sábado, 29 de novembro de 2014

Presidente do Incra pressionou para legalizar lotes da família do Ministro da Agricultura, afirma testemunha ao MPF


O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária teria pressionado o Superintendente do Incra no Mato Grosso para legalizar lotes de projeto de assentamento controlados pela família do Ministro da Agricultura, Neri Geller.

A informação consta de trecho de denúncia do Ministério Público Federal (MPF) que faz parte da operação “Terra Prometida”, deflagrada nesta quinta-feira (27) em conjunto com a Polícia Federal. A quadrilha é investigada por fraudes em pelo menos mil lotes de assentamentos no estado do Mato Grosso, num esquema envolvendo servidores do Incra, sindicalistas, funcionários municipais e empresários e fazendeiros ligados ao agronegócio. Entre as 52 pessoas com prisão preventiva decretada pela Justiça Federal a pedido do MPF e da Polícia Federal estão dois irmãos do atual ministro da agricultura, Neri Geller. O nome do próprio ministro também é citado nas investigações. Em agosto, a Polícia Federal recebeu autorização do Supremo Tribunal Federal para incluir o ministro entre os investigados. Ao todo são 222 mandatos judiciais.

“Corre a notícia que essa família Geller possui mais de 15 lotes dentro do assentamento. Por isso, Neri Geller, na condição de Ministro da Agricultura, tem se empenhado tanto em pressionar o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), através do presidente do órgão de Brasília”, diz uma testemunha em trecho de um depoimento que faz parte denúncia oferecida MPF conforme divulgado no sítio G1 e reproduzido AQUI. Até o momento não há informações se o atual presidente do Incra, Carlos Guedes, é investigado ou não na Operação.

A investigação aponta que os trabalhadores rurais eram aliciados, coagidos e ameaçados para venderem ou entregarem os lotes de cerca de 100 hectares, avaliados em R$ 1 milhão, cada um. A investigação também demonstra a situação de medo e insegurança vivenciada pelos poucos assentados que ainda permanecem no local, os quais não só sofrem constantes ameaças, como também, vivem com o receio de que, a qualquer momento, poderão ser retirados de suas terras à força.

Em nota oficial divulgada na quarta-feira (27), a Presidência do Incra afirmou que vem tomando medidas administrativas para evitar a ocupação ilegal em assentamentos e que “(...) desde o início apoiou e continua apoiando o trabalho policial, prestando informações e fornecendo documentos ou informações solicitadas, a fim de dar sustentação técnica ao processo.”

Nesta sexta, Carlos Guedes anunciou que afastou os servidores suspeitos de participação no esquema. “Estamos seguros que a operação da Polícia Federal contribui muito para o trabalho de destinação das áreas de reforma agrária para pequenos agricultores”, salientou. “Para a instituição, é sempre muito ruim ter servidores arrolados em uma investigação como essa. Entretanto, isso demonstra o compromisso do Incra com o benfeito”, avaliou Guedes que é tido como provável nome para o Ministério do Desenvolvimento Agrário no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

O nome de Guedes seria uma “compensação à esquerda” de Dilma ao nome de Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura.

*Com informações da Agência Brasil, MPF-MT e G1-MT.

Munduruku ocupam Funai em Itaituba para pressionar demarcação


Guerreiros, guerreiras e crianças Munduruku ocuparam na manhã desta sexta (28) a sede da Funai de Itaituba. Os indígenas queriam pressionar a Funai a publicar o relatório e o mapa com as delimitações da terra indígena Sawré Muybu. Ao perceber que não haveria acordo, no final da tarde, eles resolveram seguir com a autodemarcação, iniciada na metade de outubro.

O presidente interino da Fundação, Flávio Chiarelli, chegou a falar ao telefone com os Munduruku. Alegando falta de recursos, Chiarelli propôs a ida de algumas lideranças até Brasília para uma reunião. A proposta foi recusada: “Ele só quer um grupo pequeno, né?! Por que ele não vem pra cá? Como ele diz que tá com pouco recurso, por que ele não vem aqui com a gente? A conversa que ele vai ter em Brasília, ele pode ter aqui. A gente tá cansado de ir pra Brasília e não resolver nada”, afirmou Juarez Saw, cacique da aldeia Sawré Muybu.
Flávio Chiarelli disse que daria uma resposta sobre a publicação do relatório em 13 e 14 de dezembro, quando está prevista uma reunião no alto Tapajós. Os Munduruku não acreditaram na promessa e decidiram seguir com a autodemarcação, que já dura 44 dias.
No início da semana, os indígenas encontraram cerca de 300 garimpeiros explorando diamante bem próximo ao local sagrado que  dá noma à área indígena reinvidicada. Os donos são de Israel, Alemanha e um da Rússia, conhecido como Erlen. Todas as semanas um deles passa no garimpo para arrecadar o que é extraído. “Na semana levaram uma garrafa de coca-cola de 2 litros inteira cheia de diamante, acho que dava mais ou menos uns 3 mil quilates”, conta um garimpeiro que deixou o local após à fiscalização.

“A gente veio aqui porque a gente tá vendo a necessidade. A gente viu a destruição da nossa terra, da floresta. A gente veio aqui para fazer que a Funai assine o nosso relatório, mas a Funai não vai assinar. Vamos continuar nosso trabalho de autodemarcação, mas qualquer problema que acontecer com a gente ou com os invasores a culpa é toda do governo e da Funai, que não demarcam nossa terra”, disse Leusa Kaba Munduruku, após a desocupação da autarquia.
A Funai é pressionada por órgãos do Governo a segurar a publicação do relatório por causa de interesses hidrelétricos no Tapajós (Leia também: Funai Admite pressão e condiciona demacação à hidrelétrca).  O reconhecimento dos limites tornaria a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós completamente ilegal, pois a mesma alaga em cheio grande parte da área secularmente ocupada pelos Munduruku.

Durante a ocupação foi divulgada mais uma carta, na qual os Munduruku falam sobre o que sentiram ao ver o local sagrado Daje Kapap Eypi, também conhecida pelos “brancos” como Sawré Muybu. Leia aqui:

Aldeia Sawre Muybu, 28 de novembro de 2014 

“Quando nós passamos onde os porcos passaram, eu tive uma visão deles passando. Eu tenho 30 anos. Quando eu era criança minha mãe me contou a história dos porcos. É por isso que devemos defender nossa mãe terra. As pessoas devem respeitar também. Todas as pessoas devem respeitar porque a história está viva, estamos aqui, somos nós”. Orlando Borô Munduruku, aldeia Waro Apompu, Alto Tapajós Hoje, pela primeira vez durante a autodemarcação, chegamos ao local sagrado Daje Kapap Eypi, onde os porcos atravessam levando o filho do Guerreiro Karosakaybu. Sentimos algo muito poderoso que envolveu o nosso corpo. Outra emoção forte que sentimos hoje foi ver nossa terra toda devastada pelo garimpo bem perto de onde os porcos passaram. Nosso santuário sagrado está sendo violado, destruído por 50 PCs(retroescavadeiras) em terra e 5 dragas no rio. Para cada escavadeira, 5 pobres homens, em um trabalho semiescravo, explorados de manhã até a noite por 4 donos estrangeiros. Primeiro o Governo Federal acabou Sete Quedas, no Teles Pires, que foi destruído pela hidrelétrica, mando o espírito da cachoeira. E agora, com seu desrespeito em não publicar o nosso relatório, acaba também com Daje Kapap Eypi. Sentimos o chamado. Nosso Guerreiro, nosso Deus, nos chamou. Karoskaybu diz que devemos defender nosso território e nossa vida do grande Daydo, o traidor, que tem nome: O Governo Brasileiro e seus aliados que tentam de todas as formas nos acabar. Nós estamos lutando pela nossa demarcação há muitos anos, sempre que a gente vai para Brasília a Funai inventa mentiras e promessas para nos acalmar. Sabemos que a Finai faz isso para ganhar tempo para construção da hidrelétrica do Tapajós, agora nós cansamos de esperar. Sem chorar ou transformando as lagrimas em coragem, em Assembleia tomamos a seguinte decisão: a Funai tem três dias para publicar o nosso relatório e dar continuidade à demarcação, homologação e desintrusão da nossa terra. Caso não sejamos atendidos, vamos dar continuidade ao trabalho de autodemarcação até o final. Por enquanto só estamos avisando os invasores que eles devem sair do nosso território, mas se a Funai não fizer o que tem que ser feito, ou seja, publicar o nosso relatório e demarcar nossa terra, a mesma, com a sua omissão, estará provocando um conflito com proporções inimagináveis entre Munduruku e invasores, que já é anunciado há muito tempo, com todas as denúncias de ameaças que estamos sofrendo.


Fonte: Blog Autodemarcação no Tapajós - Foto: Larissa Saud

Eternas saudades, eternos risos...

Roberto Bolaños (1929-2014)













Ministro da Agricultura é citado em depoimentos de investigação sobre fraude de terras

Ministro é citado em depoimentos de investigação sobre fraude de terras. Assessoria de Neri Geller (Agricultura) diz que ele não tem envolvimento. PF informou que não investigou ministro; juiz federal enviou caso ao STF.



O nome do ministro da Agricultura, Neri Geller, foi citado por diversas vezes em depoimentos de testemunhas de processo da Justiça Federal de Mato Grosso sobre invasão e negociação de terras públicas da União destinadas à reforma agrária no estado.

Nesta quinta-feira (27), a Polícia Federal deflagrou a Operação Terra Prometida, que investigou pelo menos 13 fazendeiros e empresários suspeitos de explorar terras destinadas à reforma agrária na região de Itanhangá (cidade a 447 km de Cuiabá) para monoculturas, como de soja e de milho. A acusação é do Ministério Público Federal (MPF), que solicitou à Justiça a expedição de 52 mandados de prisão.

O suposto envolvimento do ministro da Agricultura, Neri Geller, é decorrência de depoimentos de testemunhas que relataram que Geller seria proprietário de pelo menos dois lotes de um assentamento em Itanhangá destinado à reforma agrária, mas que teria sido ocupado por políticos por fazendeiros e políticos da região norte do Mato Grosso.

A Polícia Federal divulgou nota nesta sexta-feira (leia a íntegra ao final desta reportagem) informando que o ministro não foi investigado na operação. Devido às citações de Neri Geller nos depoimentos, o juiz federal Fabio Henrique Rodrigues de Moraes Fiorenza, da Subseção Judiciária de Diamantino (MT), remeteu no final de agosto o processo para o Supremo Tribunal Federal (STF), única instância da Justiça autorizada a investigar ministros de estado.

Segundo a nota da Polícia Federal, "o Ministério Público Federal no Mato Grosso submeteu a aludida apuração ao Supremo Tribunal Federal que, após análise, devolveu os autos à primeira instância para prosseguimento da operação".

De acordo com a nota, ao receber de volta a investigação do STF, o juiz federal expediu os 33 mandados de prisão cumpridos pela PF na Operação Terra Prometida. Dois dos presos são irmãos do ministro, Odair e Milton Geller, que se entregaram à Polícia Federal na noite de quinta-feira e estão no Centro de Custódia de Cuiabá.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informou, por meio de nota, que o ministro Neri Geller não foi arrolado na Operação Terra Prometida. De acordo com o ministério, Geller lamentou a presença de familiares entre os investigados e disse não acreditar na participação deles em qualquer irregularidade. Geller afirmou também, por meio da assessoria do ministério, que não tem associação jurídica ou outro tipo de sociedade com os envolvidos no processo.

Nesta quinta-feira, a Procuradoria da República de Mato Grosso e a Superintendência da Polícia Federal do estado negaram haver indícios ou qualquer investigação paralela envolvendo o ministro.
Porém, o juiz federal divulgou, nesta tarde, trechos da decisão onde constam várias denúncias feitas por testemunhas ouvidas no processo segundo as quais Neri Geller, juntamente com familiares, teriam participado do suposto esquema criminoso. De acordo com a denúncia, Geller teria vendido os lotes invadidos para financiar sua campanha a deputado federal em 2010.

Os dois irmãos do ministro na lista dos investigados foram presos preventivamente por suposto envolvimento na emissão irregular de títulos dos lotes.

“Conforme apurado até o momento, o chamado ‘Grupo Geller’ seria comandado pelos irmãos Neri Gueller, Odair Gueller e Milton Gueller e seria detentor de diversos lotes no âmbito do [assentamento rural] PA Itanhangá/Tapurah, realizando, além da ocupação e exploração das áreas, sua negociação e venda a terceiros”, afirma o juiz no texto da decisão.

O juiz aponta também que, da análise detalhada do inquérito policial que embasa as representações, "vislumbra-se a existência de elementos que apontam o possível envolvimento de autoridades detentoras de prerrogativa de foro no esquema criminoso”, enfatiza. Em seguida, o magistrado cita os nomes do ministro Neri Geller, dos deputados estaduais Dilmar Dal Bosco e José Geraldo Riva, ex-presidente da Assembleia Legislativa.

O deputado estadual Dilmar Dal Bosco informou que não sabia da citação do nome dele na decisão judicial. Disse ainda que não tem envolvimento no esquema e que nunca teve terras em Itanhangá nem em Tapurah. Dal Bosco frisou que o nome dele deve ter sido citado por fazer parte da frente parlamentar de regularização fundiária da Assembleia Legislativa, que fez audiência pública no local para cobrar do Incra a regularização das terras.

O deputado estadual José Riva, por telefone, também negou ter qualquer participação no esquema.

“Corre a notícia que essa família Geller possui mais de 15 lotes dentro do assentamento. Por isso, Neri Geller, na condição de Ministro da Agricultura, tem se empenhado tanto em pressionar o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), através do presidente do órgão de Brasília”, diz trecho do documento. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), os lotes tinham 100 hectares cada um, sendo localizados entre Itanhangá e Tapurah, e estavam em nomes de membros da família, como sobrinhos, primos, tios e outros.

Leia abaixo nota em que a Polícia Federal nega ter investigado o ministro Neri Geller.

NOTA A IMPRENSA

Brasília/DF – Em referência à matéria “Investigação aponta envolvimento de ministro com fraude em terras para reforma agrária”, do jornalista Jaílton de Carvalho, veiculada pelo site do jornal O Globo, a Polícia Federal informa:

1 – O inquérito policial da referida operação não investigou o Ministro da Agricultura nos crimes ali apurados;

2 – O Ministério Público Federal no Mato Grosso submeteu a aludida apuração ao Supremo Tribunal Federal que, após análise, devolveu os autos à primeira instância para prosseguimento da operação;

3 – O juiz federal do caso, ao receber a investigação do STF, expediu os mandados que foram cumpridos pela PF.

Divisão de Comunicação Social do Departamento de Polícia Federal


Fonte: G1

Leia também: 
Cardozo aciona PF por suspeita sobre Geller (Coluna de Gerson Camarotti)

Investigação aponta envolvimento de ministro com fraude em terras para reforma agrária (O Globo)


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Quadrilha teria 'deletado' 300 lotes de reforma agrária do sistema do Incra

PF informou que terras foram colocadas em nomes de "laranjas".
Operação Terra Prometida foi deflagrada contra fraudes em terras da União.


Kelly Martins*

A quadrilha investigada em Mato Grosso por fraudes em áreas da União, alvo da operação “Terra Prometida”, deflagrada nesta quinta-feira (27) pela Polícia Federal, teria deletado do sistema interno do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) cerca de 300 lotes de um assentamento. Segundo as investigações, as terras estão localizadas na região de Itanhangá, 447 km de Cuiabá, e teriam sido destinadas de forma fraudulenta a fazendeiros e empresários suspeitos de explorar terras destinadas à reforma agrária.

A assessoria de imprensa do Incra informou que vai apurar a responsabilidade dos funcionários investigados. Dos 52 mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça Federal de Diamantino, a 209 km de Cuiabá, 30 haviam sido cumpridos pela PF até a noite de quinta-feira. Dois irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller, estão na lista dos investigados e tiveram mandados de prisão preventiva expedidos contra si.

A organização criminosa ameaçava os assentados para vender por preços baixos os lotes do governo federal e emitia novos títulos de forma irregular e com o auxílio de servidores do Incra. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), foram identificadas irregularidades na concessão e manutenção dos lotes que eram voltados para o setor agrário.

Os integrantes da quadrilha, composta por fazendeiros e empresários, usam da influência e poder econômico também para aliciar e coagir os assentados, que eram praticamente obrigados a deixar as terras. As áreas foram praticamente desmatadas para o cultivo de soja e lavoura.

O assentamento Itanhangá, que leva o mesmo nome do município, e está localizado na divisa com a cidade de Lucas do Rio Verde, foi instituído em 1997, mas as investigações começaram em 2010. “Há possibilidade de que deste esta época as ações criminosas já vinham sendo praticadas",considerou a procuradora Ludmila Monteiro.

Atuação
Entre os integrantes da organização criminosa estão quatro servidores do Incra da cidade de Diamantino, a 209 km da capital, conforme a PF. A fraude está avaliada em R$ 1 bilhão.


Para a manutenção do comércio ilegal de terras da reforma agrária, a quadrilha teria usado documentos falsos, feito vistorias simuladas, fraudado termos de desistência e até mesmo inserido dados falsos no sistema de informações de Projetos de Reforma Agrária do Incra, permitindo que latifundiários, grupos de agronegócio e até empresas multinacionais ocupassem ilicitamente terras da União destinadas à reforma agrária.

Grupos
Conforme a denúncia apresentada pelo MPF à Justiça Federal, a quadrilha se divide em pelo menos quatro núcleos. O primeiro seria formado por fazendeiros e empresários que, por sua vez, estariam subdivididos entre “liderança” (com 14 pessoas) e “segundo escalão” (com 62 pessoas). O segundo núcleo seria formado por quatro sindicalistas (um deles também atuaria como integrante do primeiro núcleo). O terceiro núcleo seria de quatro servidores públicos. Já o quarto núcleo da organização criminosa consistiria em apenas uma pessoa, considerada “colaboradora”.

Confome a PF, o esquema era operado, basicamente, por pessoas ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhangá e ao serviço social da prefeitura municipal daquele município, que elaboravam listas com nomes de 'laranjas' que, em nome de fazendeiros, falsificavam 'cartas de desistência' e declaração de aptidão ao Incra.

Depois disso, servidores do Incra faziam uma vistoria fictícia para comprovar a posse dos 'laranjas', que após cadastrados no sistema do órgão, eram homologados e emitidos na posse. Entretanto, quando o documento do Incra era emitido, o fazendeiro já estava ocupando e produzindo nas parcelas reconcentradas. A estimativa da PF é de que 80 fazendeiros tenham ocupado cerca de mil lotes da União. Um deles teria obtido 55 lotes e regularizado essas áreas com o apoio de servidores.

Fonte: G1

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Irmãos do ministro da Agricultura são alvos de operação da PF contra fraude

Operação Terra Prometida deve prender 52 pessoas por fraude em MT, SC, PR e RS (Foto: Reprodução/TVCA)
PF foi até as casas dos irmãos de Neri Geller para cumprir mandados. Ministério da Agricultura informou que Neri não está entre os investigados.

Dois irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller, são alvos da operação Terra Prometida, deflagrada pela Polícia Federal, nesta quinta-feira (27). A ação é contra fraudes na concessão de áreas da União destinadas à reforma agrária a produtores rurais e empresários, por meio de títulos emitidos de forma irregular.

Policiais federais foram até a casa de Odair Geller, em Lucas do Rio Verde, a 360 km de Cuiabá, e apreenderam documentos. Ele não estava na residência no momento. Os agentes também estiveram na residência de Milton Geller, em Nova Mutum, a 269 km da capital, para prendê-lo. Nenhum dos dois irmãos do ministro foi preso, como o G1 apurou. Milton é ex-prefeito de Tapurah, a 414 km de Cuiabá, onde também estão sendo cumpridos mandados. A princípio, a informação era de que apenas Odair estivesse supostamente envolvido no esquema. Ambos são produtores rurais.

Como a operação ainda está em andamento e nem todos os 52 mandados de prisão preventiva e os 146 de busca e apreensão haviam sido cumpridos, a PF não pôde informar se os policiais foram até a casa do irmão de Neri Geller para prendê-lo ou para fazer busca e apreensão. O G1 tentou, mas não conseguiu localizar o advogado de Odair e de Milton Geller até o fechamento desta matéria.

A assessoria do Ministério da Agricultura informou que o titular da pasta, Neri Geller, não é alvo das investigações da Polícia Federal. Alegou ainda que o ministro está nos Emirados Árabes Unidos e ainda não tomou conhecimento da operação policial. 

Na operação, a PF prendeu o ex-prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino Franz. Ele foi levado para a delegacia da Polícia Federal do município. A advogada do ex-prefeito, que o acompanhava no momento da prisão, também não quis se manifestar sobre o assunto.

Estão sendo cumpridos, simultaneamente, mandados de prisão e de busca e apreensão em Cuiabá, Várzea Grande, Nova Mutum, Diamantino, Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Ipiranga do Norte, Sorriso, Tapurah e Campo Verde. Na capital, foi confirmada a prisão de um servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, um dos suspeitos de regularizar lotes para beneficiar produtores rurais e empresários.

Em Itanhangá, três pessoas foram presas, entre eles o vice-prefeito da cidade. Ainda em Lucas do Rio Verde, a PF prendeu Edu Pascoski, membro da diretoria do Luverdense.

As investigações começaram em 2010 e identificaram irregularidades na concessão e manutenção de lotes destinados à reforma agrária. Entre os integrantes da organização criminosa estão oito servidores públicos, conforme a PF. A fraude está avaliada em R$ 1 bilhão.

 A estimativa da PF é de que 80 fazendeiros tenham ocupado cerca de mil lotes da União. Um deles teria obtido 55 lotes e regularizado essas áreas com o apoio de servidores do Incra.

Segundo a PF, a organização atua fortemente nas regiões de Lucas do Rio Verde e Itanhangá, a 360 e 447 km da capital, em crimes de invasão de terras da União e contra o meio ambiente. Fazendeiros, empresários e grupos ligados ao agronegócio usam da influência e poder econômico para aliciar, coagir e ameaçar outros pessoas para obter lotes.

Usavam da força física para invadir terras ou comprar a preço baixo e depois, com o auxílio de servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e de servidores das câmeras de vereadores e das prefeituras desses municípios buscavam regularizar a situação do lote. 

Para a manutenção do comércio ilegal de terras da reforma agrária, a quadrilha teria usado documentos falsos, feito vistorias simuladas, fraudado termos de desistência e até mesmo inserido dados falsos no sistema de informações de Projetos de Reforma Agrária do Incra, permitindo que latifundiários, grupos de agronegócio e até empresas multinacionais ocupassem ilicitamente terras da União destinadas à reforma agrária.

Confome a PF,  o esquema era operado, basicamente, por pessoas ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhangá e ao serviço social da prefeitura municipal daquele município, que elaboravam listas com nomes de 'laranjas' que, em nome de fazendeiros, falsificavam 'cartas de desistência' e declaração de aptidão ao Incra.

Depois disso, servidores do Incra faziam  uma vistoria fictícia para comprovar a posse dos 'laranjas', que após cadastrados no sistema do órgão, eram homologados e emitidos na posse. Entretanto, quando o documento do Incra era emitido, o fazendeiro já estava ocupando e produzindo nas parcelas reconcentradas.

Fonte: G1

PF deflagra operação de combate a invasão de áreas da União

Ao todo, 227 mandados estão sendo cumpridos em MT e outros três estados

A Polícia Federal de Mato Grosso deflagrou, nesta quinta-feira (27), a Operação "Terra Prometida". Estão sendo cumpridos 52 mandados de prisão preventiva, 146 mandados de busca e apreensão e 29 de medidas proibitivas nos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, Nova Mutum, Diamantino, Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Ipiranga do Norte, Sorriso, Tapurah e Campo Verde.

Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal de Diamantino (MT) e, dentre os alvos, estão oito servidores públicos. Há também investigados nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O inquérito policial foi instaurado em 2010, após denúncias veiculadas pela imprensa a respeito de irregularidades na concessão e manutenção de lotes destinados à reforma agrária.

Segundo a PF, no transcorrer da investigação descobriu-se uma verdadeira organização criminosa, com forte atuação na região de Lucas do Rio Verde (MT) e Itanhangá (MT), estruturada para cometer crimes de invasão de terras da União, contra o meio ambiente, falsidade documental, estelionato, corrupção ativa e passiva, cujas penas podem chegar a até 12 anos de reclusão.

Com o objetivo de se obter a reconcentração fundiária de terras da União destinadas à reforma agrária, fazendeiros, empresários e grupos do agronegócio fazem uso de sua influência e poder econômico para aliciar, coagir e ameaçar parceleiros ambicionando seus lotes de 100 hectares, cada um avaliado em cerca de R$ 1 milhão.

Conforme a Polícia Federal, os investigados usavam de "ações ardilosas, força física e até de armas" para comprar os lotes a baixo preço ou invadiam e esbulhavam a posse destas áreas.

Em seguida, com o auxílio de servidores corrompidos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), integrantes de entidades de classe, servidores de Câmaras de Vereadores e de Prefeituras Municipais buscavam regularizar a situação do lote.

Conforme a PF, para a manutenção do comércio ilegal e reconcentração de terras da reforma agrária, no decorrer dos últimos dez anos a organização criminosa fez uso de documentos falsos, ações de vistoria simuladas, termos de desistência fraudados e dados inverídicos incluídos no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (SIPRA/Incra), propiciando que grandes latifundiários, grupos de agronegócio e até empresas multinacionais ocupassem ilicitamente terras da União destinadas à reforma agrária.

O esquema
O esquema era operado, em síntese, através de pessoas ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhangá (MT) e ao serviço social da Prefeitura Municipal de Itanhangá, que elaboravam listas com nomes de “laranjas” que, em nome de empresários e fazendeiros, falsificavam “cartas de desistência” e Declaração de Aptidão ao Incra.

Em seguida, os servidores do Incra realizavam “vistoria fictícia" para comprovar a posse dos “laranjas", que após cadastrados no Sipra, eram homologados e imitidos na posse. Entretanto, quando o documento do Incra era emitido, o fazendeiro já estava ocupando e produzindo nas parcelas reconcentradas.

De acordo com informações da PF, o esquema era muito lucrativo, tanto para os intermediários que atuavam nas negociatas, quanto para os grupos do agronegócio que reconcentram as parcelas, usurpando áreas de topografia plana, o que as torna muito produtiva e valorizada após a mecanização.

Atualmente, estima-se que 80 fazendeiros estão reconcentrando ilegalmente cerca de mil lotes da União, sendo que o maior latifundiário reconcentra 55 lotes, e o menor 5 lotes, podendo tal fraude alcançar o montante de um bilhão de reais, em valores atualizados.

A operação
Cerca de 350 policiais federais atuam na operação, que ganhou o nome de "Terra Prometida" em referência à promessa de terras feita por Deus ao povo escolhido.


Fonte: Mídia News

Leia também aqui no blog: CNA e Incra acertam “libertação de assentamentos

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Mais uma ação do MPF/PA aponta ilegalidade na licença de instalação da usina São Manoel

Condicionantes que compensariam os índios não foram cumpridas. Com o novo processo, já são oito pedindo à Justiça que paralise o empreendimento por irregularidades

O Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) ajuizou mais uma ação judicial apontando ilegalidade e pedindo a anulação da licença de instalação concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) à usina São Manoel, no rio Teles Pires, na divisa do Pará com o Mato Grosso. Esse é o oitavo processo aberto na Justiça Federal contra a usina e aponta que as condicionantes exigidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para mitigar e compensar os impactos aos povos Kayabi, Munduruku e Apiaká não foram cumpridas até agora.

Para o MPF/PA, o processo de licenciamento da usina de São Manoel está repleto de irregularidades desde o começo, principalmente no que toca aos direitos dos povos indígenas, severamente afetados – para se ter uma ideia, a barragem está projetada para menos de um quilômetro de distância da Terra Indígena Kayabi. Os estudos sobre os impactos aos índios (o chamado Estudo de Componente Indígena) foram entregues incompletos e sem a assinatura de antropólogo responsável. Ao receber o material, os técnicos da Funai, em novembro de 2013, emitiram parecer informando que o projeto causaria 28 impactos sobre os povos indígenas, sendo 27 negativos. Por esse motivo, se posicionaram contra a usina. 

A presidência da Funai no entanto, em oposição aos seus técnicos, dá parecer favorável para que o Ibama emita a licença prévia da usina, em dezembro de 2013 com apenas duas condicionantes que se referem aos indígenas. A própria Funai pede a correção das condicionantes, para acrescentar outras duas que visem compensar os impactos irreversíveis sobre a ictiofauna e a perda de locais sagrados. Mas nenhuma das condicionantes foi cumprida e mesmo assim, em agosto de 2014, a presidência da Funai, novamente, se declara favorável à concessão da licença seguinte, a de instalação. 

De acordo com as normas do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), as condicionantes de cada fase do licenciamento precisam estar completamente cumpridas antes que o órgão licenciador passe à etapa seguinte. “A razão para isso é evidente. A protelação de medidas necessárias para as próximas fases do processo de licenciamento macula todo o procedimento e aumenta o risco de ocorrência de impactos socioambientais não estudados, com graves consequências lesivas ao meio socioambiental”, diz a ação do MPF/PA.

“Ocorre que a fase seguinte (de instalação) é a construção da usina, com a chegada de dezenas de milhares de pessoas para o canteiro de obras a menos de 1 km da T.I. Kayabi”, narra a ação judicial. A assessoria pericial do MPF examinou o licenciamento e concluiu que as exigências da Funai para a licença prévia foram descumpridas e a participação dos índios no processo foi quase nula. “E assim se realizou o processo de licenciamento ambiental de mais uma UHE na Amazônia. O descumprimento de condicionantes da licença prévia foi solucionado com a transformação dessas ações mitigatórias e compensatórias em condicionantes da licença seguinte. E seguem descumpridas”, diz o MPF/PA. 

Em reconhecimento à legislação brasileira, várias decisões do Tribunal Regional Federal da 1a Região estabelecem o respeito às condicionantes de cada etapa como fundamental para a legalidade do processo de licenciamento ambiental (nos casos de Belo Monte, Teles Pires e na própria São Manoel). “O cumprimento integral das condicionantes da Licença Prévia é condição para emissão de Licença de Instalação válida. É o que está previsto na legislação ambiental brasileira e assentado jurisprudencialmente”, diz a ação judicial, para afirmar em seguida que, por essa razão, a licença de instalação de São Manoel é nula.

O processo tramita na 9ª Vara da Justiça Federal em Belém, com o número 0034214-98.2014.4.01.3900

Íntegra da ação

Fonte: Ministério Público Federal no Pará - Assessoria de Comunicação

Apesar da moratória da soja, desmatamento aumentou

“Culto” de renovação da moratória da Soja (Fotografia: Wenderson Araujo/Greenpeace)

A moratória da soja foi renovada nesta terça-feira (25) pra sétima vez. Os resultados do 7ª ano de moratória (quer dizer proibição) à comercialização de soja produzida em áreas desmatadas na Amazônia foram divulgados em Coletiva de Imprensa no Ministério do Meio Ambiente. Apesar disso, a área desmatada para a plantação de soja cresceu 61% em 2013 e chegou a 47.028 hectares, contra 29.295 hectares registrados em 2012

Houve áreas desmatadas identificadas em 73 municípios de Mato Grosso, do Pará e de Rondônia, que respondem por 98% da soja plantada no bioma da Amazônia.

Para a Ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, a alta do preço da soja contribuiu para o descumprimento do acordo: "Alguns produtores resolveram apostar em descumprir a lei", disse ela.

De acordo com a ministra, a área total do desmatamento para a plantação de soja é muito pequena: corresponde a apenas 4,6% do desmate ocorrido no período nos 73 municípios produtores e a 0,9% da área desmatada no bioma Amazônia como um todo. Além disso, a taxa de desmatamento desses municípios caiu 5 vezes após a implantação da moratória.

Renovação
A renovação da moratória da soja até maio de 2016 foi assinada por Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove); por Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec); Paulo Adário, estrategista de Florestas do Greenpeace e representante da sociedade civil na moratória; e pela ministra Izabella Teixeira.

O acordo deverá ser substituído por um novo mecanismo de controle, dentro do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural, que entrou em vigor em maio desse ano e só deve ser devidamente implementado em 2016, quando expira o prazo legal para que isso ocorra.

Fonte: O Eco (fotografia e legenda não incluídas no texto original)

Funai admite pressão e condiciona demarcação à hidrelétrica

Autarquia afirma que o relatório de terra indígena no médio Tapajós ainda não foi divulgado por causa de interesses hidrelétricos na região.


Um vídeo, filmado pelos Munduruku em setembro deste ano, mostra uma reunião entre membros da Funai, indígenas e entre a então presidenta da Funai Maria Augusta Assirati, que afirma ter sido pressionada por setores do Governo Federal para não assinar o relatório da Terra Indígena Sawré Muybu .

Ela chega a chorar e diz que ainda não publicou os estudos e o mapa com as coordenadas da TI porque outros órgãos do Governo Federal passaram a discutir a demarcação, que se aprovada, inviabilizaria legalmente a construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. Além de indígenas, ribeirinhos e representantes da Fundação, também estavam presentes Nilton Tubino, da Secretaria Geral da Presidência da República e Celso Kjinic, do Ministério de Planejamento.

Maria Augusta teria se comprometido em publicar o relatório em abril deste ano, mas não cumpriu a promessa. Após meses de espera, os Munduruku foram até Brasília cobrar a divulgação no Diário Oficial. Arissati confirma que estudos estão prontos e que estavam na mesa dela, mas que após a conclusão, em setembro de 2013, “órgãos do governo passaram a também discutir a proposta do relatório, discutir a situação fundiária na região”.

Ela expõe os motivos: “Vocês sabem, né?! Que ali tem uma proposta de se realizar um empreendimento hidrelétrico, uma hidrelétrica ali naquela região que vai contar com uma barragem pra geração de energia e essa barragem tá muito próxima da terra de vocês (…). Quando a gente concluiu o relatório surgiram dúvidas se essa área da barragem, se esse lago que essa barragem da hidrelétrica vai formar, vai ter uma interferência na terra indígena de vocês, na área de vocês, na vida de vocês”.

Fonte: Blog Autodemarcação no Tapajós

Terror no Sul da Bahia: em mega-operação, policiais espancam e atiram balas de borracha contra os Pataxó


Em ação truculenta para cumprir mandado de reintegração de posse na Aldeia Boca da Mata, a Polícia Federal com apoio da Polícia Militar e Civil do estado da Bahia, disparou balas de borracha e bombas de gás contra os indígenas Pataxó. Segundo relatos, os policiais não pouparam nem crianças e mulheres, hoje, 26 de novembro, por volta de 5h da manhã.  

Uriba Pataxó informou que há muitos indígenas desaparecidos nas matas que estavam fugindo do ataque da Polícia. O representante da Funai na região, Tiago de Paula, estava na área e segundo indígenas ele também foi agredido. “Bateram em nossos parentes, nossas crianças e mulheres. Tem índio que ainda tá perdido no mato. Chegaram botando terror. São mais de 30 viaturas que estão no território, PF, Polícia Civil e Polícia Caema. Então é muita policia, já chegaram espancando os índios, estamos preocupados com nossos parentes que ainda estão perdidos no mato”, lamenta Antônio José Pataxó, que vive na Aldeia Guaxuma, outra área de retomada distante 11km de Barra Velha, local onde aconteceu a barbárie.

A Polícia pretende cumprir todas as liminares favoráveis aos fazendeiros que reivindicam a posse do território tradicional dos Pataxó. As lideranças indígenas ainda não informaram data, mas vão se articular para ver o que fazer diante dessa situação. 


Devido a morosidade do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em assinar as Portarias Declaratórias, os fazendeiros estão entrando com liminares reivindicando as terras ancestrais dos indígenas. Deixando-os vulneráveis e expostos a ataques, um verdadeiro contexto de insegurança e violência.

São 13 portarias declaratórias de terras em todo o Brasil que estão na mesa do ministro só a espera da assinatura. Nos últimos quatro anos, foram três audiências dos Pataxó com o ministro da Justiça, inclusive a última, no dia 20 de outubro deste ano, a audiência foi em uma das áreas de retomadas dos indígenas. Onde estavam presentes o Ministério Público Federal, a Funai e o MJ. Na reunião, ficou acertado que não haveria ação policial contra os Pataxó, acordo violado com essa operação violenta. Os indígenas afirmam que uma base da polícia esta instalada no território, onde permanecerá durante três dias.

A Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal, situada nos municípios de Porto Seguro, Prado, Itamaraju, região do extremo sul da Bahia é área tradicionalmente ocupada pelos Pataxó, conforme vários relatos históricos desde de 1.500 e tem o território delimitado e homologado conforme processo Funai com 8.627 hectares, entretanto, os indígenas reivindicam 52.748 hectares, área que incide no Parque Nacional Monte Pascoal, sobreposto a Terra Indígena.


Em desacordo com a reivindicação da comunidade indígena, a terra indígena foi demarcada em 1981 e declarada como posse permanente da comunidade por meio da Portaria de nº 1.393, em 1982. 


Área que é insuficiente para uma população de mais de 5 mil indígenas espalhados em cerca de 17 aldeias. Com a revisão de limites essa área passa para 52.748 hectares, sendo que desse total,  22.500 pertence ao Parque Nacional do Monte Pascoal , criado em 29 de novembro de 1961. Na década de 1970, a área foi reduzida.

Devido a demora do governo na regularização territorial em abril de 2014, as lideranças e membros de várias comunidades indígenas deram início ao processo de retomadas em fazendas que estão dentro da área delimitada pela Funai, totalizando cerca de 27 propriedades, para pressionar o Ministério da Justiça a expedir Portaria Declaratória. Atualmente existem cerca de 13 interditos proibitórios, 12 mandados de reintegrações e manutenção de posse na Justiça Federal de Eunápolis e Teixeira de Freitas, aguardando cumprimento pela Polícia Federal.


Fonte: Cimi

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Racha nas abobrinhas: "Blog da Dilma" critica nomeação de Katia Abreu. "Amigos do Lula" e "Conversa Afiada" querem a ruralista


A chamada “blogosfera progressista”, nome pomposo para a rede de blogueiros governistas, conhecidos por defenderem até as últimas consequências as políticas governamentais e as táticas de aliança dos petistas, acaba de “rachar”.

A anunciada nomeação da líder ruralista e senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para assumir o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem sido fonte de inspiração para a contínua produção de pérolas a favor da presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e de combate aos setores governistas resistentes à sua nomeação, especialmente alguns movimentos sociais e setores da quase extinta “esquerda do PT”. Mas, se há divergência nas posições, manteve-se um elemento de unidade que tão fortemente tem caracterizado esta parte do mundo virtual: a produção de abobrinhas, talvez agora com mais doses de agrotóxicos.

Neste domingo, um dos baluartes do mundo dos blogs petistas, o jornalista Paulo Henrique Amorim do blog Conversa Afiada, inaugurou a sequência de criação de argumentos fantasiosos para justificar a provável nomeação da dama dos ruralistas para o Mapa. Com a postagem "O Conversa Afiada apoia a Kátia", Paulo Henrique faz um malabarismo em que tenta conciliar a defesa da nomeação de Kátia Abreu como ministra e o apoio que ele supostamente dar para o MST "empurrar a Dilma e o agro-negócio contra a parede". Utilizando-se de supostos dados de Alysson Paulinelli, que segundo Paulo Henrique "fez da Embrapa a NASA do Brasil!", o jornalista tenta mostrar a suposta superioridade do agronegócio brasileiro para concluir: "O agro-negócio merece um Ministro da Agricultura forte" e este nome é Kátia Abreu.

No trecho da postagem em que supostamente faz uma "defesa" do MST, Amorim na verdade continua defendendo a nomeação da ruralista: "Que não destile o ódio que se percebe nas contrações verbais de Ronaldo Caiado e que, muitas vezes, Kátia emulou. Contra o MST, Kátia e Caiado se equivalem. E isso é um erro. O MST tem um papel fundamental, que é empurrar o Governo, as instituições e os fazendeiros contra a parede para enfrentar o problema dos sem-terra. Numa Democracia, esse confronto pode se travar, com tensão, e com avanços. O agro-negócio e o MST têm que conviver. E, no passado, Kátia não agia de forma a permitir que isso acontecesse, nos moldes da civilidade."  
Ou seja, se no passado Kátia Abreu e o MST eram inconciliáveis, no presente ela já não age assim. Portanto, talvez o erro esteja com a outra parte, o MST.


As "teses" do Conversa Afiada prosseguem com o "novo perfil" pintado de Kátia Abreu e já com a "reivindicação" para provável nova ministra "conter e ultrapassar" o Ibama, órgão federal de meio ambiente: "No Ministério da Presidenta Dilma – porque foi ela, a Dilma quem ganhou e, não, o agro-negócio … – Kátia, certamente, estará à altura das novas e complexas responsabilidades. E poderá colaborar com a Dilma para conter e ultrapassar, politicamente, os blablarínicos do IBAMA, que servem mais aos interesses não-brasileiros que aos interesses brasileiros."

Ao final do texto, Paulo Henrique reproduz matéria do sítio do MST em que se noticia a ocupação de uma fazenda de milho transgênico no Rio Grande do Sul no sábado (22 de novembro) por 2 mil jovens ligados ao movimento em que se denunciou a provável ministra Katia Abreu, "(...) pelo vínculo com o agronegócio, que é um modelo explorador que não serve para o campo brasileiro", segundo o texto da matéria. 

A mesma matéria produzida no sítio do MST em que é relatada a ocupação no Rio Grande do Sul foi reproduzida também pelo "Blog da Dilma" que é mantido por apoiadores da presidente. A postagem reproduz o texto original, fazendo apenas uma pequena introdução em que afirma: "A indicação da ruralista Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura ainda não foi digerida por movimentos sociais, como o MST; neste sábado, em protesto contra a polêmica escolha da presidente Dilma Rousseff, integrantes do MST ocuparam a Fazenda Pompilho, no Rio Grande do Sul; para Raul Amorim, da coordenação do coletivo de juventude do MST, com esta ocupação a juventude denuncia Katia Abreu pelo vínculo com o agronegócio; 'Katia Abreu é símbolo de um modelo que está destruindo os recursos naturais e a saúde dos trabalhadores e de toda a população', diz ele."

A simples reprodução da matéria, também ocorrida em outros blogs governistas, provocou um "racha histórico" do "Blog da Dilma" com os "Amigos do Presidente Lula", que é mantido por "admiradores" do ex-presidente e que publicou a postagem 
"Jusitifica fazer dramalhão contra Kátia Abreu na agricultura?" 

No texto em que listam 12 "razões" (por que não 13?) para a nomeação, os blogueiros "Amigos do Lula", criticam "gente que nunca plantou xuxu na vida, mas 'veta' apaixonadamente a possível escolha de Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura, seja por ideologia, seja por solidariedade a companheiros do MST que discorda da escolha. É boa esta paixão militante, união e consciência solidária entre movimentos sociais, mas tem horas que a gente precisa olhar também racionalmente as estratégias políticas."

A postagem em defesa da nomeação não ignora o que Kátia Abreu representa, mas o apoio dela a Dilma já seria suficiente para ignorar tudo isto: "Razões para sermos contra, todos sabemos: questões ideológicas, divergências sobre vários temas, como reforma agrária, questões trabalhistas, econômicas, sociais, indígenas, ambientais, artigos dela criticando países vizinhos "bolivarianos", ela ser egressa do DEM, etc. Somos contra a visão da senadora nestes itens. No todo ou em parte, pois ela tem se comportado de forma mais moderada com o correr do tempo, pelo menos em votações no senado".

Mas, são nas tais "12 razões" que se encontra o maior "colar de pérolas" já produzido sobre o caso, merecendo serem reproduzidas na íntegra (as partes em negrito foram destacadas por mim):

1) Ela está cogitada apenas para ministra da agricultura e o cargo hoje tem funções econômicas de continuar desenvolvendo o agronegócio, pouco apitando nos temas sociais, tratados em outros ministérios e no Congresso Nacional.

2) No senado, Kátia Abreu pode ser reacionária ou, pelo menos, de centro direita, dependendo do tema. No Ministério da Agricultura, se confirmada, ela será desenvolvimentista e pragmática. Em recente artigo dela Folha de São Paulo, mandou às favas o embargo dos EUA e Europa à Rússia devido à intervenção na Crimeia (Ucrânia), e comemorou o aumento das exportações brasileiras de produtos do agronegócio para os russos justamente por causa do embargo.

3) Desde 2003, a genialidade política de Lula criou o Ministério do Desenvolvimento Agrário, separado do da Agricultura, para cuidar da reforma agrária, da melhor distribuição da renda no campo, de elevar camponeses pobres para a classe média, de criar oportunidades de renda e de elevar a qualidade de vida e condições de trabalho e de estudo no campo, de qualificação técnica e profissional para trabalhadores e pequenos produtores.

4) O Ministério da Agricultura ficou justamente para cuidar da parte que já é economicamente produtiva, chamada agronegócio, um setor em que o Brasil colhe sucessos enormes e não pode se dar ao luxo de desperdiçar oportunidades econômicas na atual conjuntura, pois quem pagará o pato é também o povo se o setor for esnobado a ponto de decair a produção, seja por provocar aumento no preço dos alimentos, seja pelo próprio povo ficar mais pobre quando o PIB do setor cai e gira menos dinheiro na economia.

5) Assim, desde 2003, Lula e Dilma escolheram para o Ministério da Agricultura sempre pessoas desenvolvimentistas ligadas ao agronegócio, e escolheram para Ministério do Desenvolvimento Agrário pessoas ligadas aos movimentos sociais do campo. Kátia Abreu pode ser apenas mais famosa do que os outros ministros da agricultura que serviram aos governos Lula e Dilma, mas tem o mesmo perfil deles.

6) É mais importante militar e lutar por escolhas progressistas no Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Meio Ambiente, do Trabalho, da Justiça, Secom, etc, em vez de querermos "vetar" nomes para Agricultura ou para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que também precisa de bons interlocutores nas classes empresariais.

7) Kátia Abreu tem representatividade em seu setor, pois é presidenta da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e conta com apoio da classe, gerando mais canais de diálogo entre governo e produtores, coisa que foi reclamada no primeiro governo Dilma.

8) Lula já provou que o jeito de destravar transformações dentro das regras constitucionais é colocar gente diferente, com interesses até opostos, sentados na mesma mesa para negociar acordos de forma franca. Podem "quebrar o pau" durante um tempo, mas é possível chegar a acordos meio termo, vencendo resistências dos dois lados, mesmo que o acordo não seja o ideal para nenhum deles. Se cada um ficar em seu cercadinho sectário, fechado em sua zona de conforto ideológica, sem negociar com antagônicos, fica tudo empacado e nenhuma mudança é conquistada a curto prazo.

9) Dado o resultado das urnas, com um Congresso Nacional até mais conservador do que nos últimos doze anos, o governo Dilma continua tendo que compor com partidos de centro e de direita uma participação grande no governo. Kátia Abreu não é diferente de vários outros quadros do PMDB, PSD, PP, PR, etc, e ela pode fazer parte da cota que cabe à direita no governo.

10) Sob o ponto de vista de combate à corrupção, colocar nomes de peso político em ministérios é melhor do que nomeações técnicas indicadas por caciques políticos. Se houver escândalo no ministério, é o próprio ministro-cacique que se queima, e não um burocrata sem expressão política que será reposto.

11) Os últimos Ministros da Agricultura foram indicados pela bancada do PMDB na Câmara. Mas a bancada do partido, liderada pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), às vezes é mais oposicionista do que governista em votações. Com Kátia Abreu, ela pode ter mais liderança sobre a bancada ruralista na Câmara, que vai além do PMDB.

12) Pela aliança regional feita entre PMDB e PT nas eleições 2014 no Tocantins, o suplente da senadora Kátia Abreu é do PT, o que representa mais um voto progressista na bancada do Senado, se ele assumir.


Os devaneios governistas ignoram que foi Fernando Henrique Cardosos que criou o Ministério do Desenvolvimento Agrário separado do Ministério da Agricultura e extinguindo o Ministério da Política Fundiária, e não a "genialidade de Lula" que só deu continuidade à pasta. A medida foi inclusive criticada na época, no ano 2000, por criar para a agricultura um ministério para os ricos e outro para os pobres e por esvaziar a centralidade da política de reforma agrária e valorizar a ideia de "agricultura familiar". 

Apesar de criticar quem "nunca plantou um pé de xuxu", os "Amigos do Presidente Lula" ignoram por completo ainda o peso da pequena agricultura (que assim como nos tucanos passou nos governos petistas a ser chamada de "agricultura familiar") na produção de alimentos no país. E pior, reproduz o preconceito de que este setor não seria produtivo, ou seja, apenas o chamado agronegócio responderia pela "grandiosidade" da produção agrícola do país.

Mas, caberia ao sítio da revista Carta Capital
 trazer a versão de que Kátia Abreu além de ser uma escolha acertada, pegaria uma "pasta esvaziada, sem recursos". A mesma revista tem divulgado em redes sociais um vídeo em que Katia Abreu afirma que pobre tem comer alimentos com agrotóxicos sim.



Coube ao colunista Rui Daher a defesa da nomeação no sítio da revista, destacando inclusive que isto era aguardado por ele:

"Diversas vezes divergi das posições da futura ministra. Fui das formas irônicas às mais duras. Nunca, porém, deixei de reconhecer seus conhecimentos sobre o agronegócio, sua combatividade em relação à forma equivocada como a sociedade vê o setor, e sua defesa intransigente aos ataques vindos de interesses econômicos exteriores.

Equivocou-se ao defender várias das mudanças do Código Florestal. Para defender pleitos ruralistas e contrapor teses corretas da comunidade científica, encomendou estudos no mínimo falaciosos. Com frequência, tem-se colocado contra os direitos territoriais indígenas, quilombolas, assentamentos, e critica a instauração de legislação trabalhista mais justa e abrangente para o setor rural.


Também, Kátia Abreu não se cansa de exigir maior rapidez na aprovação pelo MAPA de novos agrotóxicos, em óbvia dobradinha com as fabricantes multinacionais e porta-vozes de associações várias. Nunca se pronunciou pedindo a mesma rapidez para tecnologias produzidas de materiais orgânicos e naturais, efetivas em produtividade e mais baratas, mas originadas de gente pequena e sem lobby.

Tudo isso é motivo para seus constantes embates com órgãos do governo, FUNAI, INCRA, MAPA, ANVISA.


Reconheço que tudo isso assusta aqueles que veem a agropecuária não apenas do alto, mas também com a lupa. Principalmente, aquela que perscruta problemas sociais.


Mas o que se deveria esperar? João Pedro Stédile ministro?


Aguentarei as pedras pela heresia: a escolha da presidente Dilma Rousseff não poderia ter sido mais acertada.


O MAPA é, atualmente, um ministério esvaziado, sem recursos, voltado apenas a aspectos burocráticos e regulatórios. Suas pedras da coroa são Embrapa e CONAB que, apesar dos percalços, ainda fazem um bom trabalho. Quando a última não o faz, o IBGE duplica."


Para o colunista de Carta Capital, Katia Abreu possui "sensibilidade e a combatividade" diante da nova equipe econômica (haveria uma crítica a esta equipe?) cabendo aos movimentos sociais do campo, assentados, indígenas e quilombolas lutar por bons nomes para os Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, para protegê-los: 

"Hoje em dia, assentamentos, comunidades quilombolas, aldeias indígenas, com as raríssimas exceções dos que se organizaram nos moldes de agricultura familiar, representam um proletariado desprotegido, sem meios de autorreprodução e integralmente dependente da ajuda do Estado. (...)

Estamos nos referindo a, vá lá, cerca de 4, 5 milhões de brasileiros (se não concordarem, me ajudem na estimativa), ou 2% da população total, esperando consistência do apoio governamental e atenção da sociedade. Pois bem, para eles, que precisam da lupa social, mais importantes do que o MAPA, com Kátia Abreu ou sem, serão os ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, para os quais a esquerda deve exigir comando comprometido com tais causas."

Carta Capital, Paulo Henrique Amorim e os "Amigos de Lula" enfatizam em seus textos que o PMDB "sempre" controlou o Mapa e que Kátia Abreu seria uma ótima interlocutora com o agronegócio. Mas a realidade vem mostrando que isso não é verdade. A senadora estaria enfrentando resistência a sua nomeação em seu próprio partido e de setores mais modernos agronegócio ao seu nome, conforme noticia a grande imprensa.

Com a rejeição do nome de Kátia por um pequeno segmento do PT, dos movimentos sociais que apoiaram e fizeram campanha para Dilma e do próprio PMDB, coube ao líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Humberto Costa (PT-PE) subir à tribuna nesta segunda-feira para fazer a defesa da nomeação da "companheira". 

Como se vê, o poço dos argumentos da "governabilidade" é mesmo sem fundo.

Nação sufocada: Taxas de suicídio entre indígenas é até 20 vezes superiores às da população geral

O Brasil está longe de ser um país com altos índices de suicídios. A taxa de mortes autoinduzidas por cada 100 mil habitantes por aqui não passa de cinco – seis vezes menor que a observada em países como a Lituânia e a Coreia do Sul. No entanto, a realidade é outra quando se trata dos indígenas brasileiros. Entre eles, as taxas de suicídio são até 20 vezes superiores às da população em geral.

Em sua maioria, são homens jovens que morrem enforcados. Segundo especialistas, vítimas de um problema social profundamente ligado às disputas de terras e às más condições de vida e saúde dos povos nativos.

Para mostrar essa realidade paralela, essa nação sufocada (literal e figurativamente), a Ciência Hoje preparou este mapa interativo que exibe as ocorrências de suicídios indígenas registradas no Brasil entre 1996 e 2012. Os dados são do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Desei) – obtidos nos sites desses órgãos e por meio de pedido fundamentado na Lei de Acesso à Informação.

No mapa, o internauta pode ver os principais focos de suicídios indígenas no país e consultar os números totais de mortes por cidade, bem como a proporção de suicídios indígenas e a participação indígena no município. Também é possível buscar por localidade.

Alguns municípios, como São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, se destacam. Na cidade, onde 76% da população são indígenas, esse grupo responde por quase 95% do total de suicídios. Em termos estatísticos, os indígenas do município têm cinco vezes mais chance de cometer suicídio que os não indígenas. Esse é apenas um dos focos de preocupação.

Um panorama mais completo dessa questão pode ser encontrado na reportagem ‘Nação sufocada’, publicada na Ciência Hoje nº 320 (novembro/2014).  Leia AQUI.