terra (MST), o maior do País e historicamente próximo do PT,
a insatisfação é crescente. “Estamos insatisfeitos e decepcionados. O governo
Dilma abandonou completamente o projeto da reforma agrária”, diz Alexandre
Conceição, integrante da coordenação nacional e porta-voz do movimento.
O
diálogo dos movimentos sociais com o governo, segundo o líder dos sem terra,
piorou desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou a Presidência da
República em 2010. “Já tentamos de todas as maneiras dialogar com esse governo,
já tomamos muita água e muito cafezinho, mas não conseguimos nada porque o
núcleo central do governo não quer saber da reforma. Daqui para a frente, vamos
partir para o conflito com o latifúndio. Estamos preparando grandes jornadas de
luta para o ano que vem”, afirma Conceição.
O
MST também critica a estratégia do governo de fortalecer os assentamentos já
existentes com o apoio do Programa Brasil sem Miséria, por meio de convênios de
cooperação entre os ministérios do Desenvolvimento Social e Desenvolvimento
Agrário. “O Brasil sem Miséria é um programa compensatório, que se destina a
tirar o sujeito da miséria, sem mexer no índice de concentração fundiária do
País. Dá o peixe, mas não ensina a pescar”, critica o porta-voz do movimento.
O início.
A única coisa que o MST assinala a favor da presidente Dilma é o fato de não ter sido ela a responsável pelo início do atual processo de desvalorização da reforma. “O governo federal começou a amarelar lá em 2008”, afirma Conceição.
A única coisa que o MST assinala a favor da presidente Dilma é o fato de não ter sido ela a responsável pelo início do atual processo de desvalorização da reforma. “O governo federal começou a amarelar lá em 2008”, afirma Conceição.
A
observação se baseia na estatística. Quem observar a série histórica com
números do Incra, nesta página, verá que Lula promoveu um salto no nível de
assentamentos nos anos 2005 e 2006. Neste último foi registrado o maior índice
da história, com a distribuição de lotes da reforma para 117 mil famílias.
De
lá para cá, porém, a tendência tem sido de declínio. Por esse viés, Dilma teria
apenas dado continuidade ao processo.
Entre
os integrantes dos movimentos sociais, há a percepção de que o salto ocorrido
em 2005 possa ter ocorrido devido a razões políticas. Foi naquele ano que
eclodiu o escândalo do mensalão, agora em julgamento pelo Supremo Tribunal
Federal. Naquela época, chegou-se a cogitar um possível impeachment do
presidente. Para se fortalecer, Lula promoveu uma reaproximação do governo e de
seu partido, o PT, com os movimentos sociais, entre eles o MST. Quanto a 2006,
foi o ano em que Lula se candidatou à reeleição - e venceu.
*Fonte: O Estado de São Paulo (fotomontagem não incluída na matéria original)Sobre a parte destacada em negrito no texto por mim, vale a pena a leitura: A máscara continua caindo... | www.radioagencianp.com.br