Três engenheiros que
trabalham para a Norte Energia, consórcio responsável pela hidrelétrica
de Belo Monte, estão detidos na aldeia Muratu após uma fracassada reunião sobre
os mecanismos que a empresa pretende oferecer para transpor embarcações após o
barramento completo do Xingu na altura do canteiro de obras de Pimental.
A empresa precisa de uma
licença do Ibama para fechar a barragem do rio – conhecida como ensecadeira de
Pimental – e, para tanto, pretendia realizar quatro reuniões de consultas às
populações indígenas e ribeirinhas que ficarão sem acesso fluvial à Altamira. A
consultas também são uma condição para que a Funai faça um parecer que autorize
ou não a conclusão do barramento, a ser apresentado ao órgão ambiental.
A primeira reunião foi
programada para esta segunda, 23, na aldeia Muratu, com a presença de indígenas
juruna da Terra Indígena Paquiçamba e dos arara da aldeia Arara da Volta
Grande. De acordo com o Ministério Público Federal, que esteve presente, logo
no início das explanações os indígenas já manifestaram desacordo com o
processo, uma vez que as explicações dos engenheiros eram extremamente técnicas
e de impossível compreensão.
“Havia também um clima de
completa descrença dos índios na empresa, uma vez que nenhuma das
condicionantes que a Norte Energia deveria ter realizado para minimizar os
impactos das obras nas aldeias foi cumprida até agora”, explica a procuradora
do MPF Thais Santi. “A uma certa altura, os próprios engenheiros reconheceram
que a reunião era absurda, que aquilo não era oitiva, que a Funai não poderia
considerar a reunião como tal, e que o projeto técnico que estavam apresentando
não fazia nenhum sentido”, diz a procuradora.
Na manhã desta terça, 24,
após o pernoite dos engenheiros na aldeia, os indígenas comunicaram à equipe
que eles estariam detidos e não poderiam deixar o local até que algumas
demandas fossem atendidas pela Norte Energia. “Ninguém entendeu nada do
que os técnicos falavam, e eles mesmo não tinham nenhuma resposta às nossas
perguntas”, explica Giliarde Juruna, liderança da TI Paquiçamba. “Não souberam
falar como ficará o banzeiro do rio, como nós vamos navegar, e nem o que tinha
mudado no projeto desde a primeira versão que eles apresentaram no ano passado.
E no final os engenheiros falaram que a gente estava certo mesmo. Mas nós não
vamos dar moleza não. Hoje a voadeira que foi lelevar comida pra eles ficou
detida, e quem for pra aldeia, vai ficar. Só vamos liberar a imprensa”, afirma
Giliarde.
Antecedentes
Os grupos indígenas que deveriam ser consultados sobre o barramento do rio esta semana foram os mesmos que ocuparam a ensecadeira de Pimental por 21 dias a partir do final de junho, para cobrar o cumprimento das condicionantes indígenas. A falta de qualquer resposta da empresa ao documento encaminhado à direção da Norte Energia após o processo de negociação da desocupação da ensecadeira contribuiu para a descrença generalizada nas promessas e propostas do consórcio, afirmaram os indígenas. “Passaram 20 dias desde a última reunião e a Norte Energia não fez absolutamente nada”, diz Giliarde.
Os grupos indígenas que deveriam ser consultados sobre o barramento do rio esta semana foram os mesmos que ocuparam a ensecadeira de Pimental por 21 dias a partir do final de junho, para cobrar o cumprimento das condicionantes indígenas. A falta de qualquer resposta da empresa ao documento encaminhado à direção da Norte Energia após o processo de negociação da desocupação da ensecadeira contribuiu para a descrença generalizada nas promessas e propostas do consórcio, afirmaram os indígenas. “Passaram 20 dias desde a última reunião e a Norte Energia não fez absolutamente nada”, diz Giliarde.
Segundo ele, os três
engenheiros da empresa só serão liberados diante do atendimento das
seguintes demandas:
- Suspensão das reuniões
sobre o mecanismo de transposição;
- Compromisso do IBAMA e da FUNAI de que a obra no rio não será liberada enquanto não houver clareza e segurança sobre a transposição, enquanto não forem concluídas as estradas de acesso às aldeias e enquanto não forem cumpridas as condicionantes que estão pendentes;
- Reabertura das negociações com a Norte Energia acerca dos compromissos assumidos pelo presidente de empresa, Carlos Nascimento, após a desocupação da ensecadeira em meados de julho. Nascimento teria pedido um “voto de confiança” e se comprometeu a retornar a Altamira no último dia 16 para retomar as negociações, mas não compareceu;
- Conclusão do sistema de abastecimento de água nas aldeias das Terras Indígenas afetadas, que não têm poço e usam a água do rio. Quando começou a intervenção no Xingu em janeiro de 2012, os índios denunciaram ao MPF que a qualidade da água estava afetada, foi feita uma vistoria em fevereiro deste ano e a Norte Energia assumiu o compromisso de resolver o problema, o que não ocorreu. De acordo com os índios, os poços começaram a ser feitos mas, depois de três meses, ainda não foram concluídos;
- Definição sobre a ampliação/revisão da TI Paquiçamba.
MPF pediu cancelamento da licença de instalação de Belo
Monte
Em função do não cumprimento das condicionantes de Belo Monte pela Norte Energia, nesta segunda o Ministério Público Federal entrou na Justiça com uma medida cautelar exigindo o cancelamento da licença da usina. De acordo com o MPF, informações do prórpio Ibama, da prefeitura de Altamira e de lideranças locais mostram que iniciativas obrigatórias estão há um ano sem sair do papel.
Em função do não cumprimento das condicionantes de Belo Monte pela Norte Energia, nesta segunda o Ministério Público Federal entrou na Justiça com uma medida cautelar exigindo o cancelamento da licença da usina. De acordo com o MPF, informações do prórpio Ibama, da prefeitura de Altamira e de lideranças locais mostram que iniciativas obrigatórias estão há um ano sem sair do papel.
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Fonte: Xingu Vivo