Cerca de 170 indígenas
voltaram a ocupar, na madrugada desta segunda-feira (27), o principal canteiro
de obras da Usina Hidrelétrica Belo Monte, em Vitória do Xingu, no sudoeste do
Pará. A
reivindicação central é a de que as obras da usina hidrelétrica de Belo Monte e
os estudos para a construção das usinas no Rio Tapajós sejam suspensos até que
as consultas prévias aos povos indígenas sejam realizadas. Neste momento os
indígenas estão concluindo uma carta em que explicitarão com mais detalhes os
motivos e as demandas do grupo, formado por indígenas Xypaia e Arara, que moram
na Volta Grande do Xingu, além de representantes das etnias Kayapó, Munduruku e
Tupinambá.
Eles afirmam que estes
mega projetos de geração de energia causam graves impactos ambientais e sociais
e destroem o modo de vida dos povos e das comunidades tradicionais da região.
Se efetivada, a construção de Belo Monte, por exemplo, secará 100 quilômetros
do rio na Volta Grande do Xingu. No caso da construção das hidrelétricas
planejadas pelo governo para o Rio Tapajós, as milenares aldeias Munduruku,
situadas às margens do rio ficariam totalmente inundadas.
Esta é a segunda ocupação
realizada nas obras de Belo Monte em menos de um mês. No dia 2 de maio os
indígenas ocuparam o mesmo canteiro e permaneceram lá por oito dias. Os
indígenas afirmam que saíram pacificamente na última ocupação porque o governo
federal garantiu que haveria uma negociação, o que não aconteceu. Portanto,
desta vez, eles garantem que resistirão até que o governo federal, efetivamente,
converse com eles e atenda às suas reivindicações.
Os indígenas também
criticam a presença da Força Nacional na região com o objetivo de garantir
segurança e apoio para a realização dos estudos de impacto ambiental das usinas
no Tapajós.
Além dos policiais que já
estavam alojados dentro do canteiro de obras com o objetivo de garantir a
proteção de Belo Monte, outros contingentes da polícia estão chegando na
ocupação iniciada nesta madrugada.
Veja abaixo novo documento
da ocupação:
Carta no. 7: governo federal, nós voltamos
Nós somos indígenas
Munduruku, Xipaya, Kayapó, Arara e Tupinambá. Nós vivemos do rio e da floresta
e somos contra destruírem os dois. Vocês já nos conhecem,mas agora somos mais.
O seu governo disse que se
nós saíssemos do canteiro, nós seríamos ouvidos. Nós saímos pacificamente – e
evitamos que vocês passassem muita vergonha nos tirando à força daqui. Mesmo
assim, nós não fomos atendidos. O governo não nos recebeu. Nós chamamos pelo
ministro Gilberto Carvalho e ele não veio.
Esperar e chamar não
servem para nada. Então nós ocupamos mais uma vez o seu canteiro de obras. Não
queríamos estar de volta no seu deserto de buracos e concreto. Não temos nenhum
prazer em sair das nossas casas nas nossas terras e pendurar redes nos seus prédios.
Mas, como não vir? Se não viermos, nós vamos perder nossa terra.
Nós queremos a suspensão
dos estudos e da construção das barragens que inundam os nossos territórios,
que cortam a floresta no meio, que matam os peixes e espantam os animais, que
abrem o rio e a terra para a mineração devoradora. Que trazem mais empresas,
mais madeireiros, mais conflitos, mais prostituição, mais drogas, mais doenças,
mais violência.
Nós exigimos sermos
consultados previamente sobre essas construções, porque é um direito nosso
garantido pela Constituição e por tratados internacionais. Isso não foi feito
aqui em Belo Monte, não foi feito em Teles Pires e não está sendo feito no
Tapajós. Não é possível que todos vocês vão continuar repetindo que nós
indígenas fomos consultados. Todo mundo sabe que isso não é verdade.
A partir de agora o
governo tem que parar de dizer mentiras em notas e entrevistas. E de nos tratar
como crianças, ingênuas, tuteladas, irresponsáveis e manipuladas. Nós somos nós
e o governo precisa lidar com isso. E não minta para a imprensa que estamos
brigando com os trabalhadores: eles são solidários a nossa causa! Nós
escrevemos uma carta para eles ontem!.Aqui no canteiro nós jogamos bola juntos
todos os dias. Quando saímos da outra vez, uma trabalhadora a quem demos muitos
colares e pulseiras nos disse: “eu vou sentir saudades”.
Nós temos o apoio de
muitos parentes nessa luta. Temos o apoio dos indígenas de todo o Xingu. Temos
o apoio dos Kayapó. Nós temos o apoio dos Tupinambá. Dos Guajajara. Dos
Apinajé, dos Xerente, dos Krahô, Tapuia, Karajá-Xambioá, Krahô-Kanela,
Avá-Canoero, Javaé, Kanela do Tocantins e Guarani. E a lista está crescendo.
Temos o apoio de toda a sociedade nacional e internacional e isso também
incomoda bastante a vocês, que estão sozinhos com seus financiadores de
campanha e empresas interessadas em crateras e dinheiro.
Nós ocupamos de novo no
seu canteiro – e quantas vezes será preciso fazer isso até que a sua própria
lei seja cumprida? Quantos interditos proibitórios, multas e reintegrações de
posse vão custar até que nós sejamos ouvidos? Quantas balas de borracha, bombas
e sprays de pimenta vocês pretendem gastar até que vocês assumam que estão
errados? Ou vocês vão assassinar de novo? Quantos índios mais vocês vão matar
além de nosso parente Adenilson Munduruku, da aldeia Teles Pires, simplesmente
porque não queremos barragem?
E não mande a Força
Nacional para negociar por vocês. Venham vocês mesmos. Queremos que a Dilma
venha falar conosco.
Canteiro de obras Belo
Monte, Altamira, 27 de maio de 2013
Fonte: Movimento Xingu Vivo