O depoimento de um policial federal, lavrado em
cartório de Belém, tem todos os ingredientes necessários para provocar a
reabertura do processo judicial do assassinato, em fevereiro de 2005, da
missionária norte-americana naturalizada brasileira, Dorothy Stang. O agente da
PF Fernando Luiz da Silva Raiol - que durante três meses foi designado pelo
Ministério da Justiça para fazer a segurança pessoal da missionária e depois
que ela foi morta participou das investigações para identificar os autores do
crime – confirmou declarações prestadas em entrevista concedida recentemente a
uma revista pelo intermediário do assassinato, Amair Feijoli da Cunha, o
“Tato”. Ele afirma que o revólver calibre 38, usado para matar com seis tiros a
missionária, foi a ele fornecido pelo delegado de Anapu à época, Marcelo Luz.
“A arma foi entregue em um posto de gasolina de Anapu”, garantiu Raiol ao Diário. A própria Polícia Federal não conseguiu descobrir, mesmo depois de exaustiva pesquisa, como o revólver, fabricado antes de 1997 pela empresa Taurus, acabou indo parar nas mãos de “Tato”, hoje um homem convertido à igreja evangélica e que se diz “arrependido” de fazer acusações contra inocentes. Ele se refere a Vitalmiro Bastos Moura, o “Bida”, a quem apontou como mandante do assassinato, desmentindo depois a própria versão.
Em outra declaração firmada em documento no cartório Queiroz Santos e cuja cópia o jornal teve acesso, Raiol relata que, durante o interrogatório de “Bida”, presenciou o momento em que o fazendeiro confirmou às autoridades que o delegado Marcelo Luz exigia de cada fazendeiro local a quantia de R$ 10 mil para garantir a segurança das fazendas contra invasores ligados a missionária.
Segundo o agente federal, o único que recusou a proposta de segurança foi “Bida”, uma vez que ele já tinha decisão judicial concedendo-lhe a reintegração de posse de uma área invadida por agricultores ligados a irmã Dorothy. Raiol conta ainda que no momento das declarações contra o delegado Marcelo Luz, feita pelo fazendeiro, o delegado Waldir Freire, que interrogava “Bida”, determinou a retirada imediata de Marcelo Luz da sala para preservá-lo, “fortalecendo o corporativismo existente”.
Ao mandar que o delegado deixasse a sala, de acordo com o agente, Freire teria prometido que as acusações de “Bida” contra Luz “seriam investigadas rigorosamente”. Ocorre, completa Raiol, que isso não foi devidamente apurado até a presente data. No depoimento, ele narra que todas as autoridades responsáveis pela investigação sabiam que Dorothy tinha sido assassinada no sábado pela manhã e que na segunda-feira foi decretada a prisão de um representante dos fazendeiros, sem até mesmo ter sido efetuado as prisões do intermediário e do executor do crime.
CONSÓRCIO
A denúncia informa que a equipe de investigações era sabedora de que o delegado Marcelo Luz não tinha naquela oportunidade indícios suficientes de autoria para fundamentar o pedido de prisão dos acusados, tendo em vista que apenas por intermédio do interrogatório dos foragidos poderia fazê-lo. Também declara que toda a equipe de investigação ficou ciente que o delegado optou pela prisão de um dos fazendeiros, no caso “Bida”, somente para desviar a possibilidade de o próprio delegado ser envolvido no crime por ter fornecido a arma.
“A prisão de um dos fazendeiros iria justificar o assassinato da missionária, em que pese a ação e postura da vítima frontalmente colidir com as dos fazendeiros, pois esses teriam motivos para assassiná-la”, destaca o agente. De acordo com ele, o consórcio tão mencionado não diz respeito a fazendeiros reunidos em prol de assassinar a freira, mas em prol de financiar a proteção corrupta do delegado local. Além disso, denuncia, houve um acordo entre as autoridades investigativas do caso para culpar os fazendeiros e não comprometer o delegado.
Polícia investigará nova denúncia
O delegado-geral da Polícia Civil, Nilton Atayde, procurado pelo Diário, foi informado e recebeu cópia das declarações do agente federal. Ele anunciou que irá determinar a abertura de inquérito para apurar as acusações. Ele disse que os fatos narrados precisam ser esclarecidos pelas pessoas envolvidas. “É preciso verificar se houve apuração à época dessas denúncias e qual o resultado. Se não houve, isso terá que ser feito”, resumiu o chefe da polícia paraense.
Para o procurador da República, Felício Pontes Júnior, que acompanhou a apuração do crime e a condenação dos denunciados pelo Ministério Público, o depoimento do agente “é bombástico” e enseja uma apuração rigorosa que esclareça fatos que surgiram sobre a existência de um consórcio de poderosos interesses na morte da missionária.
Felício também entende que os fatos agora revelados poderiam ser suficientes para reabrir o caso. Ele relembra que Dorothy esteve na polícia por diversas vezes, denunciando as ameaças que sofria, mas nenhuma providência foi tomada.
O coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Belém, Paulo Joanil da Silva, o padre Paulinho, acredita que o depoimento de Fernando Raiol é muito importante e pertinente. “O povo espera, a sociedade espera os fatos novos que nunca vieram, mas que agora estão vindo à tona”, afirmou. Para ele, tudo deve ser apurado pelas autoridades em um novo inquérito que esclareça os fatos que estão surgindo. O jornalismo investigativo, na avaliação do padre, deve contribuir para “combater a impunidade” no Pará.
“É mentira o que estão dizendo”
Lotado atualmente em Viseu, na região nordeste do Estado, o delegado Marcelo Luz, que sempre foi arredio a jornalistas, rebate, nessa entrevista ao DIÁRIO, as acusações de “Tato” e Raiol, de que teria fornecido a arma com a qual Rayfran Sales, o “Fogoió”, matou a missionária Dorothy Stang. Além disso, nega ter pedido propina de R$ 10 mil a cada fazendeiro de Anapu, afirmando que quem fazia isso era outro delegado. “Agora não existem reclamações contra esse PM. e ele pegava propina antes de eu chegar. Eu cheguei em Anapu em outubro de 2004”, acusa Luz.
Pergunta - Delegado, o que o sr. tem a dizer sobre as acusações de que entregou ao Amair Feijoli da Cunha, o “Tato” , a arma que matou a irmã Dorothy?
Resposta - Isso aí é mentira. Na época, inclusive, seja Polícia Federal, Polícia Civil, Inteligência, Corregedoria, tudo quanto foi polícia especializada, investigou isso. É mentira o que eles estão dizendo.
P - Mas o agente da PF, Fernando Raiol, que estava na região na época do crime, diz que o sr. entregou a arma ao “Tato” no posto de gasolina da cidade de Anapu.
R- É mentira, ele está dizendo isso para proteger alguma coisa. É alguma jogada dele.
P- E no caso da denúncia de que o sr. cobrava propina dos fazendeiros de Anapu para proteger as terras deles contra o pessoal da missionária?
R- Isso é mentira. Eu não tinha nenhum contato. Na delegacia era só eu, um escrivão e um investigador. A gente mal tinha tempo para tomar conta da cidade, imagina dar proteção aos fazendeiros. Como é que com três pessoas eu podia dar proteção, numa região imensa e perigosa? Quem precisava de proteção éramos nós. Essas acusações são todas mentirosas.
P- É verdade que durante o depoimento do “Bida”, no dia em que ele foi preso, o delegado que presidia o inquérito, Waldir Freire, mandou que o sr. saísse da sala para protegê-lo em razão das acusações de cobrança de propina?
R- Isso não aconteceu. Existem procedimentos nos autos, antes mesmo da morte da irmã Dorothy, de ameaças do “Tato” e seus capangas contra a irmã Dorothy. Isso foi feito e encaminhado para o fórum da comarca de Pacajá. Inclusive, na época, o Rayfran e o Clodoaldo, citados nesses procedimentos, deram nomes errados. Fui eu que fiz esses procedimentos e mandei para Pacajá. Jamais tive envolvimento com os fazendeiros, se tivesse não teria feito os procedimentos contra o “Tato” e os pistoleiros.
P- Se esse caso for reaberto, o sr. estaria disposto a contar tudo o que sabe, para esclarecer de uma vez por todas as dúvidas que sempre surgem, envolvendo seu nome e um possível consórcio de fazendeiros para matar a Dorothy?
R- Com certeza, eu quero esclarecer. Tenho provas das ações que tomei. Quando recebia denúncias de ameaças, imediatamente tomava as providências.
P- A missionária denunciou várias vezes que pedia ajuda da polícia para ir às terras do PSD ver o que os fazendeiros estavam fazendo, mas o sr. recusava os pedidos.
R- Isso não é verdade. Eu sempre fazia trabalho de policial civil, trabalho investigativo. Não é papel da Polícia Civil entrar em áreas de conflito agrário. Nosso papel era apenas apurar os fatos que surgiam. A gente ficava até sem carro para o trabalho. O carro estava sempre no conserto. Na quinta-feira, antes da morte da irmã Dorothy, o carro tinha ido para Belém para fazer a revisão. Ela foi morta no sábado.
P- A irmã Dorothy foi indiciada em um homicídio em conflito de terra pela Polícia Civil.
R- Não fui eu quem indiciei a irmã Dorothy, foi o delegado P.M. Agora não existem reclamações contra esse delegado e ele pegava propina antes de eu chegar. Eu cheguei a Anapu em outubro de 2004.
P- Já havia reclamações de que o delegado pegava propina antes de o sr. chegar ao município? Por que o sr. não pediu providências para que isso fosse apurado?
R - Eu não vou entrar em detalhes, porque quem tem que ver isso é a corregedoria. Inclusive tem uma fazenda lá onde mataram vários trabalhadores. Alguma coisa houve que não puderam explicar e pegaram uma propina muito alta. Eu sabia dessa situação por alto, mas não entramos em detalhes.
Relembre
O CRIME
Dorothy Mae Stang, de 73 anos, missionária norte-americana naturalizada brasileira, foi morta com seis tiros por Rayfran das Neves Sales, o “Fogoió”, no dia 12 de fevereiro de 2005, em Anapu, no centro do Pará.
O MOTIVO
A missionária contrariava interesses de grandes fazendeiros ao defender uma vida digna, com geração de emprego, renda e preservação da floresta, em terras da União Federal, para famílias de agricultores envolvidas em um projeto de desenvolvimento sustentado conhecido por PDS.
“A arma foi entregue em um posto de gasolina de Anapu”, garantiu Raiol ao Diário. A própria Polícia Federal não conseguiu descobrir, mesmo depois de exaustiva pesquisa, como o revólver, fabricado antes de 1997 pela empresa Taurus, acabou indo parar nas mãos de “Tato”, hoje um homem convertido à igreja evangélica e que se diz “arrependido” de fazer acusações contra inocentes. Ele se refere a Vitalmiro Bastos Moura, o “Bida”, a quem apontou como mandante do assassinato, desmentindo depois a própria versão.
Em outra declaração firmada em documento no cartório Queiroz Santos e cuja cópia o jornal teve acesso, Raiol relata que, durante o interrogatório de “Bida”, presenciou o momento em que o fazendeiro confirmou às autoridades que o delegado Marcelo Luz exigia de cada fazendeiro local a quantia de R$ 10 mil para garantir a segurança das fazendas contra invasores ligados a missionária.
Segundo o agente federal, o único que recusou a proposta de segurança foi “Bida”, uma vez que ele já tinha decisão judicial concedendo-lhe a reintegração de posse de uma área invadida por agricultores ligados a irmã Dorothy. Raiol conta ainda que no momento das declarações contra o delegado Marcelo Luz, feita pelo fazendeiro, o delegado Waldir Freire, que interrogava “Bida”, determinou a retirada imediata de Marcelo Luz da sala para preservá-lo, “fortalecendo o corporativismo existente”.
Ao mandar que o delegado deixasse a sala, de acordo com o agente, Freire teria prometido que as acusações de “Bida” contra Luz “seriam investigadas rigorosamente”. Ocorre, completa Raiol, que isso não foi devidamente apurado até a presente data. No depoimento, ele narra que todas as autoridades responsáveis pela investigação sabiam que Dorothy tinha sido assassinada no sábado pela manhã e que na segunda-feira foi decretada a prisão de um representante dos fazendeiros, sem até mesmo ter sido efetuado as prisões do intermediário e do executor do crime.
CONSÓRCIO
A denúncia informa que a equipe de investigações era sabedora de que o delegado Marcelo Luz não tinha naquela oportunidade indícios suficientes de autoria para fundamentar o pedido de prisão dos acusados, tendo em vista que apenas por intermédio do interrogatório dos foragidos poderia fazê-lo. Também declara que toda a equipe de investigação ficou ciente que o delegado optou pela prisão de um dos fazendeiros, no caso “Bida”, somente para desviar a possibilidade de o próprio delegado ser envolvido no crime por ter fornecido a arma.
“A prisão de um dos fazendeiros iria justificar o assassinato da missionária, em que pese a ação e postura da vítima frontalmente colidir com as dos fazendeiros, pois esses teriam motivos para assassiná-la”, destaca o agente. De acordo com ele, o consórcio tão mencionado não diz respeito a fazendeiros reunidos em prol de assassinar a freira, mas em prol de financiar a proteção corrupta do delegado local. Além disso, denuncia, houve um acordo entre as autoridades investigativas do caso para culpar os fazendeiros e não comprometer o delegado.
Polícia investigará nova denúncia
O delegado-geral da Polícia Civil, Nilton Atayde, procurado pelo Diário, foi informado e recebeu cópia das declarações do agente federal. Ele anunciou que irá determinar a abertura de inquérito para apurar as acusações. Ele disse que os fatos narrados precisam ser esclarecidos pelas pessoas envolvidas. “É preciso verificar se houve apuração à época dessas denúncias e qual o resultado. Se não houve, isso terá que ser feito”, resumiu o chefe da polícia paraense.
Para o procurador da República, Felício Pontes Júnior, que acompanhou a apuração do crime e a condenação dos denunciados pelo Ministério Público, o depoimento do agente “é bombástico” e enseja uma apuração rigorosa que esclareça fatos que surgiram sobre a existência de um consórcio de poderosos interesses na morte da missionária.
Felício também entende que os fatos agora revelados poderiam ser suficientes para reabrir o caso. Ele relembra que Dorothy esteve na polícia por diversas vezes, denunciando as ameaças que sofria, mas nenhuma providência foi tomada.
O coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Belém, Paulo Joanil da Silva, o padre Paulinho, acredita que o depoimento de Fernando Raiol é muito importante e pertinente. “O povo espera, a sociedade espera os fatos novos que nunca vieram, mas que agora estão vindo à tona”, afirmou. Para ele, tudo deve ser apurado pelas autoridades em um novo inquérito que esclareça os fatos que estão surgindo. O jornalismo investigativo, na avaliação do padre, deve contribuir para “combater a impunidade” no Pará.
“É mentira o que estão dizendo”
Lotado atualmente em Viseu, na região nordeste do Estado, o delegado Marcelo Luz, que sempre foi arredio a jornalistas, rebate, nessa entrevista ao DIÁRIO, as acusações de “Tato” e Raiol, de que teria fornecido a arma com a qual Rayfran Sales, o “Fogoió”, matou a missionária Dorothy Stang. Além disso, nega ter pedido propina de R$ 10 mil a cada fazendeiro de Anapu, afirmando que quem fazia isso era outro delegado. “Agora não existem reclamações contra esse PM. e ele pegava propina antes de eu chegar. Eu cheguei em Anapu em outubro de 2004”, acusa Luz.
Pergunta - Delegado, o que o sr. tem a dizer sobre as acusações de que entregou ao Amair Feijoli da Cunha, o “Tato” , a arma que matou a irmã Dorothy?
Resposta - Isso aí é mentira. Na época, inclusive, seja Polícia Federal, Polícia Civil, Inteligência, Corregedoria, tudo quanto foi polícia especializada, investigou isso. É mentira o que eles estão dizendo.
P - Mas o agente da PF, Fernando Raiol, que estava na região na época do crime, diz que o sr. entregou a arma ao “Tato” no posto de gasolina da cidade de Anapu.
R- É mentira, ele está dizendo isso para proteger alguma coisa. É alguma jogada dele.
P- E no caso da denúncia de que o sr. cobrava propina dos fazendeiros de Anapu para proteger as terras deles contra o pessoal da missionária?
R- Isso é mentira. Eu não tinha nenhum contato. Na delegacia era só eu, um escrivão e um investigador. A gente mal tinha tempo para tomar conta da cidade, imagina dar proteção aos fazendeiros. Como é que com três pessoas eu podia dar proteção, numa região imensa e perigosa? Quem precisava de proteção éramos nós. Essas acusações são todas mentirosas.
P- É verdade que durante o depoimento do “Bida”, no dia em que ele foi preso, o delegado que presidia o inquérito, Waldir Freire, mandou que o sr. saísse da sala para protegê-lo em razão das acusações de cobrança de propina?
R- Isso não aconteceu. Existem procedimentos nos autos, antes mesmo da morte da irmã Dorothy, de ameaças do “Tato” e seus capangas contra a irmã Dorothy. Isso foi feito e encaminhado para o fórum da comarca de Pacajá. Inclusive, na época, o Rayfran e o Clodoaldo, citados nesses procedimentos, deram nomes errados. Fui eu que fiz esses procedimentos e mandei para Pacajá. Jamais tive envolvimento com os fazendeiros, se tivesse não teria feito os procedimentos contra o “Tato” e os pistoleiros.
P- Se esse caso for reaberto, o sr. estaria disposto a contar tudo o que sabe, para esclarecer de uma vez por todas as dúvidas que sempre surgem, envolvendo seu nome e um possível consórcio de fazendeiros para matar a Dorothy?
R- Com certeza, eu quero esclarecer. Tenho provas das ações que tomei. Quando recebia denúncias de ameaças, imediatamente tomava as providências.
P- A missionária denunciou várias vezes que pedia ajuda da polícia para ir às terras do PSD ver o que os fazendeiros estavam fazendo, mas o sr. recusava os pedidos.
R- Isso não é verdade. Eu sempre fazia trabalho de policial civil, trabalho investigativo. Não é papel da Polícia Civil entrar em áreas de conflito agrário. Nosso papel era apenas apurar os fatos que surgiam. A gente ficava até sem carro para o trabalho. O carro estava sempre no conserto. Na quinta-feira, antes da morte da irmã Dorothy, o carro tinha ido para Belém para fazer a revisão. Ela foi morta no sábado.
P- A irmã Dorothy foi indiciada em um homicídio em conflito de terra pela Polícia Civil.
R- Não fui eu quem indiciei a irmã Dorothy, foi o delegado P.M. Agora não existem reclamações contra esse delegado e ele pegava propina antes de eu chegar. Eu cheguei a Anapu em outubro de 2004.
P- Já havia reclamações de que o delegado pegava propina antes de o sr. chegar ao município? Por que o sr. não pediu providências para que isso fosse apurado?
R - Eu não vou entrar em detalhes, porque quem tem que ver isso é a corregedoria. Inclusive tem uma fazenda lá onde mataram vários trabalhadores. Alguma coisa houve que não puderam explicar e pegaram uma propina muito alta. Eu sabia dessa situação por alto, mas não entramos em detalhes.
Relembre
O CRIME
Dorothy Mae Stang, de 73 anos, missionária norte-americana naturalizada brasileira, foi morta com seis tiros por Rayfran das Neves Sales, o “Fogoió”, no dia 12 de fevereiro de 2005, em Anapu, no centro do Pará.
O MOTIVO
A missionária contrariava interesses de grandes fazendeiros ao defender uma vida digna, com geração de emprego, renda e preservação da floresta, em terras da União Federal, para famílias de agricultores envolvidas em um projeto de desenvolvimento sustentado conhecido por PDS.
Fonte: Diário do Pará