Oswaldo
Braga de Souza*
Homologação de área com mais de um milhão de hectares era esperada há 20 anos. TI deverá ser impactada por conjunto de hidrelétricas previstas para a Bacia do Rio Tapajós, entre o Mato Grosso e Pará
O decreto de
homologação da TI (Terra Indígena) Kayabi, com pouco mais de um milhão de
hectares, foi publicado no Diário Oficial de quinta (25/4). A área fica nos
municípios de Apiacás (MT) e Jacareacanga (PA) (clique no mapa abaixo para
ampliar) e é de posse dos povos Kaiabi, Munduruku e Apiakás (saiba mais).
Essa
é a primeira homologação assinada pela presidenta Dilma Rousseff em 2013. No
Dia do Índio (19/4), o governo anunciou a declaração de três TIs, mas nenhuma
homologação (saiba mais). Em 2011, Dilma havia
homologado apenas 21 mil hectares e, em 2012, 950 mil hectares (veja tabela).
A
declaração, assinada pelo ministro da Justiça, e a homologação, pela
Presidência da República, são, respectivamente, a penúltima e a última etapa do
processo de oficialização de TIs.
A
homologação atende reivindicação feita, no início do ano, pelos índios
Munduruku em carta enviada à Dilma. A conclusão do processo de reconhecimento
da área era esperada há mais de 20 anos.
A
TI é um dos focos de atrito envolvendo comunidades indígenas contrárias à
implantação de projetos hidrelétricos do governo federal. Há pelo menos cinco
previstos no Rio Teles Pires, que banha a TI (dois deles já em construção).
Outra usina está prevista para o Rio Apiacás, afluente do Teles Pires.
Em
outubro de 2011, lideranças Kaiabi, Apiacá e Munduruku decidiram pressionar o governo
para ouvi-los sobre as usinas e para que o processo de demarcação avançasse.
Eles prenderam funcionários da Funai, técnicos da EPE (Empresa de Pesquisa
Energética) e o antropólogo responsável pelo Estudo de Impacto Ambiental da
hidrelétrica São Manoel (leia mais).
Para
toda a Bacia do Rio Tapajós, o plano é instalar um total de 16 barragens. Devem
ser impactados mais de 10 mil indígenas que vivem às margens dos rios da região
e dependem deles para sobreviver nas TIs Munduruku, Kayabi e Sai Cinza.
O
governo pretende incluir a hidrelétrica de São Manoel, com 700 MW de potência
instalada, no leilão de energia que deve ocorrer em dezembro. O local previsto
fica na fronteira da TI e a poucos quilômetros de algumas aldeias. O projeto é
alvo de uma batalha judicial (veja aqui).
*Fonte:
ISA