Nós
ocupamos por 8 dias o principal canteiro de obras da usina hidrelétrica Belo
Monte. Queremos a consulta prévia e a suspensão de obras e estudos das
barragens nos rios Xingu, Tapajós e Teles Pires, sobre as quais não fomos
consultados.
Nós
fomos retirados ontem do canteiro por uma decisão judicial.
Durante
a ocupação, vocês barraram pessoas, censuraram jornalistas, impediram
advogados, não deixaram entrar carvão para cozinhar nossa comida. Carros com
agentes de saúde fora bloqueados, tiveram que entrar a pé. Vocês não nos
deixaram montar nosso rádio para falarmos com nossos parentes, e nossas
famílias ficaram preocupadas.
Vocês
nos sitiaram com a Polícia Militar, Rotam, Tropa de Choque, Força Nacional,
Polícia Federal, Polícia Civil, Exército e Polícia Rodoviária Federal o tempo
todo. Gerentes e chefes da Norte Energia e Consórcio Construtor Belo Monte nos
assediavam, intimidavam e pressionavam.
Vocês
tentaram nos sufocaram com mentiras na imprensa, com telefonemas pressionando e
intimidando parceiros e jornalistas. Como sempre, vocês pressionaram e
manipularam parentes nossos, tentando nos colocar um contra os outros.
Nós
sentimos medo do que poderia acontecer, já que a delegada-chefe da Polícia
Federal (responsável pelo relatório no qual foi baseada a decisão horrível da
desembargadora Selene Almeida) é esposa do advogado da Norte Energia, autor da
ação que queria nos retirar de lá.
Nós
fomos retirados à força do canteiro. Uma força maior ainda que a das armas do
seu exército. A reintegração não foi suspensa. A Justiça deu 24 horas para
sairmos do canteiro, e só soubemos disso quando chegamos em Altamira,
escoltados pela Polícia Federal.
Nossa
saída foi pacífica porque nós decidimos que ela fosse pacífica. Ficou claro que
o governo faria o que fosse necessário fazer com a gente para nós sairmos.
Saímos porque fomos obrigados. Nós esperamos uma semana a chegada do governo, e
nada. Entendemos, então, que ele não iria vir de qualquer jeito – mas ia
continuar mandando policiais. Nós víamos os policiais cantando pneu coçando
suas armas e bombas e escudos na nossa frente. Sabemos o que isso significa.
Nós
saímos insatisfeitos.
Vocês
tentaram forçar nossa pauta como sendo apenas sobre uma hidrelétrica no rio
Tapajós. Nossa luta se refere a uma dúzia de barragens nos três rios, e ela não
acabou porque fomos retirados do canteiro.
Nossa
luta está recomeçando, e isso é uma vitória. Uma vitória que é só nossa – não é
da Justiça e nem do governo. O governo não sabe governar indígenas. As coisas
estão ruins no Brasil. Nós vamos mudar isso.
Altamira, 10 de maio de 2013
Veja vídeo da saída dos
indígenas: