sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Polícia Federal omite morte de indígena em conflito no Alto Tapajós

Polícia apresenta armas do confronto com os indígenas. 

O assassinato do indígena Munduruku Adenilson Crixi Munduruku não foi confirmado em  “Nota à Imprensa” a pouco divulgada pela Polícia Federal em seu sítio. O documento produzido pela Divisão de Comunicação do órgão em Brasília afirma que a “Polícia Federal deflagrou na última terça-feira, 6/11, a Operação Eldorado, com objetivo de desarticular organização criminosa dedicada à extração ilegal de ouro em terras indígenas Kayabi e garimpos ilegais na região do rio Teles Pires, estado de Mato Grosso para posterior comercialização no Sistema Financeiro Nacional (SFN)”.

Ainda segundo a nota, o ouro era extraído por meio de balsas garimpeiras ilegais que pagariam um valor mensal aos indígenas.

O conflito na terra indígena teria ocorrido quando agentes cumpriam uma determinação judicial de inutilização destas balsas.

“Com o início da ação policial, cerca de 60 índios tentaram invadir a localidade onde se encontrava o coordenador da Operação Eldorado, ameaçando os policiais com arcos e flechas. Os índios pretendiam impedir a ação policial. Após quatro horas de negociação, o líder dos índios fez um acordo com o coordenador de operação, concordando com que o trabalho dos policiais fosse desenvolvido regularmente no dia seguinte”, afirma trecho da nota.

O documento afirma ainda que no outro dia (07 de novembro), quando os policiais realizavam a destruição das balsas, “mais de cem índios pintados para a guerra atacaram com armas de fogo e arcos e flechas cerca de 35 policiais.” O coordenador da operação teria sofrido um golpe de borduna no ombro.

Em sua versão, “os policiais utilizaram bombas de gás para proteção pessoal e dos servidores do IBAMA e da FUNAI que se encontravam com balsa(sic). Posteriormente, os policiais utilizaram a força necessária para reprimir o ataque sofrido, tendo em vista o grande número de disparos de armas de fogo vindos da aldeia.”

A nota da Polícia Federal afirma ainda que “houve registro de seis indígenas feridos, sendo que todos foram socorridos pelos policiais federais e dois transferidos para Cuiabá/MT para devido tratamento. Além disso, três policiais (2 federais e 1 da Força Nacional de Segurança) também foram feridos. Dezenove índios foram detidos para prestar depoimento e posteriormente liberados. Foram apreendidas quinze armas de calibres diversos, além de bordunas, arcos, flechas e facões.”

O sítio da Polícia Federal apresta ainda fotografias de espingardas, facas e flechas apreendidas dos indígenas e um vídeo do acordo fechado no dia anterior ao confronto.

Apesar dos detalhes, a morte do indígena no conflito não é sequer mencionada na nota.

Segundo a Agência Brasil, “a assessoria da Polícia Federal na região disse que tomou conhecimento da morte de Adenilson Kirixi Mundukuru, mas ressaltou que aguarda a necropsia para saber a causa do óbito”.

O Ministério Público Federal (MPF) encaminhou Ofício à presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao Superintendente da Polícia Federal no Mato Grosso, solicitando esclarecimentos sobre o conflito.

Somente nesta sexta, a Funai em Brasília confirmou a morte do indígena, embora a informação tivesse sido confirmada por seu escritório regional desde quarta. Em nota, o órgão informou que, “durante a operação, houve confronto, que resultou em policiais e indígenas feridos" e que um indígena morreu. De acordo com a Funai, alguns indígenas prestaram depoimento às autoridades policiais, no município de Sinop (MT), e voltaram para a aldeia.
A Polícia Federal informa que instaurou inquérito para apurar os incidentes.
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